| 04/03/2008 01h30min
Nada muda a não ser a atitude. Pelo menos essa é a garantia do presidente do Juventude, Sérgio Florian. Mesmo ainda bastante incomodado pela vexatória goleada de 4 a 0 sofrida domingo para o São Luiz, em Ijuí, que deixou o clube no limiar da zona de classificação para as quartas-de-final do Gauchão, o dirigente confirmou a permanência da comissão técnica e está convicto: Edson Gaúcho será o técnico alviverde para a Série B do Brasileiro, que começa em maio.
Florian quer fazer do momento de instabilidade e desconfiança que ronda o Estádio Alfredo Jaconi um trunfo para cobrar mudanças de comportamento imediatas do grupo de jogadores.
O presidente quer ouvir tudo o que os atletas têm a dizer o quanto antes. Provavelmente hoje, quando o grupo se reapresenta após a folga geral de ontem. No início da noite desta segunda-feira, Florian iria se reunir com todo o departamento de futebol para avaliar o atual momento do clube. Ele pede ao torcedor o que justamente
acredita estar faltando ao grupo de
atletas: tranqüilidade na hora das finalizações. A caminho do Jaconi, Florian conversou com o Pioneiro. E abriu a entrevista, mais ou menos assim ao ouvir da reportagem se estava tudo bem:
— Nem tão bem assim, mas vamos lá que temos muita coisa para fazer ainda. Pode ficar tranqüilo que as coisas vão se ajeitar.
Pioneiro: Bom, tu já abriste a conversa deixando nas entrelinhas que alguma coisa precisa mudar. O que, mais especificamente, pode mudar nesse momento, presidente?
Florian: A nossa grande mudança tem que ser de atitude. É fazer com que as pessoas que estão na nossa volta entendam a grandeza do Juventude. E não dá mais para fazer o comum, o trivial. É preciso fazer mais. O normal não está chegando, não é suficiente. Acho que o nosso grupo tem qualidade, vamos precisar trazer algumas peças no decorrer do ano, sim. Mas não posso acreditar que uma equipe sem qualidade alguma, como acabei ouvindo hoje (ontem) faça
partidas muito boas e, em seguida, faça partidas
abaixo da crítica.
Acho que essas pessoas precisam entender a oportunidade que estão recebendo do clube. Esses atletas que foram escolhidos para fazer parte da história do Juventude foram escolhidos não de maneira aleatória, mas criteriosa. E devem abraçar essa causa e fazer valer a tradição do Juventude. É muito complicado fazer uma atuação como a de ontem (domingo). Deixamos de matar o jogo em alguns momentos e, de repente, começamos a ver a coisa descambar.
Esse pessoal precisa entender que está representando uma nova fase do Juventude, de austeridade, mas sem perda de qualidade. Esse "mais" que queremos precisa vir de todos os níveis do clube. Da parte administrativa, financeira, do marketing... Todos precisam dar mais para o clube. Inclusive o departamento de futebol.
Pioneiro: E o que tu achas ser preciso fazer para o grupo assimilar isso? Porque uma mudança de atitude já foi cobrada pelo departamento de futebol e pela comissão
técnica há cerca de duas semanas no
vestiário, após a derrota para o Guarany-Ba...
Florian: Eu não cheguei a participar desse encontro. Todos nós ficamos meio assustados depois da atuação de ontem (domingo). Mas vou ser bem claro: nós não vamos desmanchar todo o trabalho que está sendo elaborado por causa de um resultado só. Não é essa a tônica.
Quando falo em mudança de atitude, quero fazer com que todos entendam o que representa o Juventude. Eu também fiquei muito incomodado e desconfortável com o que aconteceu. O que queremos agora é entender desse grupo qual a dificuldade dele. Quero identificar o que está acontecendo. Quero ouvi-los. Quero que todos falem o porquê dessa oscilação.
Precisamos de tranqüilidade, mas não dá para passar em branco o que ocorreu. Não há a mínima condição de alguém achar que isso é normal, pois não é mesmo. Eu, como dirigente, me coloco na pele daquele torcedor que vem aqui e paga todo o final de mês a sua mensalidade, que é um apaixonado
e merece uma satisfação. Eu também quero
uma satisfação, como o representante desse contingente de pessoas. Sempre com tranqüilidade. Ninguém vai crucificar ninguém, mas o grupo vai ter que responder algumas questões.
Pioneiro: Ao seu ver, então, o problema é do grupo mesmo? Porque depois de uma goleada como a que aconteceu no domingo, parece que a torcida elegeu como culpado o técnico Edson Gaúcho. Ainda existe a confiança da direção do Juventude no trabalho da comissão técnica?
Florian: Para quem acompanha o trabalho diariamente, sabe que aqui existe disciplina, cobrança da comissão técnica, comprometimento e fundamentos sendo trabalhados. Quem vê sabe que não é uma comissão técnica que está simplesmente largando 11 jogadores em campo para correr atrás de uma bola. Temos a convicção de que está existindo um trabalho.
O grupo está fechado pela autoridade, pela disciplina e pelo nível de relacionamento, sim. Posso ter a Seleção Brasileira na mão. Se não
existir isso no grupo, não se chega a lugar nenhum.
Ou, na linguagem do futebol, se houver trairagem, interesses divergentes, não se faz nada. Não vejo ninguém nos trabalhos fazendo corpo mole, não vejo uma comissão técnica relapsa... É muito simples a opinião das pessoas que estão de fora: mudar. Se mudarmos a cada derrota, vamos mudar toda a semana. Nossas convicções existem.
A primeira coisa que eu afirmo, categoricamente, é que vamos classificar no Gauchão. Não tenho dúvida nenhuma. O trabalho, assim, vai colher seu primeiro fruto. Aí, o diagnóstico vai sendo feito. A responsabilidade nesse momento não é por resultados pontuais. Esse grupo está oscilante, sim, mas também teve bons momentos.
Pioneiro: O que está faltando então?
Florian: Se a equipe não criasse oportunidades nos jogos, aí sim eu ficaria muito preocupado. Mas estamos criando. Caso contrário, sim, teríamos que pensar em algo mais de choque em um curto espaço de tempo. A equipe vem criando, mas não
conclui. Ao não concluir, dá uma instabilidade
emocional e acho que o que está faltando é justamente isso: tranqüilidade. Temos que fazer que esse nível de estabilidade se torne constante. Que se elimine a instabilidade que existe.
Pioneiro: A direção confia no trabalho do Edson. Será ele, então, o técnico do Juventude para a Série B do Brasileiro, a partir de maio?
Florian: Essa é a nossa aposta, sim. Nosso principal objetivo, não se esconde de ninguém, é de voltar à Série A no ano que vem. O perfil desse campeonato está enquadrado dentro do perfil do Edson Gaúcho.
Pioneiro: Falta pouco mais de dois meses para o início da Série B. Haverá mais dinheiro para acrescentar qualidade a esse grupo que vem disputando o Gauchão?
Florian: Temos um orçamento anual. O percentual alocado para o Gauchão é realmente menor do que o que teremos para a Série B. Vamos acrescentar qualidade no decorrer do ano, sim. Mas temos que ter
cuidado para não fazer no papel um supertime e depois ver estourar lá na
frente, quando não temos mais investimentos. O momento é de tranqüilidade. O time mostra que temos determinadas carências. Precisamos acrescentar? Então vamos lá. Mas tudo no seu tempo. Temos que saber quais são as nossas fortalezas e quais as nossas fraquezas. Em cima disso é que vamos trabalhar. Mas o mais importante agora é chacoalhar a turma para essa mudança de atitude.
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