| 14/06/2006 14h33min
De duas uma: ou Camoranesi é do tipo que não pensa antes de falar ou não tem medo da repercussão do que diz. Contestado por boa parte dos italianos por ter nascido na Argentina e se naturalizado no final de 2002 apenas para ter chance de jogar pela Azzurra – seu nome nunca foi comentado em seu país – ele deu mais munição aos seus detratores ao revelar que em 1990 vibrou como um louco quando a Argentina eliminou a Itália nas semifinais da Copa.
A declaração do jogador da Juventus deixou pasmos os jornalistas italianos presentes à coletiva no final da manhã desta quarta, em Duisburg. Ninguém acreditava no tamanho da ingenuidade – ou da coragem – de Camoranesi. Para quem é acusado de não nutrir nenhum sentimento pela Itália como pátria – a ponto de morar no país desde 2000, ser italiano desde 2002 e ainda não ter aprendido a cantar o hino – dizer que se divertiu com a eliminação da Azzurra em 1990 numa entrevista em que vestia o uniforme da seleção certamente não o ajudará a ser visto com mais simpatia no país.
– Eu tinha 14 anos e morava num bairro onde havia muitos italianos. Quando acabou o jogo, fui comemorar na rua e quase briguei com alguns italianos – contou.
Camoranesi conseguiu a naturalização por ter um avô, chamado Luigi, nascido num lugarejo chamado Potenza Picena. Ele é o primeiro estrangeiro a defender a Itália desde 1963, quando o brasileiro Sormani vestiu pela última vez a camisa azul. Antes de Sormani, vários brasileiros, argentinos e uruguaios jogaram pela seleção italiana – na final de 1934, por exemplo, o argentino Orsi fez um dos gols da vitória por 2 a 1 sobre a extinta Checoslováquia. O processo de transformação do argentino em italiano foi conduzido por Luciano Moggi, o ex-diretor da Juventus que é o maior vilão do escândalo que agita o futebol italiano – encomendava a escalação de árbitros que pudessem favorecer seu time, entre outras ações suspeitas.
Ele estreou na seleção em fevereiro de 2003, na vitória por 1 a 0 sobre Portugal em Gênova que também marcou a estréia de Felipão no comando dos portugueses. A declaração que deu naquela ocasião foi no mínimo infeliz:
– Ainda me sinto 100% argentino. Jogar pela Itália é apenas uma questão futebolística.
Para os italianos, que são patriotas ao ponto de cantar a plenos pulmões o hino nacional onde quer que a Azzura jogue, não foi nada simpático ouvir aquilo. E nesta quarta Camoranesi completou o serviço falando sobre a satisfação que teve ao ver a Itália fora da Copa que organizou.
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