| 01/10/2009 07h16min
Maio, entre os dias 10 e 20. Embora se aproxime o fim do inverno, é uma manhã fria nos arredores de Londres, Inglaterra. O francês Arséne Wenger dá por encerrado o treino do Arsenal. Após o banho, os jogadores reúnem-se para almoçar no refeitório, onde os brasileiros Denilson e Eduardo da Silva, atacante naturalizado croata, oferecem um lugar na mesa para o moleque de Uruguaiana que veio fazer teste. À vontade, o meia de 17 anos do Juventude constata que a boa recepção não se limita aos compatriotas:
— O Fàbregas é gente boa.
Zezinho conheceu o capitão de um dos maiores times do futebol mundial e titular da seleção da Espanha, campeã europeia, durante o período de 10 dias de estágio em que foi um Gunner – equivalente de papo no Arsenal. Para consumo externo, do outro lado do oceano, em Caxias do Sul, ele gozava uma folga oferecida pela direção alviverde após retornar do Chile com o título sul-americano conquistado com a seleção brasileira sub-17.
Assista ao vídeo do
treino:
O despiste começou a cair quando um vídeo de parte do teste no centro de treinamentos do clube inglês vazou no site YouTube. Nos 32 segundos de imagens, o garoto toca bola vestindo o moleton vermelho da equipe, enquanto é orientado por um auxiliar e observado por Wenger.
Surpreso com a descoberta, Zezinho até tentou negar, quando perguntado, ontem à tarde. Mas acabou confessando a viagem em companhia do empresário Augusto Nogueira, do olheiro do Arsenal para o Brasil e do
vice-presidente do Juventude para categorias de base, Ely Scalabrin Júnior.
—
Falaram que eu fiquei 10 dias de folga... Fiquei nada! Fiquei trabalhando lá.
Por trabalhando, entenda-se: realizando exames médicos, físicos e, claro, treinando com os mesmos caras que ele conhecia apenas por Playstation.
— Até achava que nem iriam tocar pra mim, mas não teve nada disso. Me passaram a bola, eu toquei de volta, normal. Todos me trataram bem. Tem aquele lateralzinho... O... Click? (o lateral-esquerdo francês Gael Clichy), que é gente boa. O Van Persie é bem gente boa também... E o Denilson e o Eduardo me ajudaram bastante a entender o que os outros falavam.
Não só Zezinho. Os brasileiros versados no idioma de Shakespeare também prestaram socorro a Martinez, goleiro da seleção sub-17 da Argentina que levou um gol do juventudista na decisão por pênaltis em que o Brasil faturou a taça sul-americana e que estava no Arsenal pelo mesmo motivo naqueles dias. Mas, embora tenha sido grande, a língua não foi a única diferença percebida
pelo candidato na
experiência.
— Lá não tem coletivo. É só dois toques com goleirinha e campo reduzido. Bem rápido, dois toques, passe forte. Terminou, toma banho e vai pra casa. Não tem ficar de resenha no vestiário. E também não tem concentração. Só em jogos muito decisivos, valendo título, coisa assim.
De todos os trechos de diálogo com legenda, o que Zezinho guardou com mais atenção veio do técnico.
— Ele disse que havia gostado muito de mim e que esperava me reencontrar em breve.
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