Gremistas com longa folha de serviços prestados que ficaram de fora do Conselho Deliberativo após a eleição do fim de semana estão apreensivos.

Eles temem que os grupos liderados por Paulo Odone, agora dono de 225 cadeiras das 300 do colegiado, patrolem a oposição a partir do ano que vem.

Ontem, em entrevista a ZH, Odone afirmou que a gestão Duda Kroeff retrocedeu o clube ao ponto de ser urgente uma revolução administrativa.

O fato de não mencionar ao menos o esforço para pagar dívidas, um limitador de investimentos no futebol, desagradou. Aí estaria o indício de tempos difíceis, quem sabe de silencioso apartheid interno.

— Será que nada de bom foi feito? Será que vão patrolar todo mundo? — lamentou um integrante da Chapa 2.

Não são poucos os nomes importantes apeados do Conselho. O delegado Ben-Hur Marchiori, após 17 anos de mandato, é um deles.

Era diretor no departamento amador na fartura dos anos 90. Comprou cadernos para o volante Emerson estudar no começo da carreira, entre outros gestos anônimos. Chegou a ajudar o amigo Felipão em palestras de vestiário nos jogos lendários contra o Palmeiras da Parmalat.

Há outros órfãos. Teodoro Pedrotti cansou de emprestar dinheiro ao clube. Nem sempre recebeu de volta. Ficou de fora, assim como Carlos Bastos e o ex-jogador Iúra, símbolo da garra nos anos 70. Alguns sentem a perda como se um familiar tivesse morrido. Houve quem chorasse.

O episódio eleitoral ainda é recente. As feridas abertas sangram. É preciso compreender o sentimento de quem perde. O ideal para o Grêmio, depois de tantos anos de briga, é buscar o entendimento.

A verdade não está apenas ao lado dos vencedores, embora a história seja contada por eles.

Após liderar um retorno consagrado, Odone tem chance de pavimentar a paz se estender a mão aos vencidos.

Terá de respirar fundo e não olhar para suas próprias cicatrizes recentes. Será preciso agir como estadista. O tempo dirá se é possível.

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