| 01/05/2009 04h01min
Mais uma vez, Carlos Simon, 43 anos, está no olho do furacão. Agora devido a um pênalti polêmico em favor do Ceará, na final estadual diante do Fortaleza. Visto pela TV, o lance indica que o zagueiro Silvio, do Fortaleza, teria de atirar uma pedra para derrubar o atacante Edu Salles, tamanha a distância entre ambos. Mas o árbitro foi bombardeado nos programas esportivos até Silvio admitir toque no adversário. Bastou para Simon passar a receber ligações de desculpas, como ele próprio informou em entrevista ontem a ZH.
Carlos Simon diz que costuma ser criticado porque nunca fica "em cima do muro". Você concorda com o árbitro gaúcho?
O árbitro da Fifa fez um desabafo sobre convicções
pessoais e o preço que paga por segui-las.
Fotografado em sua sala na sede do Sindicato de Arbitragem, o qual preside, também revelou-se amante de literatura – gosta de Machado de Assis, Clarice Lispector, Erico e Luis Fernando Verissimo –”os melhores do Brasil” – e contou que está lendo Veneno Remédio: O Futebol e o Brasil, de José Miguel Wisnik, e Leite Derramado, de Chico Buarque. Formado em Jornalismo, leva no chaveiro duas réplicas minúsculas de cartões e uma pequena Taça Fifa. Lembrança para quem tenta chegar à terceira Copa:
– Não tenho rabo preso com ninguém. Não é soberba. É meu jeito de ser.
Zero Hora – Por que tanta discussão do pênalti em favor do Ceará?
Carlos Simon – É bom referendar que mais uma vez tenho razão. Vários comentaristas colocam a questão. Ela é, no mínimo, polêmica. Houve o toque no zagueiro? Houve. O próprio zagueiro admitiu. Então acontece o seguinte: sou uma personalidade em evidência na arbitragem brasileira há mais de 10 anos.
Sempre disse as coisas que eu penso e nunca fiquei em
cima do muro quanto a questões políticas, culturais e esportivas.
ZH – Você acha que está pagando um preço por não ficar em cima do muro?
Simon – As pessoas muitas vezes gostam que haja uma submissão, o fulano não pode falar, o sicrano não sei o quê... Já reconheci meus equívocos em público – não é o caso deste, porque não houve. No episódio do ano passado, a câmera me absolveu. Desde ontem (quarta) estou recebendo uma série de ligações com as pessoas se desculpando: “Pô, Simon, acertou de novo!”
ZH – Quem está ligando?
Simon – Jornalistas, árbitros, ex-árbitros, colegas e pessoas que treinam comigo na Redenção, no Parcão. Continuo apitando com alegria, com paixão. Coloco a cara para bater. Vou em programas de TV. Nunca me escondi, tanto na vitória quanto nos momentos difíceis. A imprensa sempre me encontrou.
ZH –
Você falou que estava de saco cheio. Pegam demais no seu pé?
Simon – Não é saco cheio.
As pessoas falam, e hoje falar no Carlos Simon repercute em qualquer canto do país. Estes blogs que citam meu nome têm um acesso enorme. No Carlos Simon todo mundo quer falar, velho. Tu falas em um árbitro desconhecido e o cara vai dizer: “não sei quem é”. Estou calejado.
ZH– Quer dizer que sem esta sua postura de se posicionar talvez as pessoas o tolerassem mais?
Simon – Claro. Mas veja bem: sou político e não abro mão dos meus princípios. Sempre defendi minhas ideias.
ZH – E as críticas diminuiriam se você fosse do centro do país?
Simon – Talvez. Se eu também ficasse quieto por tudo, não polemizasse... Quer dizer, abrisse mão do que eu sinto, do que eu penso. Fica tranquilo, não fala. Não. Sempre falei e defendi. Coloquei a cara para bater. É claro que têm pessoas que falam do Simon pela questão pessoal. Eu ouço, escuto e leio, mas o que me interessa. Se não me dou com
fulano, não vou ler o cara porque sei que vai escrever bobagem.
ZH – A Copa de 2010 já é realidade?
Simon – Olha, sou o único candidato brasileiro depois de uma série de baterias. Éramos 10 na América do Sul, eu e o companheiro Sálvio Spinola, de São Paulo. Em setembro estivemos na Suíça. Houve três pessoas cortadas, entre elas o Sálvio. Dos 37 pré-selecionados da Fifa, sou o com mais idade, faço 44 anos.
ZH – Mas antes de as pessoas voltarem atrás, não dá tristeza ter o nome criticado no noticiário?
Simon – Claro. Ainda mais de pessoas que tu tens consideração. Essas pessoas voltam atrás e se desculpam. Mas os que falam por falar, sem compromisso com a verdade e a ética, aí metem pilha que está acabado. Estes eu não escuto, leio ou vejo. O que vou esperar desses caras? Tem muitas pessoas que torcem por mim. Eu ajudo, faço meu trabalho social, quieto, não espalho.
ZH – Que trabalho é
este?
Simon – Não gosto de fazer propaganda. Faço porque quero. Só falei em questão social e
comunitária, e ponto.
ZH – Isto toma quanto do seu tempo?
Simon – Toma algum tempo. Vou, faço e presto caridade. Sou um cara católico, vou à missa, rezo, assisto a filmes, leio, vivo bem, tenho uma família maravilhosa que me apoia. Um filho meu é advogado, outro está no terceiro ano de Engenharia Civil, minha filha faz Jornalismo e o mais novo já está na sexta série com 11 anos de idade. Acho que o velhinho lá em cima tem me ajudado muito e, quando posso retribuir, o faço da melhor maneira possível, mas sem estardalhaço.
Simon diz que tem recebido ligações com pedidos de desculpas e comentando o pênalti do último fim de semana
Foto:
Adriana Franciosi
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