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 | 07/10/2010 20h30min

Em Minas Gerais, Dilma diz que é contra o aborto

Presidenciável afirmou que não deixará de encarar o assunto como questão de saúde pública

A candidata do PT à Presidência da República, Dilma Rousseff, disse nesta quinta-feira que a defesa feita por seu adversário, José Serra (PSDB), das privatizações no governo Fernando Henrique Cardoso é uma "tentativa de se vacinar" contra a estratégia petista de comparar as gestões Lula e FH. Em sua primeira visita a Minas Gerais no segundo turno, Dilma também manifestou de forma enfática sobre o aborto, ao afirmar que pessoalmente é contra, mas na presidência da República não deixará de encarar o assunto como uma questão de saúde pública.

Durante uma passagem tumultuada pelo Mercado Central da capital mineira, a petista aproveitou para reagir no mesmo tom às declarações de Serra em encontro com aliados em Brasília, na quarta-feira. O tucano confrontou a estratégia petista, à qual chamou de "factóide" e "trololó".

— Eles poderiam refazer as privatizações, mas não refizeram.

Dilma, por sua vez, indicou que a tática é mesmo colar no tucano a pecha de privatista, a exemplo da campanha que atingiu Geraldo Alckmin no segundo turno da eleição presidencial de 2006.

— Acho que (a defesa de Serra das privatizações) é uma tentativa de se vacinar contra o fato de quando a gente começar a comparar o governo FH com o do presidente Lula vai ficar claro que enquanto eles vendiam ações da Petrobras e arrecadavam US$ 5 bilhões, e vendiam ações, nós aumentamos as ações e obtivemos US$ 70 bilhões — disse ela, se referindo ao recente processo de capitalização da petrolífera.

— Eles querem evitar essa comparação. Nós somos contra a forma, o conteúdo e o sentido das privatizações. Por quê? Eles venderam R$ 100 bilhões do patrimônio público desse país e elevaram a dívida de 30% para 60% do Produto Interno Bruto (PIB) — afirmou a candidata.

Aborto

A campanha petista, providencialmente, escolheu a pequena capela Nossa Senhora de Fátima, no estacionamento do tradicional mercado de Belo Horizonte, para que Dilma falasse à imprensa. Ela foi recepcionada por jovens de congregações católicas e por representantes de igrejas evangélicas, entre eles o deputado federal reeleito Mário de Oliveira (PSC), presidente da Igreja do Evangelho Quadrangular, considerada uma das cinco maiores neopentecostais do país.

Os religiosos presentes confiavam que a petista deixaria clara sua posição contra o aborto.

— É uma questão que tem de ser esclarecida — disse Oliveira, antes da chegada de Dilma.

Representantes das congregações católicas — Agostinianos, Maristas e Sacramentinos de Nossa Senhora — preparam um manifesto que seria entregue à candidata do PT. Mas como o texto chegou na última hora, não houve tempo para uma redação de consenso.

— Nosso posicionamento é em defesa da vida, indiscriminadamente. Acreditamos que a Dilma é a favor da vida — afirmou João Campestre, dos Freis Agostinianos.

A petista recebeu a manifestação de apoio na capela, onde se espremiam políticos seguranças e jornalistas diante da tentativa da militância de chegar perto da candidata. Ao falar da polêmica, Dilma deu ênfase à sua posição pessoal:

— A minha posição pessoal é contra o aborto. (Mas) Como presidente da República eu não posso deixar de encarar. Eu não posso tratar essa questão como uma questão pessoal, só — destacou, alegando que tem sido vítima de uma campanha "clandestina", que "faz parte do submundo da política".

A candidata recorreu ao nascimento do neto para reforçar sua oposição ao aborto.

— Seria muito estranho quando há uma manifestação de vida no seio da minha família, porque meu neto acabou de nascer, eu defender uma posição a favor do aborto. Sou contra o aborto, porque o aborto é uma violência contra a mulher.

Segundo Dilma, não há nenhuma referência ao aborto no seu programa de governo, por isso não há o que ser alterado. Ela afirmou, no entanto, que sua gestão irá tratar a questão como saúde pública.

— Como presidente da República eu tenho de encarar o fato de que há milhares de jovens, adolescentes, que diante do aborto, fazem e adotam práticas porque elas estão abandonadas. Por exemplo, utilizam agulhas de tricô para interromper uma gravidez, que elas, sem apoio, não conseguem suportar. O Estado brasileiro não considerará essas mulheres como uma questão de polícia, mas uma questão de saúde pública e social. Nós temos é de prevenir que jovens desse país recorram a esse método — disse.

Na rápida passagem por Belo Horizonte, Dilma reforçou e o fato de ter nascido na capital mineira para dizer que sua eleição será "como se Minas chegasse novamente à Presidência da República".

Questionada sobre um eventual apoio de Marina Silva no segundo turno, ela lembrou já conversou por telefone com a candidata do PV e disse que é preciso esperar "as coisas serenarem".

— Não concordo com esse tipo de relação de pressão. Eu respeito a Marina independentemente do apoio ou não — afirmou.

A presidenciável do PV obteve no Estado 21,25% dos votos válidos, o que corresponde a 2,29 milhões de votos. Venceu em Belo Horizonte e outras grandes cidades do Estado. A estratégia da campanha lulista em Minas é justamente atacar a capital e região metropolitana, o sul e o sudeste do Estado, onde Dilma foi menos votada.

Agência Estado
Roberto S. Filho, Divulgação / 

Dilma participou de carreata em Minas Gerais nesta quinta-feira
Foto:  Roberto S. Filho, Divulgação


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