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 | 05/06/2010 08h10min

Ronaldo Veitia: "As mulheres são como palavras cruzadas"

Referência no judô, técnico da seleção feminina de Cuba concedeu entrevista a Zero Hora

Com um físico que ocupa facilmente pelo menos dois assentos de qualquer sofá, Ronaldo Veitia passa por um leigo insuspeito sobre o ramo no qual atua. Muitos esportistas, porém, abririam mão de um corpo tonificado para ter o currículo do cubano, técnico da seleção feminina de judô de seu país. À frente das atletas há 25 anos, Veitia não é um treinador qualquer. Aos 63 anos, com conquistas que somam 56 medalhas em mundiais junior, 22 medalhas olímpicas e 14 ouros em mundiais sênior, além do primeiro ouro feminino por equipes, no Mundial de 1996, é ícone em eficiência. Desde o início da semana, compartilha sua experiência com os atletas da Sogipa, com quem sua equipe disputará o Desafio Internacional, na terça-feira. Pela primeira vez na Capital, que é "bonita, tranquila e limpa, mas com poucos negros", no saguão do Hotel Porto Alegre, recebeu a ZH.

ZH — Qual é a fórmula para fabricar campeãs?

Veitia — É a união de três elementos: trabalho, trabalho e trabalho. Usar o conhecimento científico e unir a experiência dos profissionais são coisas importantes. Em Cuba, trabalhamos com psicólogo, médico e fisioterapeuta, além dos técnicos. Temos uma equipe reduzida, mas que tem resultados. No Japão, 4 milhões de pessoas praticam judô. Na França, 585 mil. Em Cuba, temos 1.250 atletas, mas, em proporção, muito mais medalhistas. A eficiência é fruto do trabalho incansável.

ZH — O que uma atleta precisa para ser campeã?

Veitia — Gostar do esporte. Isso é mais importante do que o talento. Não adianta ter potencial se a atleta não quiser vencer. As cubanas querem muito, por isso estão entre as melhores do mundo.

ZH — Como é trabalhar com mulheres?

Veitia — É maravilhoso. As mulheres são como palavras cruzadas: quando você consegue completar na vertical, falta algo na horizontal, então você tem que se esforçar todo dia para tentar decifrá-las. São imprevisíveis e determinadas em seus objetivos. Eu já trabalhei com homens, mas não troco. As mulheres são mais aguerridas e dedicadas ao trabalho.

ZH — Como funciona o judô em Cuba?

Veitia — Como uma pirâmide. Na base, temos os atletas escolares. Dos campeonatos escolares saem os juvenis. Temos um centro de treinamento juvenil em cada uma das 14 províncias do país. O topo da pirâmide é a equipe nacional, que é formada pelos melhores juvenis e treina em Havana.

ZH — Como é a rotina da equipe nacional?

Veitia — Treinamos de segunda a sábado, em dois turnos. Pela manhã, é judô, e, à tarde, preparação e reforço físico. No domingo, todos folgam.

ZH — Qual é o estilo cubano no esporte?

Veitia — É solto, alegre e é técnico. As cubanas fazem trabalho de macho sem perder a feminilidade.

ZH — Qual a principal dificuldade?

Veitia — Com certeza é o problema econômico. Mas isso não atinge só a Cuba, o mundo inteiro está passando por isso. Se antes tínhamos que nos virar com pouco, agora temos que usar ainda mais da inteligência e profissionalismo para atingir classificação para a Olimpíada. O governo sabe que o judô feminino pode trazer boas medalhas e premia os melhores atletas com casa e carro, além de custear os estudos.

ZH — O esporte é a principal maneira de os cubanos conhecerem outras culturas?

Veitia — Não. Temos a medicina e a arte fortalecidas no país, que também divulgam Cuba para o mundo e proporcionam experiências de troca para os cubanos. Mas o esporte é uma maneira de ter contato com outras culturas e viajar o mundo.

ZH — Como você vê o judô brasileiro?

Veitia —
O Brasil tem uma boa história no judô e treinadores muito capacitados. A seleção de Cuba já sabe que tem que ter cuidado com os brasileiros.

ZH — E a experiência em Porto Alegre?

Veitia — Está ótima. Porto Alegre é uma cidade bonita, parece a Europa, e o Brasil está nos ajudando na preparação para o Mundial de uma maneira nobre. Senão houvesse o subsídio do clube para virmos para cá, teríamos ido direto para casa depois da Copa do Mundo. Os franceses, por exemplo, não aprovam esse tipo de intercâmbio por achar que favorece o adversário. São desconfiados.

 
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