Geral | 26/07/2013 22h42min
Welington de Melo, carioca de 23 anos, aguardava sua vez em um banco de madeira sem encosto, sentado ao lado dos outros quatro escolhidos para confidenciar seus pecados ao Papa. A 10 metros dali, no canto oposto da tenda, Francisco ergueu a mão direita em frente à testa, cumprimentando o quinteto, e se acomodou sorrindo no confessionário branco. Era tensa a espera de Welington - e piorou depois que o primeiro jovem dirigiu-se ao Pontífice.
O cuiabano Marco Antonio Amorim, 21 anos, fez o trivial para qualquer católico: ajoelhou-se atrás da parede que separa o sacerdote do penitente, mas o Papa ergueu-se do outro lado, fez a volta na cabine e trouxe Marco Antonio para a sua frente. Não havia divisória alguma entre os dois: era mais uma das frequentes quebras de protocolo do Pontífice argentino.
- Meus joelhos começaram a tremer assistindo àquilo - recorda Welington.
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Os outros três que aguardavam no banco de madeira - o cearense Renan Sousa, 22 anos, a italiana Claudia Giampietro, 27 anos, e a venezuelana Estefani Lescano, 21 anos - também se agitaram com a proximidade do Santo Padre com o primeiro penitente. Todos ali sabiam havia três meses que o Papa os receberia em reservado. Foram avisados pela organização da Jornada Mundial da Juventude por telefone, após serem sorteados entre 300 mil inscritos no evento.
Mas os cinco ganharam o mesmo alerta: se contassem para alguém, para qualquer pessoa que fosse, seriam eliminados e perderiam a glória de se confessar com o sumo sacerdote.
- Não contei nem para a minha mãe, nem para o meu pai - garante Welington, filho de uma dona de casa e de um pedreiro de Campo Grande, o bairro mais populoso do Rio.
Welington (E): "conselhos de valor indescritível"
Foto: Mauro Vieira, Agência RBS
No dia em que recebeu a ligação do padre Leonardo Lopes, membro do Comitê Organizador Local da Jornada, o rapaz soltou um berro na loja de materiais escolares onde trabalhava, foi cercado por colegas curiosos, mas pediu que, por favor, entendessem que a notícia era sensacional, mas impossível de revelar naquele momento. O padre explica o porquê do segredo tão inviolável:
- O sacramento da penitência é muito particular e sigiloso. Além disso, nós queríamos preservar a segurança desses jovens e evitar qualquer rivalidade com outros peregrinos.
Respeitando o rito secreto da confissão, nenhum dos cinco revelou quais pecados sussurraram ao Papa, nem informaram as penitências impostas pelo Pontífice. Mas Marco Antonio, o cuiabano, afirmou que a expiação “até que foi bem levezinha”. E Renan, o cearense, repetia o quanto era inabalável a atenção de Francisco durante os cinco minutos de tête-à-tête.
Quando enfim Welington deixou o banco de madeira e dirigiu-se ao confessionário, o nervosismo estranhamente sumiu.
- Me senti à vontade demais. O Papa olhou nos meus olhos o tempo inteiro e me deu conselhos de valor indescritível - relembra o carioca, cuja mãe só soube do encontro uma hora mais tarde, assistindo a uma entrevista do filho na TV.
ZERO HORA
Marco Antonio foi o primeiro a se confessar com Francisco no parque da Quinta da Boa Vista, no Rio
Foto:
Mauro Vieira
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