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O Brasil e o mundo perderam o diplomata Sérgio Vieira de Mello nesta terça, dia 19, após o maior atentado terrorista da história contra uma representação da Organização da Nações Unidas. A notícia do ataque na capital do Iraque, Bagdá, chocou o Brasil. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva decretou luto oficial de três dias em memória do diplomata, o mais bem-sucedido brasileiro atuante na ONU. Vieira de Mello morreu aos 55 anos, deixando mulher e dois filhos. Pelo menos outras 16 pessoas foram mortas no atentado e 108 ficaram feridas.
Lula disse que Vieira de Mello foi vítima da "insanidade do terrorismo" e pediu um minuto de silêncio em homenagem ao alto comissário para os Direitos Humanos da ONU, que foi nomeado para a missão no Iraque em maio, após o fim dos principais confrontos naquele país. Lula decidiu prestar uma homenagem póstuma ao representante da ONU. O presidente decidiu conferir ao embaixador a Ordem Nacional do Mérito no grau Grã-Cruz - o mais elevado da comenda.
– Eu queria aproveitar este momento para enviar as minhas condolências à família do embaixador Sérgio Vieira de Mello e decretar luto – disse Lula durante encontro com o presidente do Chile, Ricardo Lagos, na Granja do Torto.
Embora não tenha feito carreira diplomática no Itamaraty, a morte de Vieira de Mello chocou membros da diplomacia brasileira e de outros funcionários brasileiros da ONU. O ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, disse esperar que a morte de Vieira de Mello - que ganhou ampla notoriedade internacional no processo de pacificação do Timor Leste antes da sua independência em 2002 - reforce a luta contra o terrorismo.
– É preciso que a morte brutal de Mello não seja em vão, mas que ela nos fortaleça para encontrar formas de lutar contra o terrorismo de maneira racional, com o apoio do multilateralismo e do direito internacional – afirmou Amorim.
Vieira de Mello era visto por alguns diplomatas brasileiros como um profissional muito hábil e competente, capaz de apaziguar os ânimos, principalmente o dos norte-americanos. Exemplo disso é o apoio que teve dos EUA para assumir a missão no Iraque em maio, prevista para durar quatro meses.
– Ele era um diplomata muito pragmático, muito objetivo, que conseguia resultados – disse o embaixador Rubens Barbosa, que ocupou a embaixada do Brasil nos EUA.
Sua forma de liderança era tida como suave, porém firme e corajosa, afirmou o embaixador Paulo Tarso Flecha de Lima, que conheceu Vieira de Mello quando era um adolescente em Roma.
– Ele era usado nas missões difíceis. Nós brasileiros sentimos muito, é um homem que vai fazer falta – disse Flecha de Lima.
Vieira de Mello era filho de diplomata, estudou na França e trabalhava na ONU há quase 35 anos. Ele começou sua carreira como editor-júnior das publicações da Acnur (o órgão para refugiados da ONU) em 1969, em Genebra. Sua trajetória incluiu passagens por guerras civis sangrentas no Paquistão, Sudão, Moçambique e Líbano. Ele também conduziu trabalhos humanitários e com refugiados na Bósnia e em Kosovo antes de assumir sua maior tarefa, mobilizar um governo interino no Timor Leste.
Nesta terça, quando os funcionários se preparavam para ir embora, às 16h30min (9h30min em Brasília), um caminhão-bomba explodiu sob a janela do brasileiro, que pode ter sido o alvo principal da ação. O escritório dele, no hotel Canal, usado pela Organização das Nações Unidas na capital iraquiana, foi totalmente destruído. Vieira de Mello era o representante direto do secretário-geral da organização, Kofi Annan, no Iraque. Ele ficou várias horas preso sob os escombros antes de morrer de ferimentos decorrentes da explosão.
Havia cerca de 300 pessoas no prédio. Pelo menos 108 funcionários da ONU ficaram feridos e muitos continuavam presos nos escombros horas mais tarde, razão pela qual, segundo as autoridades, o número de vítimas fatais deve continuar subindo. Uma câmera de vídeo registrou o momento da explosão de dentro do prédio, onde funcionavam várias agências da ONU.
O presidente dos Estados Unidos, George W. Bush, disse que o ataque não intimidaria o mundo e que os assassinos não ditariam o futuro do Iraque. Annan, interrompeu suas férias em Helsinque e voltou às pressas para Nova York.
– Nada pode explicar esse ato de violência cruel contra mulheres e homens que foram ao Iraque com um único propósito: ajudar o povo iraquiano a reconquistar sua independência e soberania, e a reconstruir seu país o mais rápido possível, sob a liderança que escolher – disse Annan em um comunicado.
Ele afirmou, porém, que a entidade não se retiraria do Iraque. O Conselho de Segurança da ONU também divulgou nota reafirmando o papel da organização no país.
Falando ao Conselho de Segurança da ONU em julho, Vieira de Mello fez um alerta que agora parece premonitório: "A presença das Nações Unidas no Iraque permanece vulnerável a qualquer um que queira ter nossa organização como alvo".
O ataque chocou os funcionários na sede da entidade, em Nova York. Alguns funcionários da ONU choraram ao ver as terríveis imagens de destruição que chegavam de Bagdá. As bandeiras dos 191 países da ONU, que enfeitam a fachada da sede em Manhattan, foram retiradas. Ficou só o pavilhão azul e branco da ONU, a meio-mastro, em sinal de respeito pelos mortos.
– A morte de qualquer colega é dura de agüentar, mas não consigo pensar em outra pessoa que mais devesse ter a vida poupada. Ele impressionava a todos com seu charme, sua energia e sua capacidade de fazer as coisas, não pela força, mas pela diplomacia e a persuasão – afirmou Kofi Annan
Agindo com habilidade em um terreno política e diplomaticamente complicado, Vieira de Mello conseguiu rapidamente o respeito do administrador civil dos EUA no Iraque, Paul Bremer, apesar das tensões existentes entre Washington e a direção ONU a respeito da guerra.
– O relacionamento é profissional, construtivo e franco – disse Vieira de Mello na semana passada no Cairo.
As informações são da agência Reuters.
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