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Esportes  | 02/01/2011 08h12min

Renato: o homem que superou o daltônico Félix Magath

Grêmio utilizou calção branco para confundir a visão do craque do Hamburgo no Mundial de 83

José Luís Costa  |  joseluis.costa@zerohora.com.br

Renato já havia conduzido o Grêmio à conquista da América e, aos 21 anos, se sentia capaz de fazer história: derrotar o Hamburgo de Félix Magath, favorito ao Mundial em 1983. A preparação foi difícil. Renato precisou ficar "preso" na concentração na companhia de outros companheiros de festa, como o lateral-esquerdo Paulo Cezar Magalhães.

– Os caras diziam a toda hora: "Olha o Renato, olha o Renato, ele vai dar um jeito de sair com mulheres". Em Gramado e, depois, em Tóquio, me cuidavam como se fosse água no deserto. Foi muito sofrimento. Fiquei desesperado nesses dias – recorda o atual técnico do Grêmio, hoje com 48 anos.

Em áudio e fotos, relembre como Renato apresentou o Grêmio ao Hamburgo:

Antes de Renato agir em campo contra o Hamburgo, a direção do Grêmio já driblava adversidades. O presidente Fábio Koff e o superintendente Antonio Carlos Verardi fintaram Neeskens, gerente do Hamburgo e ex-atacante da Holanda. Ele exigia que os times usassem uniformes principais, conforme combinado meses antes. Isso significava o Hamburgo de calção branco e o Grêmio, de preto.

A estratégia gremista era usar o calção branco e forçar o Hamburgo a vestir o vermelho. A razão era simples: os gaúchos descobriram que Magath, o capitão e craque dos alemães, era daltônico – o que o dificultava a identificar a cor vermelha. E, no futebol, todos sabem, a visão periférica é decisiva.

Para convencer os alemães, Verardi mostrou fotos da final da Libertadores, em que o Grêmio jogou com calção branco contra o Peñarol – na verdade, os uruguaios exigiram o uniforme principal.

– Alegamos, ainda, que o acerto dos uniformes havia sido feito por antigo funcionário já demitido. Eles tinham muita preocupação em não usar calção vermelho. Se o jogador era mesmo daltônico, até hoje não sei – diverte-se Verardi, 76 anos, 45 deles no Grêmio.

Em campo, Renato cumpriu a promessa. Descarregou sobre os alemães a energia acumulada na reclusão das concentrações. Marcou os dois gols no 2 a 1 sobre o Hamburgo. No primeiro, aos 38 minutos, arrancou como um tigre da risca do meio-campo até a linha de fundo e deu dois cortes no marcador antes de chutar sem ângulo. O Grêmio já se preparava para a festa quando Schroder, a quatro minutos do fim, empatou.

A decisão foi para a prorrogação. Aos três minutos, em chute seco, Renato fez 2 a 1 e entrou para a história como o maior ídolo gremista. Indignado, Magath foi o único alemão a se negar a trocar camiseta. Entrou no vestiário com a sua, do Hamburgo. E de calção vermelho.

O segredo do jogo

No vestiário, em Tóquio, Tarciso se aproximou de Renato e fez um pedido: aos 32 anos, queria encaminhar o final da carreira como campeão do mundo.

– Pedi esse presente, e o Renato me disse: "Pode deixar" – conta Tarciso, 59, anos e vereador em Porto Alegre.

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