Esportes | 28/08/2010 18h07min
Três ídolos do Grêmio. Três décadas diferentes. Três símbolos de situações nas quais tudo apontava para o precipício e o time livrou-se da queda. Iúra, volante nos anos 70, era a personificação da bravura. O Inter era octa gaúcho em 1976. Parecia impossível superar o supertime colorado de Falcão e Cia, mas aconteceu em 1977. O zagueiro Edinho chegou ao Grêmio em 1989 e estreou numa fogueira capaz de queimar a Amazônia inteira. Era preciso vencer o Glória – em Vacaria – para não disputar o octogonal da morte e correr sério risco de ser rebaixado no Gauchão. Com três Copas do Mundo na bagagem, comandou o time e fez gol de pênalti na vitória por 3 a 1. Ainda naquele ano, o Grêmio de Edinho ergueria a primeira de suas quatro copas do Brasil. Sandro Goiano não é gaúcho, mas declara-se gremista. Sua família se converteu inteira ao gremismo. Na Série B de 2005, foi o deus da raça do Grêmio. Nunca foi um craque, mas suou sangue como poucas vezes se viu por um time até a assunção na Batalha dos Aflitos. Iúra, Edinho e Sandro Goiano (hoje com 37 anos) sentiram na carne o que é um momento instável como o de hoje. ZH fez aos três o mesmo pedido. Que deixassem, a partir da experiência vivida por eles, uma receita para o Grêmio sair desta situação, quem sabe já neste domingo, mesmo contra o Atlético-PR na Arena da Baixada. Confira:
Iúra
Renato tem que ir na casa dos jogadores"
"Está faltando ao Grêmio algo que se fez em 1977. A diretoria profissionalizou o trabalho. Nosso diretor era o Nelson Olmedo, e o técnico era o Telê Santana. Não demorou para a sabedoria deles passarem para nós jogadores, no vestiário. Votei no Duda Kroeff, sei que ele é gremista como eu e está sofrendo, mas não imaginava que tudo ficaria deste jeito. Em 1977, íamos nas casas uns dos outros. Eu almoçava com minha esposa na casa do Tadeu Ricci, do Éder e assim por diante. Conversávamos diariamente sobre os problemas do time. O Telê ia na casa de cada um para nos ouvir e falar do Grêmio. O Renato devia fazer isso. É assim que surge o envolvimento. Em 1977, a direção não deixava a vigarice entrar no vestiário, um espaço que não é para iniciantes. A chance de entrar em campo e não correr era zero. Ah, e a torcida precisa lotar o Olímpico nos jogos aqui. O público está diminuindo. Lotar só na vitória é fácil"
Sandro Goiano
Uma gota de suor a mais
"Eu queria estar aí (Sandro tem contrato até o ano que vem com o Paysandu). Ouvi um torcedor no Sportv, dia destes, dizer que falta jogador gremista no Grêmio. O Inter tem Guinazu, Renan, Sobis, Bolívar, Tinga, todos se declarando abertamente colorados. Eu sou gremista. Torço demais mesmo de longe. Minha família inteira virou gremista. Esta é a hora da tranquilidade. O time do Grêmio é bom. Seria preciso vivenciar o dia-a-dia para saber o que está acontecendo. Mas uma coisa digo com certeza: se cada jogador não der umas gotas de suor a mais pelo time, aí vai ter jeito mesmo. Olha, se dependesse de mim, estaria no Grêmio até hoje. Saí porque não me abandonaram. Mas isso passou, faz parte do futebol. É assim mesmo. Resumindo: tem que correr mais, suar mais. Começa por aí. Se fizer isso... tá doido! Muita coisa vai mudar, independentemente de qualquer outra coisa".
Tarciso
Essa é a hora dos jogadores
Chegou o momento de os jogadores fazerem um pacto para sair dessa. Vivi fases parecidas, passei por isso em 1976. Nos reunimos no vestiário, com presidência, diretoria, todos, e superamos a dificuldade. É preciso dar um tempo para o Renato, não é de uma hora para outra que ele vai mudar tudo. Já vi um Grêmio melhor contra o Santos.
O Grêmio tem tudo para não cair, mas precisa ter um companheirismo muito forte em campo. Os jogadores precisam ver que têm um treinador maravilhoso, campeão do mundo, e o torcedor está do seu lado. Esse é o momento do grupo de jogadores, não da comissão técnica e nem da diretoria. Na minha época fazíamos reuniões dentro do vestiário para não deixar a peteca cair. Conversávamos por 30, 40 minutos, não para brigar mas para entrar no caminho das vitórias. Não é hora de se assustar, ainda tem muita água para rolar.
Edinho
Um líder é fundamental
"Manter a calma é o mais importante. Acho que as pessoas estão julgando o Grêmio muito pela comparação com a ótima fase do Inter. É preciso ter humildade e reconhecer que o momento atual é de fuga do rebaixamento. Se ficar achando que um empate aqui ou ali é o fim dos tempos por acabar com a chance de título ou G-4, aí é que não vai dar mesmo. Fica olhando o quintal do vizinho é um erro. Pelo que acompanho, seria importante o Grêmio providenciar um jogador de muita liderança. Nestas horas, isto ajuda demais. Um líder evita que o time se contamine pelo ambiente negativo fora de campo. Em 1989, o meu papel era o de não se envolver com o caldeirão. No jogo contra o Glória, no qual precisávamos ganhar de qualquer maneira, houve um pênalti. Percebi que ninguém queria pegar a bola e bater. Era o clima pesado. Como recém tinha chegado, eu estava fora deste ambiente. Cobrei com toda a calma e fiz o gol."
Aírton Ferreira da Silva
A pegada precisa voltar
Precisa voltar a pegada do Grêmio. Esse é o nosso sistema, parecido com o dos argentinos, a garra. Não deixar o outro time jogar. O Grêmio sempre teve isso, e no futebol de hoje é ainda mais importante. Não adianta mais só fazer embaixadinhas, hoje em dia o craque tem de marcar – se botar a mão na cintura no meio do jogo, não tem como ganhar. Foi assim que joguei 13 anos no Grêmio e fui campeão em 12. No nosso time havia sempre várias lideranças, e aparecia algum jogador que não pegasse a gente chegava no vestiário e avisava ele. Dizíamos "sinto muito, gostamos de ti, mas se continuar assim vamos falar para o jogador te tirar".
O Grêmio não tem mais condições de descer para a segunda divisão, seria muito difícil voltar. Tomara que a sorte volte novamente. Nessa última partida foi falta de sorte. Mas também estamos tomando muito gols bobos, tomar um gol no último segundo é para matar qualquer um. O Renato vai precisar de tempo para ajeitar as coisas, conhecer o pessoal. Ele é o mais indicado porque é ídolo, mas não é suficiente. Tem de ainda contratar jogadores – treinador não ganha jogo.
Ancheta
Está na hora de endurecer
O principal é contratar, algumas peças estão faltando. Precisa ver o que está acontecendo no ataque, já que o Grêmio cria as situações, mas as bolas não entram. Já se fez alguma coisa: se trouxe um novo técnico. Mas não é apenas isso. Tem de haver mais atitude no time. Vontade, dinamismo, caráter, o que o Grêmio sempre teve. Tem de mostrar aos jogadores que, se não dá na técnica, vai dar na vontade. Porque às vezes o time fica muito apático, parece que não há muita disposição de vencer. Está na hora de endurecer, gritar, decidir. O momento é de exigir, de forçar, de colocar o grupo a funcionar.
Na Rede: Quais jogadores você sugere para o Grêmio contratar?
Próximo jogo, 29/08
Brasileirão: Atlético-PR x Grêmio
Horário: 18h30min
Local: Arena da Baixada, Curitiba
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