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 | 25/08/2010 22h50min

Apreensão de crack sobe 59,3% em Santa Catarina em 2010

Cidades mais preocupantes são Itajaí, Balneário Camboriú, Navegantes, Camboriú, Joinville e as da Grande Florianópolis

Felipe Pereira  |  felipe.pereira@diario.com.br

A média mensal de apreensões de crack em Santa Catarina cresceu 59,3% no primeiro semestre de 2010 na comparação com todo o ano passado. Somando a quantidade de pedras descobertas pelas polícias Civil e Militar chega-se à média mensal de 22.833, frente a 14.328 em 2009. Especialistas e a Secretaria de Segurança Pública (SSP) concordam que o aumento reflete o crescimento no consumo da droga.

O incremento nas apreensões é consequência de mais consumo de crack, avaliou o professor de Direito Penal da Universidade do Vale do Itajaí, Alceu de Oliveira Pinto Júnior.

O delegado da Polícia Federal (PF) Ildo Rosa disse que o dado é preocupante porque mostra um notável incremento do consumo. Ele explica que o crack nunca é apreendido durante a fase de estocagem. Isso só ocorre quando está pronto para o consumo e é encontrado nos pontos de venda.

Se o número de pedras descoberta subiu, significa que o comércio cresceu. A droga é mais fácil de transportar e esconder que a maconha, a cocaína e o ecstasy.

A presidente do Conselho Estadual de Entorpecentes (Conen), delegada Sandra Mara Pereira, concorda que a droga se capilarizou. Ela diz que o aumento no número de apreensões é resultado da repressão, mas que a polícia é a única instituição atuando. Reclama que falta participação do Estado para oferecer educação, saúde, lazer e oportunidade de trabalho:

— Precisamos que as autoridades acordem, porque todos estão assistindo de forma passiva — afirmou a presidente do Conen.

Problema de saúde pública

A assessoria de imprensa da SSP também considera que o crack deixou de ser uma questão policial para se transformar em problema de saúde pública. Informou ainda que o aumento nas apreensões é resultado do melhor trabalho de repressão. Argumentou que há troca mais rápida de dados entre as polícias sobre quadrilhas de traficantes que agem no Estado.

A Comunicação Social da Polícia Militar informou que as cidades mais preocupantes são Itajaí, Balneário Camboriú, Navegantes, Camboriú, Joinville e as da Grande Florianópolis. Mas lembrou que não significa que as regiões fora do litoral estão livres do crack. A diferença é que na faixa entre a Capital e a divisa com o Paraná as quadrilhas são mais organizadas.

O delegado geral da Polícia Civil, Ademir Serafim, afirmou que o acréscimo nas apreensões é resultado de mais operações e da maior quantidade de crack no Estado. Ele lembrou que o turismo e o grande número de eventos atraem traficantes para o litoral catarinense.

Traficante também é usuário

A cultura que o traficante nunca é usuário do produto que vende caiu por terra em relação ao crack, afirmou o delegado da PF Ildo Rosa. Ele disse que os usuários se envolvem tanto que aceitam vender a droga para manter o vício. O dependente não consegue resistir e consome o estoque criando dívidas.

A dinâmica contribui com o aumento da criminalidade. Sem alternativa, o devedor tem dois caminhos: fazer dinheiro ou morrer. O professor de Direito da Universidade do Vale do Itajaí Alceu de Oliveira Pinto afirmou que o resultado são pequenos furtos como aparelhos de som de carros, celulares. Se a estratégia não funciona, ele é vítima de homicídio.

O delegado declara que o varejo tem como característica trabalhar com mão-de-obra descartável, mas, no caso do crack, o fenômeno fica ainda mais evidente. Logo o usuário traficante é substituído. Ildo ressalta que muitas pessoas não enxergam problemas enquanto os homicídios atingem entre pequenos traficantes e usuários.

— É a banalização da morte — disse o delegado.

O professor declara que o aumento das apreensões tem outra faceta. Mostra que as campanhas feitas pelo governo e entidades não estão funcionando. Ele disse que o material foi produzido para combater a cocaína e a maconha. Por ser uma droga nova, a melhor abordagem ainda não foi descoberta.

Alceu ressaltou que o Programa Educacional de Resistência às Drogas e à Violência, realizado pela Polícia Militar em milhares de escolas catarinenses, não atinge o público consumidor do crack.

O professor lembra que o usuário de pedra abandonou o colégio. Ele declarou que a consequência é um problema social. Os dependentes saem do mercado de trabalho e ainda precisam de investimentos da saúde pública para o tratamento.

Números de apreensões
*números do primeiro semestre
Ano Polícia Militar / Polícia Civil Total  Média mensal
2009

2010*

138.996 / 32.944

90.000 / 47.000

171.940

137.000

14.328

22.833

 
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