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 | 23/11/2010 02h43min

Pontos corridos em xeque

Passar clássicos para as rodadas finais seria saída para evitar casos como os de domingo

Nunca antes na história do Brasileirão o sistema de pontos corridos teve a imagem tão maculada.

Ao repetir 2009, quando clubes grandes escalaram reservas para supostamente prejudicar rivais, a edição 2010 levanta o debate sobre mudanças. Talvez passar os clássicos para as rodadas finais, como defende o técnico do São Paulo, Paulo Cézar Carpegiani. Ou criar item no regulamento exigindo titulares, como fez a Inglaterra. Por desrespeitar as regras e escalar reservas contra o Manchester United, na temporada passada, o Wolverhampton sofreu advertência.

Por aqui, o desconforto é generalizado. Técnico do Inter, Celso Roth falou ainda no domingo em “vergonhas claras”. Ficou evidente a referência à reta final de 2009, quando o campeão Flamengo pegou um Corinthians desinteressado e um Grêmio de reservas nas duas últimas rodadas.

Desta vez, um dos envolvidos é o São Paulo. A própria torcida pediu aos jogadores para “entregar” para o Fluminense e dificultar o título do Corinthians. Os cariocas venceram por 4 a 1, mas só após duas expulsões – e com direito a comemoração dos são-paulinos a cada gol do Flu. A situação incomodou Carpegiani.

– Foi muito desagradável. É um desgaste muito grande responder sobre isso a toda hora – admite.

Carpegiani diz que escalou “o que tinha de melhor” e descartou corpo-mole. Reconhece, porém, que reservas aumentam a possibilidade de derrota. Roubam credibilidade ao campeonato. Assim como declarações como as do ex-técnico do São Paulo, Ricardo Gomes, que defendeu antes do jogo a “forra” contra o Corinthians, por 2009.

Diretor de futebol do Grêmio, Alberto Guerra vê os pontos corridos como a fórmula mais justa, assim como Carpegiani. Acha difícil encontrar solução. Da mesma forma que o ex-meia Juninho Paulista:

– Só me preocupo se, para resolver o problema, decidam mexer na fórmula de pontos corridos, que vem se mostrando a melhor – opina.

Guerra estava no vestiário do Maracanã na última rodada de 2009. Não queria derrota para o Flamengo e, tampouco, ver o Inter campeão. Passou uma semana angustiado. Se pedisse para os jogadores perderem, sustenta, ficaria sem moral no vestiário – fora a questão ética.

No Inter, o vice de futebol, Fernando Carvalho, cogita como opção aos clássicos na reta final a volta do mata-mata. Neste caso, não há dependência de terceiros.

– Teríamos que inventar uma fórmula – sugere Carvalho.

Este tipo de polêmica, porém, também é comum na Europa, como disse ontem a ZH o ex-atacante holandês Van Hooijdonk. Ele atuou na Holanda, Portugal e Turquia e participou da Copa de 1998. Veio ao Rio para a feira Soccerex:

– Ninguém ganha: se o time vencer, a torcida reclamará. Se perder, todos vão questionar o profissionalismo.

Presidente da liga que promove o Campeonato Espanhol, Francisco Roca Perez avalia o problema como inevitável:

– A única coisa a se fazer a respeito é ter uma estrutura forte para fiscalizar e punir se algum clube cair na onda do torcedor.

CARLOS GUILHERME FERREIRA E RODRIGO MÜZELL
 
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