Geral | 03/02/2013 19h39min
Especialista na técnica de respiração extracorpórea, o médico porto-alegrense Marcelo Cypel chegou esta tarde à Capital para avaliar pacientes com problemas causados pelo incêndio na boate Kiss, em Santa Maria.
Cypel, 36 anos, é diretor do Grupo de Suporte Pulmonar Extracorpóreo da Universidade de Toronto, no Canadá, e viajou atendendo a uma solicitação do Ministério da Saúde.
Cirurgião torácico formado na Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS), Cypel, que começa a trabalhar hoje mesmo, receberá o reforço de mais dois profissionais do Canadá nesta segunda-feira. A equipe avaliará casos de insuficiência pulmonar em hospitais de Porto Alegre para depois partir para Santa Maria. A técnica já é utilizada no Brasil, mas a instituição estrangeira é referência no tema em toda a América do Norte.
— É um pulmão artificial. Ele retira o sangue da pessoa, o sangue circula nessa máquina e depois volta para a pessoa. O pulmão do paciente pode descansar — explicou Cypel no Aeroporto Internacional Salgado Filho, onde foi recepcionado por jornalistas e familiares.
A respiração extracorpórea pode beneficiar doentes com infecções e traumatismos graves que estejam com os pulmões sobrecarregados pelo uso de respiradores artificiais. Quanto mais elevada a pressão exercida por um respirador, maiores são os riscos de lesões nos pulmões, que podem se tornar permanentes.
A técnica consiste em conectar ao paciente um artefato que cumpre, fora do corpo, o papel dos pulmões, possibilitando que os órgãos originais se recuperem. De acordo com Daniella Cunha Birriel, médica intensivista da UTI do Pavilhão Pereira Filho da Santa Casa, a pressão do respirador pode, assim, ser reduzida.
— Isso vai fornecer um descanso ao pulmão enquanto a máquina faz o trabalho maior. A ideia é que o pulmão fique "dormindo" para se recuperar — explica Daniella, também integrante da equipe de transplantes da instituição.
Nem todas as vítimas ligadas a respiradores artificiais necessitarão se submeter à respiração extracorpórea. Segundo Cypel, trata-se de um procedimento indicado apenas para uma minoria entre os feridos.
Como aconteceu
O incêndio na boate Kiss, no centro de Santa Maria, começou entre 2h e 3h da madrugada de domingo, quando a banda Gurizada Fandangueira, uma das atrações da noite, teria usado efeitos pirotécnicos durante a apresentação. O fogo teria iniciado na espuma do isolamento acústico, no teto da casa noturna.
Sem conseguir sair do estabelecimento, pelo menos 237 jovens morreram e outros 100 ficaram feridos. Sobreviventes dizem que seguranças pediram comanda para liberar a saída, e portas teriam sido bloqueadas por alguns minutos por funcionários.
A tragédia, que teve repercussão internacional, é considerada a maior da história do Rio Grande do Sul e o maior número de mortos nos últimos 50 anos no Brasil.
Em gráfico, entenda os eventos que originaram o fogo:
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A boate
Localizada na Rua Andradas, no centro da cidade de Santa Maria, a boate Kiss costumava sediar festas e shows para o público universitário da região. A casa noturna é distribuída em três ambientes - além da área principal, onde ficava o palco, tinha uma pista de dança e uma área vip. De acordo com a Polícia Civil, a danceteria estava com o plano de prevenção de incêndios vencido desde agosto de 2012.
Clique na imagem abaixo para ver o antes e o depois da danceteria:
A festa
Chamada de "Agromerados", a festa voltada para estudantes da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) começou às 23h de sábado. O evento era de acadêmicos dos cursos de Agronomia, Medicina Veterinária, Tecnologia de Alimentos, Zootecnia, Tecnologia em Agronegócio e Pedagogia.
Segundo informações do site da casa noturna, os ingressos custavam R$ 15 e as atrações eram as bandas "Gurizadas Fandangueira", "Pimenta e seus Comparsas", além dos DJs Bolinha, Sandro Cidade e Juliano Paim.
Marcelo Cypel irá avaliar pacientes com problemas causados pelo incêndio na boate Kiss
Foto:
Caco Konzen
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