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Política  | 23/06/2012 16h19min

O advogado especialista em crises, política, celebridades e mídia

Demóstenes Torres e Carolina Dieckmann são alguns dos clientes de Antonio Carlos de Almeida Castro

Fábio Schaffner e Klécio Santos/Brasília  |  fabio.schaffner@gruporbs.com.br e klecio.santos@gruporbs.com.br

Um enorme rinoceronte esculpido em bronze guarnece a porta de entrada, um colosso de 6,78 metros em madeira de demolição, cujo puxador é um trilho de trem.

Tudo é superlativo na casa de Antonio Carlos de Almeida Castro, o Kakay, inclusive a verve do anfitrião, um dos mais influentes advogados de Brasília e especialista em defender políticos encrencados.

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Do escritório, decorado com uma escultura de Salvador Dali e fotos ao lado de Roberto Carlos, Pelé, José Sarney, Lula, ACM e José Dirceu, ele tece a estratégia de defesa seus clientes — um portfólio que abriga mais de 50 ex-governadores, três ex-presidentes da República, dezenas de ex-ministros, artistas, empresários e banqueiros. Atualmente, Kakay atua para 20 dos 81 senadores.

Aos 56 anos, o mineiro de Patos de Minas vive o momento de maior visibilidade profissional. Advoga para o senador Demóstenes Torres e o governador Marconi Perillo (GO) no escândalo do bicheiro Carlinhos Cachoeira, defende o publicitário Duda Mendonça no processo do mensalão — no qual atua em parceria com o criminalista gaúcho Luciano Feldens — e foi contratado por Carolina Dieckmann para processar os responsáveis por vazar na internet as fotos da atriz nua. Kakay está em todas, principalmente se a encrenca virar notícia:

— É chato dizer isso, mas as causas de maior repercussão eu sou pelo menos consultado.

A despeito de tamanho prestígio, Kakay só aceita um de cada 50 casos que chegam ao seu escritório. Se não gosta do processo, se dá ao luxo de dispensar clientes milionários, repassando-os para advogados amigos.

Filho de um fazendeiro e de uma professora primária, Kakay só cursou Direito graças à insistência de um tio que cansou de ver o sobrinho na esbórnia. Ele teria casa, comida e roupa lavada, desde que passasse no vestibular da Universidade de Brasília. Kakay chegou à Capital Federal nos estertores do regime militar, fez política estudantil mas pela primeira vez se dedicou aos estudos.

Formado, desprezou pós-graduação, mestrado ou doutorado. Por indicação do ex-ministro da Justiça Márcio Thomaz Bastos, se embrenhou nos recônditos do Pará para defender posseiros que eram assassinados por fazendeiros. Kakay dormia junto com os padres, na região do Bico do Papagaio.

— Uma hora antes de a gente chegar em casa, o lugar tinha sido metralhado por oito tiros — lembra.

De volta à Brasília, Kakay aperfeiçoou a lábia lidando na defesa de poderosos. Esquerdista convicto, eleitor de Lula e amigo íntimo de José Dirceu, ele diz ter trabalhado mais para políticos de direita do que para o PT. Em 2002, Kakay foi chamado pelo ex-presidente José Sarney, após a apreensão de R$ 1,38 milhão em dinheiro vivo na empresa do genro, Jorge Murad. À época, Roseana Sarney despontava como favorita na campanha presidencial. Visto com desconfiança pela entourage do PFL, pediu que as 30 pessoas que estavam palpitando no caso o deixassem a sós com Roseana.

— Ficaram me olhando torto. Imagina, eu era visto como alguém próximo ao PT. O presidente Sarney permaneceu e eu pedi que ele também saísse. A partir dali, ele passou a me respeitar. Desde então somos grandes amigos.

A discordância ideológica, para Kakay, jamais pode interferir na avaliação jurídica de cada processo. Ao assumir a causa de um político, ele atua no tribunal, no Congresso e também na mídia, gerenciando a crise e amenizando os prejuízos à imagem do acusado. O pacote faz dele um dos mais caros advogados do país, e não há registro de que algum cliente tenha reclamado da forma como ele trabalha.

Com a fortuna acumulada na órbita do poder, Kakay construiu uma mansão de três pavimentos, espraiada por 20 mil metros quadrados às margens do Lago Paranoá. A decoração reflete a extravagância do dono. São escassos os cantos sem alguma obra de arte. Há quadros de Iberê Camargo, Juarez Machado e Siron Franco, várias esculturas de Sonia Ebling. Nas paredes, espelhos e vitrais, pululam trechos de poemas, frases de romances. No subsolo, mantém uma adega de dois andares, abastecida com 4 mil garrafas de vinho.

No terceiro casamento e com três filhos, Kakay é um boêmio. Sócio do Piantella, o mais badalado restaurante de Brasília, passa pelo menos três meses por ano em férias pela Europa. Apesar da fama de bom vivant, jamais se afasta do celular. Já teve de voltar às pressas de Paris, chamado por um cliente. O segredo de tanto sucesso, afirma, são os erros cometidos pelos algozes de seus clientes.

— Brigo muito com o Ministério Público, mas todo dia de manhã eu faço uma oração para agradecer aos promotores.

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