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Esportes  | 27/09/2011 21h34min

Síntese do brasileiro, orgulho colorado: Escurinho deixa uma história de luta, títulos e muitos gols

Ex-jogador do Inter morreu nesta terça-feira aos 61 anos

Jones Lopes da Silva  |  jones.silva@zerohora.com.br

Talvez um dos mais típicos exemplos de garoto pobre de Porto Alegre que tenha se tornado ídolo na cidade e no Rio Grande seja a figura negra e elegante em 1m84cm de altura de Escurinho, o Luiz Carlos Machado, que morreu nesta terça-feira aos 61 anos no Hospital de Clínicas de Porto Alegre devido a uma parada cardíaca. Desde abril estava internado para tratar sérios problemas de diabete.

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Escurinho entrou para a história como um dos maiores cabeceadores do futebol brasileiro e atravessou os anos 70 conquistando títulos com o Inter de Falcão, Carpegiani, Figueroa, Manga, Batista, Jair, Dino Sani e Rubens Minelli. Fez parte de uma das primeiras gerações do Estádio Beira-Rio e jogou em um histórico período de 1970 a 1977.

Nesses anos, Escurinho sagrou-se octacampeão gaúcho, um título inédito até hoje, e bicampeão brasileiro. Tudo isso com um detalhe: em 1974, pelas mãos de Rubens Minelli, foi goleador do campeonato gaúcho e conquistou o título invicto. É autor de 107 gols em 325 jogos pelo Inter, mais da metade deles feitos de cabeça, sua especialidade.


Escurinho completa antológica com Falcão contra o Atlético-MG em 1976
Foto: Banco de Dados


Embora tenha sido titular por períodos seguidos, Escurinho se notabilizou pela fama de ser o mais valioso e eficiente 12º titular de um time de craques. A cena cotidiana era essa: a torcida enlouquecida gritava "Escurinho, Escurinho", ele entrava em campo e não decepcionava marcando gols salvadores, de cabeça ou não, no finalzinho das partidas.

Particularmente em Gre-Nais, Escurinho tinha especial predileção por atormentar a vida dos zagueiros adversários.


Escurinho entre Carpegiani e Falcão em 1974, no jogo do hexa gaúcho
Foto: Banco de Dados


Marcou gols memoráveis como o do clássico de setembro de 1974, de cabeça, aos 43 minutos do segundo tempo, dando o primeiro passo para o título gaúcho. Ou no Gre-Nal de 1º de maio de 1975. Naquele Dia do Trabalhador, Escurinho prometera fazer um gol a um amigo. Entrou no segundo tempo, com Claudiomiro e, em vez de um, marcou dois gols.

A figura simpática de Escurinho não o fazia um jogador submisso e desinformado. Com personalidade inquieta, Escurinho viveu os anos 70 como uma espécie de jogador que reivindicava seus direitos e acalentava outros projetos de vida. Não se considerava apenas um homem de futebol. Desde adolescente aprendera a tocar violão e a compor sambas com os quais chegou a gravar um antigo compacto duplo. Com a imagem ligada ao samba chegou a ser carimbado no meio do futebol como boêmio. Mas Escurinho era apenas ele próprio: uma pessoa ligada aos três filhos e à família e que gostava de conviver .


Escurinho e seu inseparável violão
Foto: Banco de Dados


Luiz Carlos Machado nasceu em 18 de janeiro de 1950 na Santa Casa de Porto Alegre, primeiro filho de Luiz Raimundo Machado e Irondina Guedes Machado. Mas só ganhou o apelido de Escurinho aos sete anos de idade, então morando perto da Ilhota, onde se criou e ganhou personalidade. A vila, zona boêmia na Cidade Baixa, era conhecida pelo convívio entre futebol, samba e carnaval.

Pois assim cresceu Escurinho, entre futebol, samba e carnaval, a síntese do brasileiro.

> Cronologia da história de Escurinho:

8 de janeiro de 1950 - nasce em Porto Alegre: aos sete anos, vai morar próximo à Ilhota e recebe o apelido.
— 1962 - descoberto pelo técnico Jofre Funchal e entra nos mirins do Inter aos 12 anos
— 1959 - aos nove anos, participa da criação da escola Imperadores do Samba
— 1966 - já nos infantis do Inter, Escurinho se apresenta como calouro no programa de auditório do Vovô Guerra, aos 16 anos: canta uma canção de sua autoria
— 1968 - Aos 18 anos, Escurinho chega ao juvenil (hoje juniores) do Inter sob o comando do técnico Abílio dos Reis. Com ele estão Paulo César Carpegiani e Cláudio Duarte, dois nomes básicos do time dos anos 70.
—1969 - Aos 19 anos, Escurinho é goleador do juvenil campeão invicto do Inter, considerado um dos maiores times de categorias de base de todos os tempos do futebol gaúcho.
— 1970 - passa aos profissionais do Inter com Paulo César Carpegiani e Cláudio Duarte: é bicampeão gaúcho
— 1971 - é emprestado ao Gaúcho, de Passo Fundo, e ao Farroupilha, de Pelotas. Antes disso, casa-se com Sônia
— 1972 - volta ao Inter e briga por vaga no time que chega até as semifinais do Campeonato Brasileiro com Dino Sani
— 1972 - marca um gol histórico em jogo contra Cruzeiro de Dirceu Lopes e Piazza e dois torcedores morrem do coração no Beira-Rio
— 1973 - começa a se tornar titular do time de Dino Sani
— 1974 - é goleador do Gauchão e conquista o hexacampeonato invicto, no primeiro ano de Rubens Minelli. Ganha fama ao entrar no time durante o segundo tempo e decidir o jogo em lance de cabeça
— 1974 - grava um compacto duplo com suas composições: é o primeiro jogador em atividade a gravar um disco no futebol brasileiro
— 1975 - é titular do time de Minelli até setembro e conquista em dezembro o primeiro título nacional. Consagra-se como um dos maiores cabeceadores do futebol brasileiro. Em maio, marca dois gols em Gre-Nal no Beira-Rio
— 1976 - participa do gol memorável contra o Atlético Mineiro no Beira-Rio: Escurinho troca uma tabelinha de cabeça com Falcão antes do gol que leva o Inter às finais do bicampeonato brasileiro. Conquista o octacampeonato gaúcho
— 1977 - traz a Porto Alegre o então Jorge Ben para show no Gigantinho e tenta se lançar como um produtor musical
— 1978 - se transfere para o Palmeiras: é vice-campeão brasileiro
— Depois do Palmeiras, esteve na Inter de Limeira, Coritiba, Barcelona de Guayaquil, Vitória da Bahia, Francana de São Paulo, Bragantino, Caxias, São Bento e La Serena, do Chile.
— Após o futebol, Escurinho treinou escolas de base do Inter e passou por diversas escolinhas de menores de Porto Alegre e da cidade de Guaíba.

> Assista a vídeo de 2008:


 

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