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Polícia  | 07/12/2012 21h33min

Comissão da Verdade do RS investiga vida de coronel assassinado

Órgão rastreia relações de militar que chefiou o DOI-Codi do Rio com antigos colegas de caserna

Carlos Wagner  |  carlos.wagner@zerohora.com.br

A Comissão da Verdade do Rio Grande do Sul está investigando se o coronel reformado Julio Miguel Molinas Dias, 78 anos, mantinha ligações com os seus ex-colegas do Destacamento de Operações de Informações-Centro de Operações de Defesa (DOI-Codi), órgão que simbolizou a repressão do regime militar que governou o país de 1964 a 1985.

Molinas foi chefe do DOI-Codi do Rio de Janeiro em 1981, ano em que aconteceu o atentado do Riocentro. E, nas últimas três décadas, ele viveu com a família em Porto Alegre.

Na noite de 1º de novembro deste ano, o coronel reformado foi morto com vários tiros por uma dupla. Na casa do oficial, os agentes da Polícia Civil encontraram, em uma caixa de papelão, documentos secretos sobre o atentado do Riocentro e o desaparecimento, em 1971, do engenheiro, empresário e deputado federal cassado Rubens Paiva, um mistério que dura até os dias de hoje.

— Neste processo, a nossa parte é investigar se existia alguma ligação do coronel com o pessoal da época que possa nos levar a algum tipo de descoberta relevante para o caso — comentou o desembargador aposentado e advogado criminalista Aramis Nassif, da Comissão da Verdade gaúcha.

Coronel viveu à sombra da linha-dura do regime mililtar

A apuração policial praticamente já descartou a hipótese de que o crime tenha relação com o passado da vítima. A principal linha de investigação tem como foco um ataque de ladrões que estariam interessados na coleção de armas do coronel, afirma o delegado Luís Fernando Martins de Oliveira.

O inquérito policial soma mais de uma centena de páginas, e ainda existem muitas perguntas sem respostas. A principal delas refere-se ao fato de que, naquele noite, Molinas retornava de uma visita à casa de uma das filhas e trazia na carona do carro um dos bandidos. Como o bandido entrou no carro? Era um conhecido de Molinas? Ele rendeu o coronel em alguma esquina ou em frente à casa da filha?

Do crime às revelações

– O coronel reformado do Exército Julio Miguel Molinas Dias, 78 anos, foi assassinado, na noite de 1º de novembro de 2012, quando chegava de carro em casa, na Rua Professor Ulisses Cabral, em Porto Alegre

– Logo após o crime, veio a público que Molinas chefiava o Destacamento de Operações e Informações — Centro de Operações de Defesa Interna (DOI-Codi) do Rio durante o controvertido Caso Riocentro, em 1981, quanto um atentado frustrado resultou na morte de um sargento

– No dia 22 de novembro, ZH revela e transcreve o ofício que comprova que Rubens Paiva foi preso no DOI-Codi no Rio. O documento é o primeiro que esclarece parte do misterioso desaparecimento do ex-deputado, em 1971.

– Filha do deputado, a psicóloga Maria Beatriz Paiva Keller, 52 anos, recebeu em solenidade do Palácio Piratini, no dia 27 de novembro, os documentos encontrados na casa do coronel

Segredos do militar

Riocentro: A parte mais volumosa do dossiê de Molinas envolve o atentado a bomba no Riocentro, em 1981, no Rio. Um sargento do Exército morre e um capitão fica ferido, com uma explosão, dentro do veículo em que estavam. Os dois trabalhavam no DOI-Codi, sob ordens do coronel. A versão oficial do Exército é que a esquerda teria preparado os atentados, mas papéis que Molinas guardava indicam que o DOI-Codi maquiou o cenário para fazer as explosões parecerem obra de guerrilheiros esquerdistas.

Rubens Paiva: Molinas guardava em casa a prova material de que o deputado federal cassado Rubens Paiva, em janeiro de 1971, deu entrada no DOI-Codi — e não desapareceu, como era até então a versão oficial do fato. Esse registro oficial, revelado por ZH, é uma folha de ofício amarelada, denominada "Turma de Recebimento", que contém informações sobre a equipe da Aeronáutica que o trouxe e uma relação de papéis, pertences pessoais e valores em dinheiro encontrados com o ex-deputado.

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