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 | 27/02/2009 09h40min

Presidente do Caxias diz que clube está no caminho certo

Osvaldo Voges faz balanço da gestão e destaca a necessidade de um time aguerrido

Adão Junior e Elizeu Evangelista  |  adao.junior@pioneiro.com I elizeu.evangelista@pioneiro.com

Embora o Caxias não tenha alcançado os resultados esperados, presidente Osvaldo Voges acredita que o caminho está correto e tudo é uma questão de tempo. Já se passaram dois dos cinco anos de prazo de cinco para o sucesso no campo. Em entrevista ao jornal Pioneiro, o dirigente destacou o trabalho realizado para colocar as contas em dia, mas foi enfático: falta um time aguerrido, que vire o placar, que lute, como a torcida quer.

Confira a entrevista:

Pioneiro - Fora de campo, o Caxias mudou muito nestes dois anos. Pagou e renegociou dívidas, melhorou a infraestrutura. O que falta para o projeto decolar também dentro de campo?
Osvaldo Voges
- O nível de acertividade que tem que ter é muito grande. E aí nós falhamos, erramos. Não fomos capazes, no orçamento que dispúnhamos, que é muito aquém do que se precisa para fazer futebol profissional neste país, de acertar essa química do valor e das pessoas, para fazer um time competitivo. Tenho que fazer a mea-culpa. A experiência que sobrou para arrumar o Caxias enquanto entidade, e é isso que vai perenizar a história do clube, faltou para nós na beira do campo. Por isso as mudanças, porque quero acertar. Quero ser conhecido como presidente campeão e não como presidente que arrumou as contas do clube.

Pioneiro - Ainda há dívidas no Caxias? É possível quantificar o montante que já foi pago?
Voges
- Este mês eu tive uma penhora online na conta do Caxias, da Paraíba. No mês passado, tive uma penhora online do Rio Grande do Norte. Há cheques dados há anos, que corriam processo contra o Caxias na Justiça Civil, que a gente não sabe nem o que é. Pagamos na semana passada: um de R$ 8 mil e outro de R$ 10 mil. Ainda não temos todos os esqueletos. O Caxias, pela primeira vez, está sendo auditado por uma empresa de Porto Alegre. Vamos divulgar o balanço em breve. Sem dúvida a dívida é menor. Não é menos ainda porque a Timemania se mostrou um fracasso. Mas está tudo saneado, o Caxias tem contas em bancos, é um clube que opera numa normalidade administrativa.

Pioneiro - Quanto é investido mensalmente na Timemania, para quitar as dívidas com o governo?
Voges
- Estamos pagando uns R$ 10 mil ou R$ 15 mil por mês. Porque a Timemania hoje está num compasso de espera. Não está muito claro como vai ficar, há uma falta de regulamentos, uma arrecadação muito menor do que se esperava.

Pioneiro - Há um prazo para que o futebol aconteça, sob pena de o Caxias tornar-se inviável?
Voges
- Cinco anos. Quando assumi o clube, disse que de um a cinco anos o Caxias voltaria a ser um time de relevância nacional. Já se passaram dois. Eu acho que o pior momento do clube já passou. O Caxias hoje é um clube organizado. Se amanhã eu não quiser mais tocar ou se entender que não é mais prazeroso estar lá, quem pegar vai encontrar um Caxias muito mais arrumado.

Pioneiro - Já pensou em desistir? Chegou a se arrepender?
Voges
- Nessas horas eu penso no meu falecido pai alemão. Sabe como se colocam cinco elefantes num Fusca? Diz para um alemão que não cabe. É mais ou menos isso. Claro que há decepções. A química do futebol é diferente de uma prensa que eu compro aqui e que vai bater 200 blocos por minuto. Nós temos que aprender com os nossos erros. 2009 é o ano do campo. O clube está salvo. Mas, respondendo claramente: não pensei em desistir.

Pioneiro - Nos bastidores, as informações são de que o senhor já investiu mais de R$ 12 milhões no Caxias nestes dois anos. Confere?
Voges
- Prefiro não falar, mas é um bom número. Nosso balanço vai divulgar isso em março. Primeiro, apresentaremos para o conselho fiscal e, depois, aos conselheiros.

Pioneiro - O senhor sempre deixou claro que não fazia benemerência, e sim investimento. Sai mais dinheiro do que se arrecada?
Voges
- O Caxias tem um déficit mensal de R$ 200 mil. Quando vai bem nas competições, sem problemas. Mas quando vai mal, alguém tem que botar. Nós melhoramos muito o equilíbrio do clube. Teve momentos no ano passado que 2/3 da arrecadação era para a conta velha. Os carnês estão terminando. Antes, estavam saindo para fora da gaveta, agora tem só um montinho lá. Na nossa gestão, foram quatro ações trabalhistas. Duas, os atletas já perderam. E os outros também vão perder. Quando assumimos, o clube tinha 99 ações. Agora, são umas 12.

Pioneiro - Além da área do posto, quantos bens estavam indo a leilão? Esses bens, hoje, são do Caxias, do Grupo Voges ou não há essa distinção?
Voges -
O Caxias todo foi a leilão. Só não perdeu o estádio porque a Receita Federal pegou a área do estádio. Essa área está penhorada pela União, pelas dívidas tributárias que estão na Timemania. O campo suplementar foi todo vendido. São 60 terrenos que foram para leilão. Nós conseguimos resgatar praticamente todos e hoje são da Voges, que empresta gratuitamente ao clube. O posto é da SER Caxias. Ele foi a leilão umas sete vezes. Aí, eu dei um lance, mas a juíza disse que era conflito de interesse por eu ser o presidente do clube. Então, emprestei o dinheiro ao Caxias, e o clube recomprou o posto. O Posto Voges é do Caxias e está alugado para o meu irmão, que subloca a lojinha para o clube.

Pioneiro - Qual foi o maior acerto de Osvaldo Voges?
Voges
- Ter aceitado estar no Caxias. Isso mudou a minha vida, meus finais de semana, me integrou com a comunidade, me tornou mais cidadão. Hoje, sou uma pessoa pública.

Pioneiro - E o maior erro?
Voges
- Não ter conseguido ainda fazer uma equipe competitiva, que tenha o perfil da torcida do Caxias. Falta um time aguerrido, que vire o placar, que lute, como a torcida quer.

Pioneiro - No ano passado, o futebol ficou nas mãos de Afonso Moura. Depois, veio Túlio Cunha Lima. Profissionalizar demais foi um erro?
Voges
- O Afonso não foi muito feliz nas escolhas. O Caxias poderia ter gasto menos, mas se subisse para a Série B diriam que era pouco. Gastamos mal agora também, só que o Túlio não contratou ninguém sozinho. Ele tinha o maior zagueiro ao lado dele para ajudar, o Aloísio. E tinha o maior atacante da história do clube, o Brandão. Então, erramos todos. Agora vamos tratar de gastar menos. Não vamos mais concentrar em Porto Alegre para alguns jogos, como vinha ocorrendo antes. O Alceu Fassbinder vai ver tudo isso. Vamos economizar.

Pioneiro - E a folha de pagamento diminuiu em comparação à do ano passado?
Voges
- Este ano ela começou próxima a R$ 200 mil e agora deve ter estabilizado em R$ 180 mil, mais a parte da comissão técnica. Em algum momento da Série C do ano passado, a folha chegou a quase R$ 400 mil. Chegamos a ter cinco atletas com salário de R$ 18 mil cada.

Pioneiro - Falam-se muito das demissões do Grupo Voges desde o final do ano passado (houve pelo menos 300 cortes na fábrica nos últimos meses). Isso de alguma forma influenciou no Caxias?
Voges
- Demissões ocorreram na indústria? É lógico. Nós temos que nos adequar à crise global. Se nós vendermos mais motores, vamos contratar. Não estamos brigados com ninguém. É preciso entender que são coisas diferentes, nós trabalhamos com orçamentos. Ninguém está tirando dinheiro daqui. O Caxias também deu uma enxugada violenta, também passou por adequação. Encontramos o Caxias com R$ 24 milhões de dívidas, sem conta corrente em banco e com mais oficial de justiça do que jogador. O clube ainda vai gerar receita.

Pioneiro - E como fica a parceria se o senhor quiser sair?
Voges
- O contrato reza uma rescisão em 30 ou 60 dias. Mas não passa pela minha cabeça isso. Quando assumi, fiz uma declaração dizendo que, se daqui a 90 dias esse contrato for prejudicial ao Caxias, eu rasgo. Está valendo. Se algum cidadão desta cidade quiser assumir o Caxias e botar o que botei e fazer o que estou fazendo, manda fazer o cheque. Não sou o dono do clube. Estou presidente do clube. E estou muito feliz por estar fazendo isso.

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