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Esportes  | 24/07/2010 08h11min

Um café com o capitão Bolívar

Zagueiro recebeu a tarefa de liderar o grupo colorado

Leonardo Oliveira  |  leonardo.oliveira@zerohora.com.br

No Inter, o general foi promovido. A capitão. Aos 30 anos, Bolívar acaba de assumir a braçadeira. O guri criado em Santa Cruz do Sul e forjado nos gramados do Gauchão está a quatro jogos de erguer a Libertadores. É dele a tarefa de liderar o mais estrelado grupo nestes tempos de vacas gordas do Beira-Rio. O General, como é chamado pela torcida, ascendeu.

No final da manhã iluminada de sexta-feira, Bolívar comprovou a estatura da nova patente. Ao chegar a passos no Café do Porto, encravado no coração da badalada Padre Chagas, um sujeito calvo, mais ou menos 30 anos, o recebeu:

– Fala, capitão, como é que tu estás?

– Bem, e você? – respondeu o zagueiro, tomando o caminho da parte interna do café.


No vestiário, os jogadores também mudaram a forma de se dirigir ao companheiro. Em vez de "general" ou "xerife", só o tratam como "capitão". Bolívar acha graça. Ainda se acostuma com a ideia. A escolha está ligada ao seu excelente trânsito no grupo. É ele quem recebe os mais novos e os entrosa. É a ele que os técnicos recorrem quando pretendem passar mensagem ao grupo. Mário Sérgio o telefona até hoje. Jorge Fossati o levou, mesmo machucado, para o Equador. Precisava do auxílio do zagueiro antes do jogo decisivo contra o Emelec. Agora. Roth reuniu o grupo para anunciar que a braçadeira havia passado de Guiñazu, ídolo da torcida, para o zagueiro. Não houve contestações.

O garçom se aproxima de Bolívar, manda saudações a Roth e anota o pedido de um capuccino grande, coberto com chantilly. O café chega rápido, com a velocidade do novo Inter. Enquanto o mexe, o zagueiro dimensiona o que significa virar capitão:

– Vim do Interior, cheguei aqui em 2003 com contrato de meio ano, me machuquei no terceiro jogo e fiquei quatro meses parado. Um jogador do Interior dar certo na Capital é raro. Virar capitão, nem se fala.

Os jogadores enxergam mesmo no zagueiro uma liderança. Quando os mais jovens, como Giuliano e Taison, gracejam com ele, há sempre um veterano para chamar a atenção:

– Olha o respeito com ele!

O zagueiro é rápido no desarme. Logo distensiona a situação. Dá o sinal verde para a brincadeira. Foram a simplicidade e as boas relações no grupo que o guindaram à liderança. Taison, por exemplo. Também criado no Interior, é o afilhado do novo capitão. Bolívar se comove com sua história de dificuldades, de garantir o sustento da família de 13 pessoas.

– É um guri de cabeça fantástica. E, agora, o Roth o colocou no lugar certo, pelo "corredor". Vai crescer muito, pode apostar – avisa.

O próprio Taison se sente protegido pelo amigo. Conta para Bolívar que, quando os adversários abusam da violência, sorri e faz o alerta:
– Pode bater. Só que depois o Bolívar vai te pegar lá do outro lado.

Bolívar se diverte com a história enquanto toma mais um gole do capuccino. O zagueiro assume: é dele mesmo a função de fazer o "serviço sujo" na frente da área.

– Aviso o pessoal: "Pode deixar comigo que eu chego junto". Mas também gosto de afinar, sair jogando – ressalva.

Zagueiro há apenas quatro anos, ele construiu reputação para arrepiar atacante. Chega sempre firme. Por vezes, passa da conta. E leva carraspana do pai, sempre atento e vigilante. Bolívar pai é rigoroso. Como o filho, começou no meio, virou lateral e acabou zagueiro. A diferença é que foi pela esquerda.

As conversas com o pai e a mãe têm hora marcada. Sempre antes dos jogos, por telefone. E nas folgas, claro. Bolívar gasta o tempo livre em Santa Cruz do Sul, onde eles moram. Com os filhos Tales, 10 anos, e Vitória, três, toma a estrada para o Interior. Lá, ele é o Fabian (o nome de registro). Os amigos se aprochegam, a casa enche e os tempos de infância são revividos. Bolívar é um sujeito leal às amizades. O empresário, Neco Cirne, por exemplo, é o mesmo dos tempos de Guarani-VA.

– Quando outros empresários me assediam e pedem o telefone, eu dou. Mas dou o do Neco – diverte-se.

O zagueiro pede a conta. É hora de almoçar e se preparar para mais um treino. Ele toma o caminho do estacionamento. Espera o manobrista em pé, na entrada do prédio. Uma motorista entra com um Focus preto e desce apressada. Confunde o zagueiro com o funcionário do local e lhe entrega a chave. Com um sorriso, Bolívar a desconcerta:

– Não trabalho aqui, estou esperando o meu carro.

A Mercedes Compressor do capitão, esportiva e reluzente, chega. Ele embarca e, antes de pegar a Padre Chagas, dá amostra de sua simplicidade e se diverte com a confusão:

– Leonardo, o problema dela foi essa camisa azul.

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