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 | 12/10/2010 08h12min

27 alunos de Joinville aceitaram desafio de sugerir as notícias que eles gostariam de ler

Entre os desejos estão os pessoais, como ser jogador de futebol e policial, até necessidades bem maiores, como resolver o problema da violência e da falta de habitação

Amanda Miranda  |  amanda.miranda@an.com.br

Falar de sonho é coisa séria, principalmente quando se tem entre dez e 12 anos. E sonhos, que podem parecer distantes demais para os adultos, são apenas o começo para quem não passa de um metro e meio e acredita que o mundo tem jeito.

Não que os adultos devam desconfiar disso, mas ser criança é estar plenamente autorizado a sonhar em um mundo melhor. É estar certo de que nada é impossível, basta que se queira e que se invista um pouco mais em cores. Menos em preto e branco. Menos em notícias tristes.

Foi assim, com o olhar apontado para o futuro, que 27 crianças da 5ª série 3 da Escola Dom Pio de Freitas, do bairro Floresta, em Joinville, participaram de um desafio proposto por “A Notícia”.

Com a ajuda das professoras Mary Paiano e Antoninha Bender, elas produziram e analisaram, em três dias de atividades, manchetes que gostariam de ler no jornal e em imagens que poderiam ilustrá-las. O desafio foi cumprido com dedicação e maturidade.

De desejos pessoais, como ser jogador de futebol e policial, até necessidades bem maiores, como resolver o problema da violência e da falta de habitação, o que não faltou foi conjugação para o verbo sonhar. Eu sonho. Nós sonhamos. Eles sonham. Nessas páginas, “AN” mostra como seriam as manchetes, nos argumentos dos próprios estudantes.

POPULAÇÃO TEM ACESSO A HOSPITAIS PÚBLICOS E REMÉDIOS GRATUITOS

Cleison Simão Ferreiro, 11 anos, tem um sonho que poderia ajudar muita gente, especialmente o seu avô, Teobaldo. Ele queria hospitais públicos de qualidade e remédios grátis para a população.

— Todo dia vejo notícia de gente que morre e acho que é porque falta hospital e remédio —, fala.

O avô dele precisa usar uma sonda que ajuda na respiração. Mesmo com o atendimento público, ele teve dificuldades para conseguir o equipamento.

— Ele tem que trocar, mas seria melhor que fosse de graça, porque ele não tem muito dinheiro —, conta.

Para Jenifer dos Santos, 11 anos, lutar pela saúde pública é um papel dos políticos.

— Eles deveriam cumprir tudo o que prometem, porque sempre prometem que vão melhorar a saúde e construir mais hospitais. Queria que isso tudo fosse realidade —, diz.

MEIO AMBIENTE ESTÁ PRESERVADO

Consciência ambiental tem idade? Se depender da criançada da 5ª série 3 da Dom Pio de Freitas, a resposta é não. Manter a natureza e o espaço onde vivem preservados são sonhos compartilhados pela turma.

A maturidade demonstrada por eles é, em parte, responsabilidade da escola, que desenvolve projetos ambientais desde as primeiras turmas do ensino fundamental. O resultado é a formação de um espírito verde, que acaba sendo difundido dentro de casa.

— Todo o dia eu vejo notícias de catástrofes. Mas o homem tem que saber que isso acontece porque ele não cuida da natureza. Se corta uma árvore, então deve plantar duas —, sugere Jhonata Mateus de Borba.

Para Mateus Leonardo Silva, a preocupação pode começar na própria rua.

— Os políticos jogaram santinho por tudo. As pessoas podiam ter juntado e não ter votado —, acredita.

As primas Larissa da Rosa e Natália Oliveira têm o sonho de ver um mundo limpo.

— Queria que as pessoas parassem de jogar lixo nas ruas. Lá onde eu moro, muita gente joga —, diz Larissa.

— Se eu vejo alguém jogando, eu vou lá e junto. Todo mundo devia fazer isso —, completa Natália.

100% DOS JOINVILENSES COM CASA PRÓPRIA

Há dois meses, Reginaldo Vargas, 12 anos, viu o amigo Alisson passar por um trauma difícil de esquecer. O menino foi atropelado em Araquari e quase perdeu a vida. Quando Alisson voltou para casa, Reginaldo só conseguia sonhar em um espaço melhor para ele.

— Queria ver no jornal uma notícia de que recuperassem ou dessem uma casa nova para ele —, conta.

A preocupação é tão simples que comove. Como o amigo vai ser recuperar se não tiver um local adequado para crescer?

— O quartinho dele foi reformado, porque ele ainda não está recuperado. Mas, mesmo assim, tem a casa inteira (para reformar).

O desejo é compartilhado por Mariana e Jenifer dos Santos, que sonham com uma manchete que dê fim ao problema de habitação no Brasil.

— Há muita gente na fila, buscando uma casa nova, um lugar para morar. Queríamos que essa fila acabasse.

Ygor Patrick da Rocha também pensa em uma manchete que lhe deixe com uma felicidade sem tamanho. Isso porque um dos sonhos dele é ter uma casa própria.

ANIMAIS ABANDONADOS ENCONTRAM LAR

Ver um animal sofrendo na rua é muito triste para Samanta Ressuagli, 11 anos.

— Eu já peguei animais para cuidar em casa, mas não posso pegar todos. Queria que cada um fizesse isso. Se todos fizessem, não haveria mais animais abandonados —, diz. E

la tem três cachorros e dois peixinhos e não acredita quando vê alguém abandonando um animal na rua.

— Todo mundo tem que lutar por eles, pelo bem deles —, sugere.

Matheus Leonardo Silva também tem essa preocupação.

— Quem não abandona uma criança na rua também não pode abandonar um cachorro. Todos são seres vivos —, compara.

A situação também aflige Cleison Simão Ferreira, 11 anos.

— Queria ler uma notícia que dissesse que abriria uma loja que pegasse os animais abandonados nas ruas para cuidar deles, alimentar e dar banho.

O desejo é óbvio: como os colegas, ele não aceita maus tratos contra os animais.

FIM DA CRIMINALIDADE NO PAÍS

Não se engane: apesar da idade, os alunos da 5ª série sabem o que é violência e como ela pode afetá-los. Por isso, é quase uma unanimidade na turma querer um mundo mais seguro, onde se possa brincar tranquilamente ao ar livre e onde não haja espaço para o medo.

— Gostaríamos de ler que diminuiu o número de assaltos, mortos, acidentes e abusos sexuais —, diz Eduarda Rodrigues, 12 anos.

Thales Pedeski Cesar, 11 anos, também não quer mais sentir medo. Na rua em que ele mora, até assalto já teve.

— Foi bem perto da minha casa. Depois disso, fiquei com um pouco de medo de brincar na rua.

Para Jenifer dos Santos, “tem muitos bêbados e gente drogada nas ruas”.

Mesmo reconhecendo a falta de segurança, eles não acham que a receita seja aumentar o policiamento ou prender todo mundo. E, para eles, a solução parece bem simples.

— A solução é as pessoas se tornarem melhores. Assim, o mundo não teria violência —, diz Mariana dos Santos.

ESCOLAS DE JOINVILLE SÃO TOTALMENTE REFORMADAS

O colégio é como uma segunda casa para Eduardo Luiz Moreira, 11 anos. Lá, ele estuda “desde o prezinho” e pretende concluir o ensino médio.

— Eu queria que, não só a minha, mas todas as escolas tivessem quadra coberta, paredes e chãos limpos. Queria mais respeito para o lugar onde estudamos —, fala.

Karine Buse, 11 anos, também sonha com um espaço maior e mais bonito.

— Espero que todos cuidem, porque não é só a gente que vai estudar aqui. Depois de nós, vão vir outras crianças. Temos que deixar tudo organizado para elas —, conta.

Para Karine, a preocupação não deve ser apenas com o espaço físico e com a sala de aula. A menina vai além e pensa também em conscientização ambiental e em cuidados que devem surgir dentro de casa.

— Podemos começar cuidando da escola com atitudes pequenas, como não jogar lixo no chão, não colocando o pé na parede. Tudo isso vai ajudar a manter as coisas mais organizadas —, acredita.

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