Esportes | 14/08/2010 18h29min
Terça-feira, dia 10, Renato Portaluppi acordou na sua casa que dá de fundos para o mar de águas alvas da praia de Stella Maris, na área do condomínio onde morava, em Salvador. Podia andar de camiseta nos 25ºC que os baianos chamam de frio. Na sexta-feira 13, o agora técnico do Grêmio se defendia de um incômodo chuvisco sob 11ºC no Olímpico. Encolhia-se dentro de um parka fechado até o queixo, com o capuz enterrado na cabeça. Só o rosto à mostra.
Há um punhado de mudanças a considerar na vida de Renato. Desalojado de sua praia quase particular, Renato habita hoje num apartamento inodoro de um hotel de Porto Alegre. Mas treina um time que ele ajudou a ser multicampeão. Deixou para trás um mar límpido cantado por Dorival Caymmi, é verdade, mas também se esquivou de uma equipe há oito anos chafurdando entre a Segunda e a Terceira divisões. Não vinha de maus resultados. O aproveitamento de 59% obtido em Salvador colocaria o Grêmio no G-4 do Brasileirão.
Ainda na casa das trocas, uma das últimas providências de Renato em Salvador foi mudar o endereço da concentração. Tirou o Bahia do CT Fazendão e o levou para o Bahia Plaza Resort, um suntuoso hotel curiosamente localizado no mesmo condomínio onde Renato morava à beira do mar, o luxuoso Busca Vida, em Lauro Freitas, oito quilômetros da capital. Bahia virou o clube da Segundona que melhor concentra.
O rosário de mudanças é grande. Mesmo no Rio, apesar da sunga e do futevôlei em Ipanema, o fanfarrão da época do Grêmio já era passado. Os baianos se surpreenderam com a discrição e seu estilo caseiro. Desde o início do ano em Salvador, não estampou manchetes em revistas semanais e nem foi visto nas areias concorridas das praias de Ipitanga, Flamengo e dabadalada Vilas de Atlântico.
– Ele está um homem sério – testemunhou o repórter baiano Daniel Dória, do jornal A tarde.
Por sério, entenda-se mais fechado. Trocou os gestos largos e o riso fácil por uma sobriedade típica dos 47 anos – por mais impensável que possa parecer para quem o conheceu falastrão e licencioso nos anos 80.
Cresceu como técnico ao dirigir duas vezes o Vasco, e outras quatro o Fluminense, na última delas derrotado pela LDU na final da Libertadores de 2008. Premido pela campanha naquela competição, o Fluminense desceu à zona do rebaixamento no Brasileirão. Foi quando Renato revelou imaturidade numa bravata. Disse que iria “brincar” no Campeonato Brasileiro. Ao contrário, atolou-se na zona de baixo e foi trocado por Cuca.
Talvez por isso a mutação de Renato ainda esteja em curso. Uma de suas querelas com a imprensa baiana era a sua resistência a coletivos. Gostava mesmo era de rachões – os divertidos treinos em que ninguém guarda posição. Nessas horas Renato se inclui na brincadeira como se tivesse os 20 anos de quando ganhou a Libertadores e o Mundial do Grêmio em 1983.
A outra contestação baiana é seu maior pecado. Segundo eles, Renato não conseguiu estruturar a defesa do Bahia – embora tenha sido eliminado pelo Atlético-GO na última Copa do Brasil usando três volantes. Por isso nunca foi consenso no emprego.
Há uma coincidência: a mulher, Maristela, não o acompanhou a Salvador. Permaneceu no Rio, no apartamento de Ipanema. Se vier a Porto Alegre, ocupará a casa onde morava a mãe, dona Maria, no bairro Ipanema. Isso se Renato resistir ao frio e ao Minuano, agora, à beira do rio.
Próximo jogo, Brasileirão
15/08 - Grêmio x Goiás
Local: Estádio Olímpico
Horário: 18h30min
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