| 04/07/2009 05h10min
Se o presidente Duda Kroeff cumprir a promessa de expulsar os sócios do Grêmio que imitaram um macaco quando Elicarlos, do Cruzeiro, entrou em campo no segundo tempo do jogo da última quinta-feira, estaremos diante de um marco no futebol brasileiro.
É um gesto importante e corajoso este do presidente. Como se sabe, Elicarlos é negro. Na pista atlética, enquanto aquecia, o volante que acusou Maxi López por racismo no Mineirão foi recebido aos gritos de "uh, uh, uh", oriundos de parte da social do Olímpico.
É caso clássico de intolerância racial. Não tem
essa de tentar emprestar outro significado numa situação assim. Encontre uma pessoa negra na rua, aproxime-se dela e a chame de macaco para
ver qual será sua reação imediata. Aposto que não será um sorriso.
Na Europa, a ordem da Uefa é punir os clubes que abrigam torcedores racistas. É uma atitude radical. Na maioria das vezes, a maioria paga pelo preconceito inaceitável de meia dúzia de acéfalos. Mas os gestos e cânticos abomináveis ganharam tal proporção, especialmente na Itália, que o jeito foi pressionar os próprios dirigentes a tomar alguma atitude, temendo sanções contra seus clubes.
Na Inglaterra, os hooligans começaram a ser banidos dos estádios quando os dirigentes cortaram na própria carne. Invadiu o campo? Está proibido de ver jogos do time do coração para sempre. Em pouco tempo, a civilidade voltou como passe de mágica. Não foi só isso, é claro.
No exemplo inglês, esta medida se inseriu em um contexto maior. O juiz Peter Taylor, responsável pelo inquérito que apurou os culpados na tragédia de Hillsborough, quando 95 torcedores do Liverpool morreram
esmagados em um jogo da Copa da Inglaterra
de 1989 contra o Nottingham Forest, em Sheffield, elaborou um estudo com uma série de sugestões.
Dez anos depois de declarado questão de Estado a partir do Relatório Taylor, e com o envolvimento comovente da sociedade, o futebol inglês saltou da violência institucionalizada para um espetáculo pacífico de entretenimento e rentabilidade financeira do mais alto nível.
Voltando à aldeia. A 2ª DP de Porto Alegre vai requisitar ao Grêmio fitas de vídeo a fim de identificar os torcedores que imitaram um macaco quando Elicarlos entrou em campo.
É o que diz a delegada Adriana Regina da Costa. No caso do Olímpico, o Grêmio não corre risco de punição. Ficou claro que não houve incentivo às imitações de macaco e aos gritos de "uh, uh, uh" para ofender o jogador.
O que diria Everaldo, herói negro do Grêmio na Copa de 1970, estrela dourada na bandeira tricolor, se presenciasse uma cena do
gênero em sua casa? E outros craques, como Ronaldinho,
Alcindo ou Jardel? Por certo, manifestariam a mesma justa indignação do presidente Duda Kroeff:
— Quero ver essas pessoas identificadas e punidas. Se forem sócios, serão expulsos do Grêmio e impedidos de voltar ao Olímpico. O Grêmio não é um clube racista.
Sem saber — ou talvez sabendo, o que seria melhor ainda — Duda Kroeff age como um seguidor do Relatório Taylor. Se punir torcedores comprovadamente racistas, estará dando um exemplo ao país. E livrando o Grêmio de um rótulo constrangedor, que precisa ser combatido pelos gremistas antes que cole.
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