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Esportes  | 22/08/2011 08h10min

Lenda do MMA, Royce Gracie fala da carreira e do desejo de revanche contra Matt Hughes

Brasileiro venceu três das primeiras quatro edições do UFC

Tomás Hammes  |  tomas.rodrigues@rbsonline.com.br

Se o MMA chegou ao posto de destaque de hoje entre os esportes que mais crescem no mundo, muito se deve a Royce Gracie. As palavras não são de um torcedor do brasileiro, um membro da família ou do próprio atleta. O reconhecimento vem de Dana White, nada mais nada menos do que o presidente do Ultimate Fighting Championship (UFC). Considerado uma lenda da modalidade, o carioca de 44 anos foi um dos difusores do esporte. Há quatro anos sem lutar, sabe que a aposentadoria está próxima. Mas não esconde o desejo de reencontrar um antigo rival: Matt Hughes, que o nocauteou no UFC 60, em 2006.

O cartel de Royce no MMA tem 14 vitórias, dois empates e apenas duas derrotas. Em 1993, com 26 anos, começou a escrever a sua história como um dos grandes do esporte. Rorion, seu irmão, criou o UFC para colocar frente a frente lutadores (na época, oito) de diferentes modalidades para se enfrentarem na busca da melhor luta de todas. A escolha de seu nome ocorreu para comprovar a eficiência do jiu-jitsu, pela confiança do irmão em sua técnica e por não ter um físico excepcional.

E, de fato, Gracie se sobressaiu. Venceu as três lutas daquele 12 de novembro, ficando com o cinturão. Nas semifinais, levou a melhor sobre o americano Ken Shamrock. No UFC 2, no dia 11 de março de 1994, manteve o título, ao derrotar os quatro rivais.

Na terceira edição do torneio, Royce, como de costume, subiu ao octógono com a tradicional entrada, o "Trem Gracie", onde os membros da família mais tradicional do mundo das lutas iam um atrás do outro até o palco do confronto. O oponente foi o também ianque, Kimo Leopoldo, que carregava uma cruz até o local do combate, como se fosse Jesus Cristo. O brasileiro venceu a luta, mas o desgaste foi tanto (naquela época, não existia tempo ou rounds — o ganhador precisava nocautear, finalizar ou até o seu oponente ou o seu corner desistir do combate) que ele não conseguiu enfrentar o americano Harold Howard, adiando o sonho do tri na competição (que acabaria vencendo no evento seguinte).

Foto: Divulgação


Campeão de três das primeiras quatro edições do UFC, o carioca entende que há muitos sucessores preparados para continuar seu legado. Para Royce, o fato de haver tantos lutadores brasileiros bons, como ele, Rickson, seu irmão, Anderson Silva, Wanderlei Silva e Rodrigo Minotauro, é "uma coisa que está no sangue". Fora da disputa do UFC Brasil, garante que estará no Rio de Janeiro para acompanhar o evento.

Na entrevista a seguir, o único lutador brasileiro a ser incluído no Hall da Fama do UFC fala da ligação e da união da família. Não esconde o orgulho do pai, Hélio, da proximidade com Royler, outro dos irmãos e o que significa carregar o nome Gracie. Além disso, exalta a importância dos irmãos Lorenzo e Frank Fertitta, magnatas dos cassinos que compraram o UFC em 2006, junto com Dana White, na popularização do esporte.

clicEsportes – Você pertence à família mais importante do mundo das lutas. Quando você decidiu que seguiria essa carreira?
Royce Gracie –
Desde garoto. Sempre escutei as histórias da minha família e queria poder fazer igual.

clicEsportes – Qual é o significado do seu pai, Hélio, não só para o jiu-jitsu, mas para as artes marciais?
Royce –
Ele era um homem que servia de exemplo para todos. Não bebia, não fumava, alimentava-se bem seguindo o regime Gracie, que o meu tio Carlos criou. Era um exemplo não só dentro do ringue como lutador, sempre aperfeiçoando a sua técnica, mas fora como pessoa, como pai.

clicEsportes – Como é a relação com a família?
Royce –
Ninguém pode falar mal da minha família, só nós mesmos (risos)!

clicEsportes – Qual o irmão é mais próximo de você? E por quê?
Royce –
É o Royler. Ele sempre foi mais próximo e o meu treinador principal. É ele quem monta a estratégia das minhas lutas. Além dele, o Rolker que está sempre do meu lado em qualquer condição.



Foto: Divulgação


clicEsportes – O que é ser um Gracie?
Royce –
Pode ser uma bênção ou uma maldição. Se você sabe lutar, é uma bênção. Se não sabe, uma maldição.

clicEsportes – Você foi morar nos Estados Unidos muito cedo. Por quê?
Royce –
Eu vim para cá com 18 anos para ajudar a tomar conta dos filhos do meu irmão Rorion e ajudar nas aulas de jiu-jitsu. Não me arrependo de nada. Foi muito bom e sou grato até hoje.

clicEsportes – Como foi a aceitação ao chegar nos EUA?
Royce –
A aceitação foi muito boa porque ele já estava aqui fazendo o serviço.

clicEsportes – O seu irmão Rorion foi o criador do UFC. Como surgiu essa ideia? Era para comprovar mesmo que o jiu-jitsu era a melhor arte marcial?
Royce –
Ele levou do Brasil aos EUA a ideia que meu pai criou do vale-tudo para provar a superioridade da defesa pessoal do Gracie Jiu-Jitsu.

clicEsportes – Por qual razão você foi o membro escolhido da família para representar o país no UFC?
Royce –
Fui o escolhido porque o meu irmão Rorion confiava na minha técnica. E como eu não tinha um peso tão elevado, era mais leve, seria muito mais impressionante a vitória sobre os adversários que eram muito maiores e mais fortes do que eu.

Foto: Divulgação


clicEsportes – Quais as diferenças que você vê entre o início do UFC e o de hoje?
Royce –
No início, era um estilo de arte marcial contra outro. Hoje, mudou. Agora é um atleta contra outro. Os dois praticam a parte em pé e chão da luta. Eles não se aperfeiçoam em uma luta apenas.

clicEsportes – Você acha que o limite de tempo e as regras impostas foram colocados para diminuir a supremacia dos Gracie?
Royce –
Não! Foi para criar uma regra para melhorar a exposição na televisão e para a comissão de boxe, que tinha que legalizar esse tipo de evento no país.

clicEsportes – Por que você e o Rorion deixaram o UFC?
Royce –
Meu irmão vendeu a parte dele e porque começaram a mudar as regras.

clicEsportes – Qual foi a sua luta ou o título mais importante na carreira?
Royce –
Não sei. Talvez o primeiro UFC, em que lutei por três vezes na mesma noite. Ou o segundo UFC, com quatro lutas na mesma noite. A própria luta contra o “monstro” do Kimo, ou diante do Dan Severn (pelo cinturão do UFC 4). Quem sabe contra o Sakuraba (na qual foi derrotado), quando nos enfrentamos por 1h30min, ou contra o Akebono (japonês campeão de sumô que, na época, pesava cerca de 220kg) pelo K-1 Dynamite em 2004... É difícil escolher uma.

clicEsportes – A luta contra o Kimo foi a mais difícil?
Royce –
Foi uma luta errada. Fiz força contra um cara muito mais forte, Mas, no fim, a minha técnica venceu.

clicEsportes – Você perdeu duas vezes na história. Qual foi a mais marcante? Há algum outro lutador que você gostaria de enfrentar?
Royce –
Contra o Sakuraba, já fiz a revanche e ganhei. Só falta o Matt (Hughes).

clicEsportes – Como é o seu treinamento hoje em dia? Mudou algo dos velhos tempos?
Royce –
Não. Só mudo a estratégia de uma luta pra outra.

clicEsportes – O Dana White afirmou que você é a razão do MMA e do UFC terem se tornado algo tão grandioso. O que você pensa a respeito?
Royce –
Eu sou apenas o produto do trabalho do meu pai.

clicEsportes – Como você vê a popularização do esporte?
Royce –
O trabalho que o Dana White e os irmãos (Lorenzo e Frank) Fertitta fizeram foi muito bom. Eles colocaram o UFC como um esporte de primeira. Hoje, garotos acordam e vão treinar como se fosse um trabalho. Eles esperam um dia ter a chance de lutar. Para comparar, é como um garoto que vai jogar futebol com o sonho de um dia poder atuar em um grande clube.

Foto: Divulgação, UFC


clicEsportes – Você e o Rickson são dois dos maiores lutadores da história do MMA. E qual é o melhor?
Royce –
A minha filha (Kharianna), que tira tudo de mim sem brigar (risos).

clicEsportes – Quem é Royce Gracie?
Royce –
Sou apenas um atleta profissional.


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