No pronunciamento em que encerrou a Via-Sacra — encenação levou milhares de peregrinos até a orla de Copacabana na noite desta sexta-feira —, o papa Francisco pediu que fiéis se lembrem das vítimas do incêndio da boate Kiss, em Santa Maria.

— Com a cruz, Jesus se une ao silêncio das vítimas da violência, que já não podem gritar. Sobretudo, os inocentes e os indefesos. Com a cruz, Jesus se une às famílias que se encontram em dificuldades e que choram a trágica perda de seus filhos, como no caso dos 242 jovens vítimas do incêndio na cidade de Santa Maria, no começo deste ano. Rezemos por eles — disse o Papa, antes de ser aplaudido pelos peregrinos.

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Em seu discurso, o Papa tratou de temas como a fome, a corrupção, a dependência química, e falou sobre o significado de um dos maiores símbolos da fé cristã.

— A Cruz de Cristo também nos convida a deixar-nos contagiar por este amor; ensina-nos, pois, a olhar sempre para o outro com misericórdia e amor, sobretudo quem sofre, quem tem necessidade de ajuda, quem espera uma palavra, um gesto; ensina-nos a sair de nós mesmos para ir ao encontro destas pessoas e lhes estender a mão —  afirmou.

O Pontífice ainda levantou três questões:

— Meus irmãos, ninguém pode tocar a cruz de Jesus sem deixar algo de si mesmo nela. E sempre se leva algo da cruz de Jesus para sua própria vida. Nesta tarde, queria que resoassem três perguntas no seu coração: o que vocês terão deixado na cruz, queridos jovens brasileiros, nestes dois anos em que ela atravessou seu imenso país? O que teria deixado a cruz de Jesus em cada um de vocês? O que esta cruz ensina para nossa vida?

O Papa também fez referência ao primeiro nome dado ao Brasil, "Terra de Santa Cruz".

— A cruz de Cristo foi plantada não só na praia, há mais de cinco séculos, mas também na história, no coração e na vida do povo brasileiro e muitos outros povos. O Cristo sofredor, o sentimos próximo, como um de nós que compartilha o nosso caminho até o final. Não há cruz, pequena ou grande, da nossa vida que o Senhor não compartilhe conosco — disse o papa. 

Depois de rezar a oração do "Pai Nosso" em latim, o Pontífice concluiu a cerimônia de Via-Crúcis e foi aplaudido pelos milhares de fiéis em Copacabana.

Via-Sacra trouxe cores e emoção à Copacabana

A encenação da Via-Sacra trouxe cores à orla e Copacabana e emocionou os milhares de fiéis que acompanharam a apresentação que, em quase duas horas, percorreu um trecho de 900 metros da Avenida Atlântica, no Rio de Janeiro.

A representação da Paixão de Cristo começou por volta das 18h com a chegada do papa Francisco ao palco principal (instalado próximo à Praia do Leme). Sobre o altar, que tem 8m de altura em relação ao nível do chão, o Pontífice acompanhou as representações das 14 estações do cortejo.

Um dos momentos mais emocionantes da Via-Sacra foi a entrada da atriz Cássia Kiss, representando a mãe de Jesus. Nesta quarta estação ("Jesus encontra sua mãe"), um grupo de mulheres com crianças entre dois e cinco anos entraram no palco. Voluntários fizeram uma homenagem às mães.

Durante a passagem da cruz pelas estações, trechos da Bíblia eram lidos e voluntários faziam meditações de temas que iam desde a lembrança aos jovens dependentes químicos até o uso de redes sociais.

Nos palcos montados para a encenação de cada estapa da Via-Sacra, elevadores, telões de LED e passagens secretas deram o toque de espetáculo à cerimônia, que foi uma das mais aguardadas pelos fiéis que participam da Jornada Mundial da Juventude.

A parte cênica foi dirigida por Ulysses Cruz, diretor de teatro com passagens pelo programa Criança Esperança, da Rede Globo. Cerca de 400 voluntários participaram da encenação. Atores como Narjara Tureta e Eriberto Leão, a cantora Elba Ramalho e a apresentadora Ana Maria Braga também atuaram.

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