Quando o mundo começou a ouvir a voz rouca de Amy Winehouse cantando que não ia para a clínica de reabilitação, ali na virada de 2006 para 2007, a surpresa foi grande. O mundo pop atual, sempre carente de novos ídolos, se rendia a uma artista como há tempos não surgia - um canto rasgado, intenso, a serviço de canções carregadas de sentimento e nostalgia.
 
Aquilo não tinha nada a ver com a música dançante e inexpressiva que vinha dominando rádios e MTVs havia anos. Era, sim, uma releitura visceral da soul music e do jazz - algo como se Billie Holiday e Dinah Washington tivessem voltado das respectivas tumbas para cantar a desilusão amorosa pelo ponto de vista de uma jovem problemática do século 21.

Amy já ensaiava esse estilo em seu primeiro disco, Frank, de 2003. Mas foi em Back to Black, de 2006, que ela - com a ajuda decisiva do produtor Mark Ronson _ achou a sonoridade certa. O clima retrô do instrumental casou à perfeição com a voz dela, e o sucesso foi merecido: parecia incrível que aquela voz viesse de uma franzina garota inglesa. Foi o suficiente para abrir caminho para outras cantoras de forte influência da música negra americana - os exemplos mais vistosos são as também britânicas Duffy e Adele.

Com tal talento e tal propensão ao conflito, Amy configurou-se como a última grande diva do pop - pelo menos, na linhagem de estrelas polêmicas e conturbadas como Edith Piaf e a própria Billie Holiday. Pena que ela não teve saúde para mostrar para onde iria - se seguiria a fórmula de Back to Black ou arriscaria novas direções. Algumas gravações do que viria a ser o terceiro disco apontavam para experiências com o reggae - talvez um sinal que de que aquela voz poderia desfilar com autoridade por outras batidas sem perder a contundência. Talvez.