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Esportes  | 14/08/2010 20h37min

Como o Inter virou modelo para o Brasil

Quase rebaixado em 2002, clube ganhou o Mundial e joga a segunda final de Libertadores em quatro anos

Carlos Guilherme Ferreira e Leonardo Oliveira

Passa longe do acaso a presença do Inter na final da Libertadores. Porque planejamento resume o segredo de um clube que soube sair de um buraco que parecia sem fundo e assumir papel de protagonista no futebol brasileiro. Em um período de sete anos, ganhou até um título mundial, mas já mira o bi.



A transformação começou em 2003, no segundo ano da gestão do presidente Fernando Carvalho, hoje vice de futebol. Ele assumiu em 2002, enfrentou dificuldades e só escapou do rebaixamento na última rodada, com vitória sobre o Paysandu, em Belém. Voltou do Pará disposto a aprender com os erros daquele ano e conseguiu.

Estas foram algumas das lições, segundo o próprio Carvalho:

— Evitar contratos de um ano, porque o jogador perde o foco a partir de setembro

— Mesclar jovens da base com jogadores rodados e contratados por dois ou três anos

— Criar uma memória de vestiário, mantendo auxiliares e equipe de apoio por longos períodos

— Fazer contratos longos com aumentos por produtividade

Carvalho também tirou da gaveta o “Plano de Metas” elaborado na campanha para a eleição, em 2001. Veja algumas delas:

— Ganhar um título internacional até 2009, ano do centenário

— Reaprender a jogar competições continentais a partir da Sul-Americana, que o clube jogou em 2003, 2004 e 2005 antes de ganhar a América

— Formar jogadores, principalmente atacantes de movimentação, cobiçados pelos europeus

— Chegar a 20 mil sócios, depois a 40 mil, a 50 mil, em progressão até os 100 mil



Essa ambição moveu o Inter e o fez crescer em progressão geométrica. Mas o clube só ganhou dinheiro para montar um bom time porque usou exemplos. Todos os clubes serviram de inspiração, principalmente o São Paulo. O grande trunfo do clube, porém, foi entender a Lei Pelé, que entrava em vigor, antes dos demais.

– O Inter inovou ao interpretar a Lei Pelé – lembra Carvalho.

Com a nova lei, o passe virou direito federativo, e clube nenhum era dono de jogador. Eles estavam livres, presos apenas por contratos. Assim, um ex-júnior de contrato longo trará mais lucro do que um veterano. Na visão do professor de MBA em Gestão e Marketing esportivo da Trevisan Escola de Negócios, do Rio, João Henrique Areias, o Inter trabalhou bem a pirâmide formada por time, estádio e CT.

–Você analisa e vê que tem isso: boa formação, bom centro, visão de longo prazo, que só dá resultados depois de cinco anos – afirma Areias, que participou da formação da Copa União, em 1987.

A fábrica de talentos do Inter funciona a pleno. Saíram de lá para a Europa Pato, Nilmar, duas vezes, Daniel Carvalho, Walter, Sidnei, Sandro, Sobis e Renan, só para lembrar dos principais. Perceba que cinco deles são ofensivos e de movimentação. O que rendeu ao Inter na Europa e no Brasil a fama de “formador de atacantes”. Foi por ela que os empresários do meia-atacante Oscar o colocaram no Inter depois de vencer batalha judicial com o São Paulo.

– O negócio futebol é estruturado para conquistar o torcedor, que é cliente. É preciso ganhar títulos e formar ídolos para deixá-lo satisfeito – finaliza o professor Areias.

Orçamento cresceu quase oito vezes



O crescimento do Inter pode ser descrito em números. Em 2002, contabilizava 7 mil sócios. Hoje, são 106 mil. O orçamento era de R$ 22,8 milhões. Neste ano, gastará pelo menos R$ 150 milhões. É dinheiro de sócios, produtos, venda de jogadores e contratos: de 2002 para cá, o patrocínio da Unimed cresceu 250%, e o do Banrisul, 150%.

– O clube é visto como diferenciado. Isso agrega valor à marca – atesta o diretor-executivo de Marketing, Jorge Avancini.

A marca citada por ele vale R$ 230,9 milhões, conforme a consultoria Crowe Horwath RCS divulgou em março. Inclui o prestígio de jogadores importantes, como Sandro, D’Alessandro, Sobis e Tinga, amplificado pelo poder de uma torcida estimada em 4,8 milhões de pessoas, segundo pesquisa do Ibope publicada na quarta-feira. Esse contingente consome Inter. É uma cadeia: o time vence, ganha espaços generosos na mídia, e a torcida, exultante, compra.

Diretor da Victory Sport Marketing e professor da ESPM, Fernando Trein cita a reportagem sobre o jogo Inter 1x0 São Paulo na CNN como exemplo:

– A projeção em termos de imagem e de possibilidades de negócios é totalmente diferente. Começam a perguntar: “Que clube é esse? De onde é?

O time para 2012

Enquanto os colorados saboreiam as vitórias de 2010, nos gabinetes do Beira-Rio o projeto do time de 2012 está na prancheta. Como há muitos jogadores acima dos 30 anos, haverá renovação lenta e gradual. O zagueiro Dalton, 20 anos, e o meia Oscar, 18, são preparados no Beira-Rio para estar prontos em dois anos. A partir de janeiro, eles começam a ganhar espaço no grupo – isso, é claro, se não pedirem passagem antes. O mesmo se passa com o atacante Marquinhos, destaque em 2009 e que enfrenta lesões neste ano.

Sócio boca a boca

Quando planejou multiplicar seus sócios, o Inter olhou para trás e conferiu o fracasso das campanhas anteriores, vinculadas a jogadores. Eles saíam meses depois, e o torcedor ficava órfão, desiludido. A estratégia de marketing usada é a mesma que faz sucesso desde que o mundo é mundo: o boca a boca. Ações foram criadas para levar o associado ao estádio: audiência com o presidente, passeio pelo clube, para buscar o prêmio da bola do jogo ou da camisa do craque. Quando saía do Beira-Rio, onde era recebido de braços abertos, o associado levava uma missão: convencer um amigo a entrar para o quadro. O sucesso está nos 106 mil sócios. Graças também a investimentos em infraestrutura e na maneira de administrá-la.

O técnico Muricy Ramalho deve estar agradecendo ao Inter, que por estar contando as horas para decidir a Libertadores na quarta-feira diante dos mexicanos do Chivas, vai de time reserva neste domingo contra o Fluminense, no Rio de Janeiro.

Devem ser utilizados jogadores que costumam ser aproveitados entre os titulares, como Fabiano Eller, Andrezinho, Wilson Matias e Glaydson. Afinal, o foco dos torcedores e do Inter não está no resultado do Maracanã, às 16h, ainda que ninguém despreze uma vitória. Com um jogo a menos na tabela por não ter enfrentado o Santos no último domingo para facilitar o embarque rumo ao México, uma derrota no Rio pode significar a saída do G-4. Mas, se uma derrota isolada para o líder do campeonato significar nova vitória na Libertadores (em Gudalajara foi 2 a 1 sobre o Chivas), o Inter assinaria embaixo. Hoje, a equipe de Roth é quarta, com 20 pontos.



Em caso de empate ou vitória no Beira-Rio quarta, a vaga na maior competição das Américas no ano que vem já estará garantida. Celso Roth estará no Maracanã com os reservas, que terão a missão de manter a invencibilidade do técnico no Brasileirão desde o seu retorno.

Os titulares ficarão em Porto Alegre com o auxiliar Humberto Ferreira, que orientará na manhã deste domingo um trabalho fechado com os titulares. Apesar de o foco estar todo voltado para a Libertadores, Roth não dá pistas da escalação que levará a campo diante do Fluminense.

— Já treinamos e definimos o time — disse Roth, sem entrar em detalhes de nomes ou mesmo da manutenção do esquema 4-3-2-1.

Poucos titulares devem acompanhar a delegação na viagem ao Rio de Janeiro.

Colorado, clique aqui para enviar sua foto para a taça do bi:
 


Em audioslide, o brilho da estrela de Giuliano:

Vídeo especial: o caminho do Inter até a decisão

 

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