| 23/10/2003 21h28min
O presidente da Venezuela Hugo Chávez está oferecendo aumentos salariais, abonos e reformas sociais para servidores públicos, militares e população carente. Segundo analistas, trata-se de uma tática para evitar um referendo que pode afastá-lo do poder.
O referendo pode acontecer no final de março de 2004 caso a oposição reúna, até o começo de dezembro, as assinaturas necessárias para sua convocação. Por isso, o governo e seus adversários já estão lutando para conquistar corações e mentes dos 12 milhões de eleitores.
– O Natal chegou mais cedo – gritou Chávez nesta quarta, dia 22, ao anunciar os aumentos e abonos para funcionários públicos e militares, o que vai representar um gasto de milhões de dólares para o governo.
Em discurso pela TV, Chávez também se desmanchou em elogios aos novos projetos populares de educação e saúde, que recebem assistência do regime comunista cubano.
– O cara está em campanha e está distribuindo dinheiro por aí – afirmou à Reuters Robert Bottome, da consultoria VenEconomy.
As pesquisas indicam que a maioria dos venezuelanos concorda com a destituição de Chávez, mas o presidente afirma que tais pesquisas são manipuladas.
Uma delas, feita pelo instituto Mercanalisis entre 9 e 28 de setembro e divulgada nesta quintam dia 23, mostra que 55% dos entrevistados pretendem votar contra Chávez no eventual referendo. Mas a mesma pesquisa mostrou que a taxa de aprovação ao governo subiu para 39%, sete pontos acima do que foi registrado há um ano.
– Chávez está ampliando sua estratégia populista, e isso o está ajudando a reconquistar algum terreno perdido – disse Luis Vicente León, da Datanalisis, que em setembro registrou uma recuperação de cinco pontos na imagem do presidente.
A oposição acusa Chávez de estar levando a Venezuela para uma ditadura inspirada em Cuba. O presidente se queixa de uma campanha de "oligarquias" contra a sua "Revolução Bolivariana", que ainda goza de grande apoio entre os mais pobres.
Os adversários de Chávez estão divididos e se ressentem da falta de uma liderança expressiva. A oposição vai fazer uma campanha nacional de recolhimento de assinaturas pelo referendo entre 28 de novembro e 1o. de dezembro. Seu objetivo é recolher pelo menos as 2,4 milhões de assinaturas necessárias para a convocação.
– Vai ser uma luta acirrada – prevê Bottome.
Os líderes da oposição acusam o governo de fazer uma campanha de intimidação em órgãos públicos e quartéis, ameaçando demitir funcionários e militares que assinarem a petição. Chávez, que nega existir essa pressão, prevê que os adversários não vão conseguir convocar o referendo e os acusa de estarem preparando atos violentos durante a campanha pelas assinaturas, a fim de disfarçar sua fragilidade política.
– Garantimos que haverá paz – disse o presidente.
Os aumentos e abonos oferecidos por Chávez são possíveis porque há sinais de que a Venezuela está saindo da recessão, provocada pela longa greve geral mantida pela oposição, que prejudicou o importante setor petrolífero do país.
A restauração das exportações de petróleo, o aumento das reservas internacionais, a imposição de controles cambiais e a bem-sucedida renegociação da dívida externa animaram Wall Street. A Fitch Ratings previu que Chávez vai evitar o referendo e cumprir o seu mandato até o final, em 2006.
Com informações da Agência Reuters.
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