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 | 22/04/2009 05h10min

Escurinho e Alcindo, juntos na luta pela vida

Diogo Olivier, colunista online  |  diogo.olivier@zerohora.com.br






É uma linda história de solidariedade a que une dois dos maiores artilheiros da história do futebol gaúcho e brasileiro na luta contra o diabetes. Quando Alcindo, o Bugre Xucro, 64 anos, o homem escolhido por Pelé para jogar ao seu lado no Santos em 1971, o camisa 9 seis vezes campeão gaúcho pelo Grêmio na década de 60, quando Alcindo soube que Escurinho estava ficando cego, decidiu procurá-lo.

Os dois não eram amigos. Nas vezes em que se enfrentaram, ficavam longe um do outro, cada um rondando a área inimiga a procura do gol decisivo no Gre-Nal. Não se aproximavam nem na hora da troca de camisetas, ao final do clássico. Ou melhor: aí mesmo é que cada um ia para o seu lado.

— Naquele tempo não tinha nada disso. Imagina sair de campo com a camiseta do outro em um Gre-Nal! Nos encontrávamos só no escanteio. E olhe lá— diverte-se Alcindo, sentado em sua bucólica casa no bairro Vila Nova, Zona Sul de Porto Alegre.



Há três meses, Alcindo soube do sofrimento de Escurinho através de um amigo. O glaucoma avançado já o impedia de enxergar com o olho esquerdo e o obrigava a se submeter a quatro intermináveis sessões de diálise por dia. Sem falar na fila do SUS à espera do transplante de rim e dos exames para verificar a compatibilidade de alguns familiares, aí no caso de uma eventual doação em vida.

Mas ele, Alcindo, ainda tinha um olho inteiro intacto. Escurinho lutava contra a cegueira total. Assim, não tardou para ele e a mulher, Rosângela, irem até Guaíba a fim de trazer Escurinho para uma consulta com o seu oftalmologista, em Porto Alegre.

— Ele (Escurinho) fez o tratamento, mas não teve mais jeito. Depois, soube pelo jornal que ele havia amputado parte da perna. Fiquei triste. Sempre ouvi referências sobre a sua bondade. O "Escuro" é uma pessoa tão boa, mas tão boa, que até os gremistas gostam dele. Eu não: os colorados me odeiam — testemunha o Bugre Xucro, titular da Seleção Brasileira na Copa de 1966, na Inglaterra.

Engano seu, Alcindo. Desportistas de todos os matizes, colorados ou gremistas, jamais esquecerão de um centroavante que honrou as melhores tradições gaúchas com a camisa da Seleção Brasileira e, depois, ao lado de Pelé no Santos. E que, ao estender a mão a Escurinho, honrado adversário de tantos Gre-Nais, marcou um golaço de solidariedade.

Alcindo e Escurinho.

O diabetes não faz a menor ideia do que encontrará pela frente contra esta dupla.

Não mesmo.

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