Esportes | 06/02/2013 08h04min
Felipão voltou sorrindo. Aquele técnico às vezes casmurro, às vezes belicoso, às vezes até grosseiro, aquele técnico parece que não existe mais. Pelo menos por enquanto. Desde que chegou a Londres, Felipão parece leve, o que tem tornado leve o ambiente a sua volta. No aeroporto, não se importou com a espera na alfândega. Brincou quando o preparador de goleiros Carlos Pracidelli foi retido pela polícia.
— Tu vais ficar aí, Carlão — gritou, ao se despedir do auxiliar, que logo depois foi liberado.
Mais tarde, no Hotel Hilton de Wembley, onde está a delegação, Luiz Felipe fez questão de descer ao saguão e ficou cerca de duas horas conversando com os jornalistas brasileiros que estavam por lá. Ria, fazia piadas, não se incomodou com nenhuma pergunta.
Nessa terça, ao chegar à sala de conferências de Wembley para a coletiva pré-jogo, Luiz Felipe apresentou-se afônico, mas muito bem-humorado. No momento em que sua voz falhou pela primeira vez, olhou para Parreira e Murtosa, sentados num banquinho ao lado do palco, e fez o gesto clássico dos jogadores pedindo substituição.
— Parreira, vem! — chamou.
Parreira, que até um minuto antes bocejava, sorriu e fez que não com o indicador. Essa serenidade, aparentemente, está contagiando os jogadores brasileiros.
— Ontem (segunda) fizemos nossa primeira reunião com o grupo e fiquei maravilhado com o ambiente — disse Felipão. — É muito raro os jogadores ficarem meia hora conversando depois das refeições, como eles ficaram. Isso é muito bom.
De fato, quando os jogadores saíram dessa reunião, realizada no terceiro andar do Hilton, saíram rindo, falando alto, fazendo brincadeiras uns com os outros.
— Eles confiam muito no Felipe — atestou o preparador físico Paulo Paixão. — Porque eles olham para ele e veem um vencedor, um homem que já ganhou Copa, que sabe o caminho da vitória.
Foi mais ou menos o que Ronaldinho falou durante sua entrevista, na mesma sala de conferências de Wembley. Lembrou que já foi campeão do mundo com Felipão e que foi campeão da Copa das Confederações com Parreira.
— Eles sabem como vencer — observou.
Ramires foi mais longe. Contou que Felipão é seu ídolo e que sempre sonhou em jogar num time dirigido por ele. Quer dizer: pelo menos no clima, a Seleção já é outra, e o próprio Felipão reconhece que isso é fundamental.
— O time é mais ou menos o mesmo de antes, cerca de 70% desses jogadores já foram convocados. O que muda é a minha visão, a minha forma de agir — explicou.
Basta, agora, saber se a mudança se estenderá para dentro do gramado perfeito do histórico Wembley, na tarde desta quarta-feira, a partir das 17h30min, diante do English Team.
NOTAS
Promessa de surpresa
Felipão não confirmou o time. Ao contrário, advertiu que a imprensa "pode se surpreender" com a escalação, embora tenha ressaltado que isso não significa nada mais do que a circunstância do jogo (ele quer ganhar da Inglaterra como se valesse taça). Mesmo assim, pelo treino no Hive Football Center, à tarde, dá para se ter ideia de quem começa jogando — o novato Dante estaria na zaga. Seis jogadores devem ser substituídos no segundo tempo.
Interesse mundial
A coletiva de Felipão estava tomada de jornalistas de boa parte do mundo — 25 câmeras de TV e repórteres do Brasil, obviamente, da Inglaterra, também obviamente, mas também de Portugal, da Espanha e até do Japão.
Frio portoalegrense
O fevereiro inglês é frio, claro que é. Mas não está insuportavelmente frio. Não faz temperatura de Velha Álbion e sim do pior inverno porto-alegrense: três, quatro, cinco graus, vento gelado e dia cinzento. Nada bonito para quem saiu do Patropi no verão.
Ora, pois
Durante sua entrevista, Felipão demonstrou várias vezes o apreço que nutre pelos portugueses. Quando começaram as perguntas, fez questão de responder a um repórter da pátria-mãe.
— Pascoal — disse, a um jornalista brasileiro da Rádio Globo — deixa o outro perguntar, que ele é português.
Depois, citou Cristiano Ronaldo duas vezes: ao referir-se a ele como um dos melhores do mundo e ao lembrar que ele fazia aniversário nessa terça, junto com Neymar.
Espirituoso
Felipão estava tão bem-humorado que se permitiu tecer frases de efeito, o que não é do seu feitio. Uma delas, espirituosa, arrancou risos dos repórteres:
— Os últimos sempre serão os últimos.
Estilo Felipão.
Treino é jogo
Felipão e Paixão estão determinados a colocar na cabeça dos jogadores que as 13 partidas que faltam para a Seleção até a Copa não serão amistosos.
— É jogo, é jogo! — enfatizou Paixão. — Temos que aproveitar ao máximo essas oportunidades — completou Luiz Felipe.
Marin
O presidente da CBF, José Maria Marin, assistiu à entrevista de Ronaldinho e Julio César muito concentrado, no mesmo banco em que estavam Parreira e Murtosa. Ao sair da sala de conferências, disse que, em sua gestão, está decidido a valorizar o futebol brasileiro:
— É o nosso produto, é o melhor do mundo.
Aniversário
Os 21 aninhos de idade de Neymar foram comemorados com bolo e o indefectível canto de Parabéns a você pelos jogadores, de manhã. À tarde, a torcida no campo de treino também cantou parabéns, de longe, atrás da tela de proteção.
Espectador
Julio César por pouco não ficou só assistindo à entrevista de Ronaldinho. Quando os repórteres estrangeiros perguntaram, só um se dirigiu a ele. Os brasileiros foram mais equânimes: três apresentaram questões ao goleiro do Brasil.
Olha o que ele fez
Ronaldinho está completando nesta quarta-feira cem jogos com a Seleção Brasileira. Seu primeiro foi contra a Venezuela, em 1999, quando entrou no segundo tempo e marcou um golaço dando balãozinho no zagueiro dentro da área ("olha o que ele fez! olha o que ele fez!", gritava Galvão Bueno).
Nessa terça, no entanto, ele se confundiu. Achou que seu primeiro jogo havia sido, justamente, contra a Inglaterra, quando tinha 15 anos de idade e atuava pelas categorias de base da Seleção.
Ronaldinho continua sendo um astro na Europa. Ao sair do treinamento, teve de ser cercado pelos seguranças devido ao assédio dos torcedores ingleses. E brasileiros também, é evidente.
Homenagens
O lateral-esquerdo Ashley Cole e o meia Steven Gerrard serão homenageados antes do amistoso por terem chegado a cem partidas com a camisa da seleção inglesa.
Cole, confirmado como titular pelo técnico Roy Hodgson, disputará seu jogo de número 100 contra o Brasil de Luiz Felipe Scolari, que teve como técnico no Chelsea em 2008 e 2009.
Gerrard, capitão da equipe, alcançou esta marca no último amistoso, na derrota de 4 a 2 para a Suécia.
FICHA TÉCNICA
Inglaterra x Brasil — amistoso — 6 de fevereiro de 2013
Inglaterra: Hart; Johnson, Walker, Cahill e Cole; Wilshere, Gerrard, Walcott e Milner; Cleverley e Rooney. Técnico: Roy Hodgson.
Brasil: Julio César; Daniel Alves, David Luiz, Dante e Adriano; Paulinho, Ramires, Oscar e Ronaldinho; Neymar e Luís Fabiano. Técnico: Luiz Felipe Scolari.
Arbitragem: Pedro Proença (Portugal)
Horário: 17h30min (de Brasília)
O jogo no ar: A RBS TV e o SporTV transmitem ao vivo. A Rádio Gaúcha abre a jornada às 17h. Acompanhe o minuto a minuto em zerohora.com/jogoaovivo
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