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Geral  | 24/07/2013 06h03min

Papa inaugura hoje ala para 80 dependentes químicos em instituição na zona norte do Rio

Paciente esculpiu cruz que enfeitará cadeira preparada para receber o Pontífice na cerimônia

Paulo Germano, Enviado Especial/Rio  |  paulo.germano@zerohora.com.br

Todo dia era a mesma reza no seminário — dezenas de jovens repetiam "ó providência, ó divina providência do altíssimo Deus; ó providência, ó divina providência do altíssimo Deus" —, até que um dos aspirantes a frei, com o violão no colo, decidiu transformar a oração em música.

O resultado, o Papa conhecerá hoje. Isaías Freitas, 21 anos, é um rapaz de voz mansa, tão sereno e samaritano que parece mais contente por saber que o Papa se sentará na cadeira construída por Antônio, ex-dependente químico que há sete anos largou o crack, do que pela própria glória em cantar para o Pontífice.

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Antônio Vera, 43 anos, tem em comum com Isaías a relação umbilical com São Francisco de Assis — santo que inspirou o nome do Papa e nomeia o hospital onde o Pontífice irá inaugurar, às 18h, uma ala para 80 dependentes de drogas no Rio. Anos atrás, enquanto Antônio enfrentava o horror da abstinência dedicando-se à marcenaria em uma filial do hospital, Isaías pressentia “o chamado de Deus” para ingressar na fraternidade franciscana.

— Me apaixonei pela forma como os freis levam esperança aos doentes — diz o rapaz.

— Descobri um talento enquanto me recuperava das drogas — devolve o marceneiro. 

— Fiz a cadeira do Papa com bancos velhos que não prestavam mais. A gente mantém a simplicidade que São Francisco nos ensinou.



O hospital na Tijuca vive dias de polvorosa: ontem, dezenas de freis e freiras, metidos em hábitos marrons, se protegiam da chuva debaixo de capuzes enquanto varriam o pátio em frente ao palco. No palco, o Papa se recostará na cadeira erguida por Antônio, após ter ouvido a música de Isaías na capela situada em frente, e receberá um presente das mãos de Carlos Francisco (outro) Britto, 15 anos.

Ele recebeu esse nome, claro, por causa do santo — seu pai livrou-se das drogas após um tratamento em outra comunidade franciscana, e quem trabalhou em seu parto foi um frei chamado Francisco.

Com a vida se endireitando, o marido largando as drogas, a mãe lhe imputou o nome santo.

Quinze anos depois, que presente ele dará ao Papa? O mais previsível, mas também o mais simbólico. Uma imagem de São Francisco de Assis, esculpida por outro ex-dependente químico recuperado pela associação que mantém o hospital.

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