Tomás Hammes  |  tomas.rodrigues@rbsonline.com.br

Nos dois primeiros jogos, bons sinais de uma história que, se não é nova, mostra avanços cada vez mais significativos. Nos últimos 40 anos, 37 jogadores que não nasceram no Brasil vestiram a camisa do Internacional. Dez deles da terra de Maradona. O 10º é justamente Mario Bolatti, que já soma três gols pelo Inter – um no empate da estreia do time na Libertadores contra o Emelec, no Equador, e dois na goleada por 4 a 0 sobre o Jaguares, do México, na última quarta-feira, no Beira-Rio. Isso porque, em todos os grandes títulos do clube, o clube teve a presença de estrangeiros na equipe principal.

A história vitoriosa colorada da legião estrangeira teve início em 1975 com o primeiro título brasileiro. E foi justamente um atleta de fora do país o autor do gol que ficaria eternizado na história colorada. Don Elias Figueroa chegou em 1971 e foi o primeiro jogador não nascido no Brasil a atuar nessas quatro décadas.

– Já faz alguns anos que o Internacional ampliou o seu espectro no mercado sul-americano – declara o vice de futebol, Roberto Siegmann.

Bolatti, contratado para ser o substituto de Sandro - vendido após a Libertadores de 2010 –, foi o último forasteiro a desembarcar no Beira-Rio. Na sua estreia, apesar de jogar com o dedo do pé direito quebrado, apresentou boa visão de jogo, desarmou sem cometer faltas e mostrou liderança em campo na orientação aos companheiros. Assim como ocorreu no Huracán e na seleção da Argentina, em seu primeiro jogo, marcou um gol. 

– Montamos um time experiente neste tipo de competição. Procuramos atletas com um perfil aguerrido – acrescenta o dirigente.

O volante integra o quarteto argentino formado ainda por Guiñazu, D'Alessandro e Cavenaghi – que estreou no dia 13 de fevereiro, na vitória por 3 a 2 sobre o Pelotas, pela última rodada da Taça Piratini – primeiro turno do Gauchão.

A colônia argentina cada vez mais,  ganha força no Beira-Rio. Nação que, aliás, com exceção do Brasil, foi a que mais cedeu atletas ao clube. No grupo atual, El Cabézon e Guina são os dois principais ídolos da torcida e tiveram papéis fundamentais nos títulos da Copa Sul-Americana, em 2008, e da Libertadores, em 2010.

– Precisamos ter um time com a cara da Libertadores. Mas eles não foram contratados por causa da nacionalidade, e sim da sua qualidade – ressalva Siegmann.

Os gringos, principalmente nos torneios no continente, também ajudam no diálogo com a arbitragem, sempre de língua espanhola. Além disso, são mais um atrativo quando chegam aos países dos adversários. Aliás, são eles (D'Alessandro, Guiñazu, Bolatti e Cavenaghi) os principais trunfos que o clube acredita ter para tentar conquistar o tricampeonato da Libertadores. No grupo estrangeiro, o Inter também conta com o uruguaio Sorondo no elenco.

– Já tínhamos experimentado isso com o Abbondanzieri no ano passado. Testemunhei o quanto eles (argentinos) eram mais conhecidos e solicitados do que os brasileiros. Na viagem ao Equador, na última semana, ocorreu a mesma situação – confirma o vice de futebol.

Além de Guina e D'Ale, no ano passado, o goleiro multicampeão Pato Abbondanzieri foi um dos protagonistas na campanha que culminou com o bi da América. Apesar de não ter finalizado a competição como titular, Pato salvou os colorados nas fases eliminatórias, bem como convenceu o árbitro colombiano José Buitrago, que havia sinalizado erroneamente um pênalti do goleiro, a reverter a decisão, na partida contra o Deportivo Quito.

Abbondanzieri jogou a Copa do Mundo de 2006. Uma semelhança com outro goleiro que já defendeu o gol vermelho. Goycochea jogou no clube entre 1995 e 96, e chegou referendado pela Copa do Mundo de 1990, na qual se consagrou defendendo pênaltis. Porém, Goyco não conseguiu o mesmo sucesso.

Figueroa, além de marcar o "Gol Iluminado", aos 11 minutos do segundo tempo em 1975, na final contra o Cruzeiro no único feixe de luz no campo, ainda conquistaria o bi no ano seguinte.

Em 1979, foi a vez de Benítez ter destaque. O paraguaio foi o goleiro do tricampeonato brasileiro, único título conquistado de maneira invicta desde a implementação do Campeonato Brasileiro, em 1971. Em 1992, Gato Fernandez, também camisa 1 nascido no Paraguai, ajudou a equipe a conquistar o único título da Copa do Brasil do Inter.

Outro compatriota de Benítez que também fez muito sucesso no Beira-Rio, apesar de não conseguir um título tão relevante como o do goleiro, foi Gamarra. O zagueiro ficou de 1995 até 1997 e só venceu um Gauchão (em 1997), mas, pela sua qualidade, é considerado um dos maiores zagueiros da história colorada.

Da Colômbia, dois jogadores colaboraram com os títulos da Libertadores e do Mundial em 2006. Na conquista continental, o atacante Rentería fazia a festa da torcida com sua dança e imitando o saci, mascote do Inter. O jogador foi o vice-artilheiro do time na competição, com quatro gols. Porém, 10 dias antes do embarque para o Japão, acabou cortado por estar lesionado.

No Mundial, Vargas foi o estrangeiro que ajudou no título inédito. O peruano Martín Hidalgo também fez parte do grupo.

Agora, com os quatro argentinos mais Sorondo na equipe principal, a esperança do Inter é pavimentar de forma mais rápida e segura a história bem-sucedida do time em campeonatos importantes. Como a Libertadores, claro. É esperar os próximos meses para ver se o retrospecto terá, de novo, um final de alegrias para a torcida colorada. A estreia de Bolatti, se não terminou com os três pontos, já deu um indício de que a história pode ser positiva mais uma vez.

Jogadores estrangeiros que atuaram no Inter entre 1971 e 2011:

1 - Elías Ricardo Figueroa Brander - Chile - zagueiro - 1971-1976
2 - José de la Cruz Benítez Santa Cruz - Paraguai - goleiro - 1977-1983
3 - Francisco Amado Salomón Alzaga - Uruguai - zagueiro - 1978
4 - Rubén Walter Paz Márquez - Uruguai - meia - 1982-1986
5 - Felix Amado Brites Román - Paraguai - atacante - 1987
6 - Diego Vicente Aguirre Camblor - Uruguai - meia-atacante - 1988-1989
7 - Óscar Osvaldo Aguirregaray Acosta - Uruguai - zagueiro - 1988-1989
8 - Justo Pastor Jacquet Muñoz - Paraguai - lateral-esquerdo - 1989
9 - César Zabala Fernández - Paraguai - zagueiro - 1990
10 - Juan Carlos Letelier Pizarro - Chile - atacante - 1990
11 - Roberto Fernández Bonillo - Paraguai - goleiro - 1991-1993
12 - Rubén Darío Piaggio - Argentina - meia - 1994
13 - Claudio García - Argentina - atacante - 1995
14 - Sergio Javier Goycochea - Argentina - goleiro - 1995-1996
15 - Carlos Alberto Gamarra Pavón - Paraguai - zagueiro - 1995-1997
16 - Julio César Enciso Ferreira - Paraguai - volante - 1996-2000
17 - Arnaldo Andrés Espínola Benítez  - Paraguai - zagueiro - 1997-1998
18 - Héctor Hugo Hurtado Salazar - Colômbia - meia - 1999-2000
19 - Eros Roque Pérez Salas - Chile - lateral-esquerdo - 2001
20 - Horácio Andrés Ameli - Argentina - zagueiro - 2002
21 - Diego Antonio Gavilán Zarate - Paraguai - volante - 2003-2005
22 - Juan Manuel Herbella - Argentina - zagueiro - 2004
23 - Wason Libardo Rentería Cuesta - Colômbia - atacante - 2005-2006
24 - Abubakar Bello-Osagie - Nigéria - atacante - 2006-2007
25 - Fabián Andrés Vargas Rivera - Colômbia - meia - 2006-2007
26 - Emilio Martín Hidalgo Conde - Peru - lateral-esquerdo - 2006-2007
27 - Cristian Martínez Borja - Colômbia - atacante - 2007
28 - Pablo Horacio Guiñazu - Argentina - volante - 2007 até hoje
29 - Andrés Felipe Orozco Vázquez - Colômbia - zagueiro - 2007-2008
30 - Gonzalo Sorondo Amaro - Uruguai - zagueiro - 2007 até hoje
31 - Rubén Darío Bustos Torres - Colômbia - lateral-direito - 2008 e 2011
32 - Andrés Nicolás D'Alessandro - Argentina - meia-atacante - 2008 até hoje
33 - Luis Alberto Bolaños León - Equador - atacante - 2009
34 - Bruno Ramón Silva Barone - Uruguai - lateral-direito - 2010
35 - Roberto Carlos Abbondanzieri - Argentina - goleiro - 2010
36 - Fernando Ezequiel Cavenaghi - Argentina - atacante - 2011
37 - Mario Ariel Bolatti - Argentina - volante - 2011

* Colaborou Alexandre Limeira, ex-diretor de administração do Inter (de 2007 a 2010)

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