Geral | 25/07/2013 22h50min
Os gastos com a vinda do Papa ao Brasil deverão gerar novos protestos, nesta sexta-feira, no Rio. Depois das manifestações de segunda-feira, uma nova polêmica em torno da ação da polícia ganhou espaço nas redes sociais e na imprensa. Entre os temas que repercutem, estão a prisão de um manifestante nas imediações do Palácio Guanabara, a agressão a um fotógrafo e a acusação de que agentes da inteligência da PM, chamados de PM2, estariam infiltrados no movimento para incitar o tumulto.
As imagens vieram à tona depois que policiais militares, em depoimento à Polícia Civil, desmentiram a versão inicial da corporação de que Bruno Ferreira Teles, integrante do coletivo de mídia independente Ninja — Narrativas Independentes, Jornalismo e Ação, era o responsável por lançar a primeira bomba. O jovem foi perseguido, imobilizado com arma não letal e levado para a cadeia.
O coordenador da Comissão de Direitos Humanos da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) no Rio Grande do Sul, Rodrigo Puggina, lembra que nas manifestações em Porto Alegre também houve casos de pessoas detidas e liberadas por não haver materialidade no flagrante.
— É um reflexo da dificuldade que essa polícia militarizada tem para agir nessas situações. A prática de infiltrar agentes da PM2 também colabora para que se gere a discussão de até que ponto a polícia provocou o eventual embate ou se realmente acabou atuando depois de a manifestação perder o controle — observa Puggina.
O coronel da reserva da Brigada Militar Luiz Antônio Brenner Guimarães, integrante do Núcleo Violência, Segurança e Direitos Humanos da ONG Guayi, diz que a infiltração é uma técnica que a polícia usa no mundo todo para obter informações que ajudem a dimensionar a ação.
— Agora, quando há uma denúncia de que agentes foram colocados no meio do protesto para incitar a violência e, de certa forma, legitimar a ação violenta da polícia, estamos falando de outra coisa — pondera Guimarães.
Ele considera que, muitas vezes, é preciso usar a força para restabelecer a ordem. Mas admite que, recentemente, a polícia teve reação maior do que a do grupo que estava enfrentando.
— Temos um processo histórico de formação da polícia em que a violência sempre esteve muito presente, e isso ainda hoje tem reflexos. Cada caso precisa ser analisado — complementa.
Em nota, a PM do Rio negou a acusação de que policiais seriam autores do ataque à tropa. A Inteligência da PM carioca analisa imagens para identificar quem jogou a primeira bomba.
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Entenda o caso
- Bruno Ferreira Teles foi detido na segunda-feira, quando uma manifestação no Palácio da Guanabara terminou em confronto.
- Pelo Twitter, ainda na segunda-feira, a PM do Rio informou que o jovem foi preso por ter jogado as primeiras bombas na direção dos policiais. Uma mochila com bombas caseiras foi recolhida a 700 metros do local da prisão.
- Um vídeo mostra que, no momento da perseguição policial, Bruno está sem mochila. Quando ele é pego, uma arma de choque é usada pelos PMs para imobilizá-lo. Bruno desmaia e é arrastado pelos policiais. Quando consegue se levantar, um PM repete três vezes: "Ele que tacou o primeiro coquetel molotov".
- Em depoimento à Polícia Civil, um dos PMs que realizaram a prisão afirmou que um homem não identificado atirou o primeiro coquetel molotov contra os policiais e, em seguida, outra bomba foi acesa e entregue a Teles, que teria lançado o artefato contra os policiais.
- Bruno passou uma noite na cadeia e foi solto na terça-feira porque o juiz considerou não haver materialidade para o flagrante.
- O Ministério Público analisa o caso e deve se pronunciar a respeito até segunda-feira.
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