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 | 20/10/2011 07h30min

Dunga fala sobre tudo em entrevista para o Jornal de Santa Catarina

Ex-técnico da Seleção Brasileira elogia trabalho de Jorginho, do Figueirense

Rodrigo Braga  |  rodrigo.braga@santa.com.br

A imagem, definitivamente, não é a que consagrou o capitão do tetra e técnico da Seleção na última Copa. Esbanjando bom humor e simpatia, inclusive paralisando por várias vezes a conversa para tirar fotos com fãs, Dunga recebeu o Santa, quarta-feira, no saguão do Hotel Glória.

Para quem custou tanto a dar uma entrevista depois do fracasso na África do Sul, surpreendeu o fato dele não ter se esquivado de nenhuma pergunta. Falou de Copa, da última e da próxima, mesmo elegantemente corneteou o trabalho de Mano Menezes e analisou o momento do futebol brasileiro. Também disse que, passado o período de descanso, pretende voltar a ser técnico em 2012. Confira a seguir os principais trechos da conversa:

Jornal de Santa Catarina: Você foi cogitado em muitos clubes desde que deixou a Seleção. Está na hora de retomar o trabalho de técnico?

Dunga:
Fiquei quatro anos muito voltado apenas para a Seleção, meus negócios particulares acabaram ficando em segundo plano nesse período. Aproveitei esse período, até dezembro, para reorganizar tudo, para voltar em 2012. Felizmente as pessoas têm interesse, o que mostra que o trabalho feito foi bom. A partir de dezembro vou começar a ouvir propostas pra valer e sentar para conversar.

Santa: 2012 então o Dunga está de volta?

Dunga: Sim. Não é uma coisa desesperada, preciso voltar, vou analisar propostas. Quem tiver um trabalho interessante, com pessoas sérias, objetivos traçados, tem minha preferência. Tem que ser por convicção, porque às vezes as pessoas falam que querem porque é de moda. Bem diferente de quando tem uma filosofia de trabalho.

Santa: Tem preferência por dirigir um clube ou seleção nesse primeiro momento?

Dunga: Tanto faz. Os dois cenários têm suas dificuldades. No clube você tem o desgaste do dia a dia, seleção e de mês em mês, mas o desgaste vale por três, quatro. No fim, é tudo muito equilibrado.

Santa: Como está vendo o andamento da Copa de 2014 no Brasil? Acha que o país pode fazer um grande Mundial?

Dunga: Acho que está bem claro que as coisas em relação à Copa não estão andando como deveriam. Algumas coisas ainda não estão bem claras. Não dá pra dizer que as coisas andam de forma acelerada, sempre surge algum problema. A questão é: se não estávamos preparados para receber uma Copa, isso não quer dizer que não dá para nos prepararmos agora. Vejo que teremos muitos problemas ainda até a Copa. E também muitas pessoas ainda são contra. No meu modo de ver, a Copa já é no Brasil, não adianta mais a gente ser contra. Temos é que fiscalizar para que não ocorram gastos exagerados e nem que haja gastos desnecessários. Isso, pra mim, é a função da sociedade agora.

Santa: E em campo, a Seleção jogar em casa em 2014: ajuda ou atrapalha?

Dunga: Bom, pressão na Seleção Brasileira sempre vai existir. A vantagem é o calor humano do torcedor em tempo de Copa, essa energia positiva  chega ao jogador e a tendência é o Brasil crescer em campo.

Santa: Você vê alguma explicação para uma certa "dinastia gaúcha" no comando da Seleção nos últimos anos? Ou é apenas uma coincidência?

Dunga: Pra mim é coincidência. A maioria desses treinadores trabalhou bem nos clubes e acabou chegando à Seleção.  Mas por outro lado se a gente olhar para o passado vai ver que já houve muitos técnicos dessa escola gaúcha. Pode até ter relação com a postura, a forma de trabalhar.

Santa: Como o Dunga, olhando de fora, analisa o primeiro ano do trabalho do Mano Menezes na Seleção?

Dunga: O treinador está escolhendo os jogadores dele, tá colocando a filosofia de trabalho, agora tem a responsabilidade de fazer as coisas andarem. Claro que todos nós gostaríamos que tivesse mais resultados positivos, mas nem sempre é assim.  Às vezes não basta reunir jogadores qualificados, o maior desafio é fazer com que as peças se encaixem. E isso requer um tempo.

Santa: E a renovação?

Dunga: Não vejo assim. Na Copa América (2007, na Venezuela) nós tínhamos 10, 12 jogadores que não estavam na Seleção Brasileira. Então essa palavra renovação não é bem assim, ela precisa vir acompanhada de competência. Não adianta nada você tirar um cara de 30 (anos) e botar outro de 20 só porque ele tem 20. Ele precisa mostrar que merece estar ali. As pessoas começam a insistir em renovação, mas a verdade é que o jogador precisa merecer estar na Seleção.

Santa: O fracasso da Seleção na última Copa América foi fruto da falta de experiência? E reforçou tua convicção de não ter levado Neymar e Ganso à Copa de 2010?

Dunga: Eu sempre tenho convicção das coisas que eu faço. Porque eu não faço em cima da emoção, faço por alguma razão. Quanto à Copa América, quantos jogadores novos tínhamos no time? Jogando eram três, Neymar, Ganso e Pato. Então não é tanto para uma equipe de futebol.  E no entanto venderam um conceito, massificaram, de renovação. Nesse caso eu preferia não ter razão e que o Brasil tivesse ganho. Mas o histórico mostra que jogadores sem grande experiência na Seleção quase nunca, ou em 99% dos casos, não deram certo. Claro que quem quer contestar fala "ah, mas o Pelé". Pelé não conta, é um mito, não tem como comparar.

Santa: Jogador de Seleção ainda precisa passar pela Europa para pegar experiência, como muitos defendem, ou isso mudou?

Dunga: Jogador atuando conquista a experiência. Aqui a questão é bem simples: a Europa está em crise, sem dinheiro, e o Brasil melhorou financeiramente. É um fato novo. Hoje muitos não precisam ir para a Europa, conseguem contratos muito vantajosos aqui mesmo.

Santa: Você acha que faltam Dungas no futebol brasileiro atual, em específico na Seleção? No sentido de ter alguém que lidera a equipe dentro de campo.

Dunga: Acho que não. Cada geração tem uma forma de trabalho. Hoje não é assim, não vejo problema. Se precisar lá na frente, isso virá naturalmente.

Santa: Qual o peso da liderança dentro de campo?

Dunga: O jogador, em geral, precisa se espelhar em alguém, na postura, na forma de agir. No momento difícil, é para esse cara que ele vai olhar e buscar forças. Mas junto com isso o líder precisa saber que não pode desistir nunca. E, claro, tem que ter a competência. Sem isso, lógico que ele não será exemplo.

Santa: Falando de Brasileirão, como tens avaliado o trabalho do teu amigo Jorginho no Figueirense, até aqui um dos destaques da competição?

Dunga: Converso direto com o Jorginho, pelo menos uma vez por semana. O trabalho dele não é surpresa pra mim, claro, estivemos juntos na Seleção e eu sabia da competência dele. Pegou um time, implantou a filosofia e seguramente o Figueirense é um dos que melhor joga futebol no Brasileiro. Os resultados estão aí. No início ele sofreu bastante, quando os resultados não vieram também.  Mas no fim prevaleceu a competência.

Santa: Tem palpite para esse Brasileirão?

Dunga: Não dá. Cinco, seis clubes têm chances reais. Cada um já teve seu momento de liderar e de cair de produção. Não tem como arriscar um favorito. Cada domingo é uma surpresa. O time que conseguir ser mais regular daqui pra frente, será campeão.

Santa: E o time que mais te agrada?

Dunga: Gosto muito do futebol do Figueirense. Entre os favoritos, o Botafogo me agrada. O Corinthians também tem um futebol muito competitivo.

 
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