Esportes | 19/11/2010 08h57min
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Da miséria ao estrelato. Da fome à fartura. A história é comum entre jogadores de futebol que venceram na vida, apesar da infância difícil. A vida do zagueiro Índio, 35 anos, porém, é digna de livro ou de um longa metragem. Não por acaso, o filme preferido do zagueiro é 2 Filhos de Francisco, que conta a trajetória sofrida dos músicos Zezé di Camargo e Luciano.
Até os 19 anos, Marcos Antônio de Lima – apelidado Índio pelos cabelos compridos – era boia-fria (trabalhador rural que come no trabalho a comida, geralmente fria, que leva de casa) em Maracaí, no interior de São Paulo. Cortando cana e vendendo pastel e picolé ele ajudava a sustentar a família, abandonada pelo pai quando tinha 12 anos.
À época, seu projeto de futuro era ser tratorista, o que significava crescer na vida.
– Nos momentos difíceis, nunca perdi a fé. Sempre fui perseverante e me dediquei para conseguir os objetivos – orgulha-se.
Carreira começou tarde
A carreira de um dos jogadores mais vitoriosos do Inter começou aos 20 anos. Um rapaz chamado Vítor, que jogava no Novorizontino, viu Índio jogando na várzea e convidou-o a participar de uma peneira.
– Pedi folga e fui a Nova Horizonte, uns 350km de Maracaí. De 100 meninos, ficaram 10, depois dois. Fui um deles – recorda.
Futebol não foi só maravilhas
O dinheiro era escasso, mas a mãe, Aparecida, e os irmãos Adilson Junior e Claudia apoiaram Índio no sonho de ser jogador. Do Novorizontino, foi para o Bragantino. As dificuldades, porém, não acabariam ali:
– Fiquei oito meses sem receber. Pensei em desistir, mas minha mãe ajudava e incentivava.
Quando se firmava no futebol, uma tragédia quase abreviou sua carreira. Uma pancada na canela, mal tratada, por pouco não obrigou à amputação da perna direita. Em 2005, já no Inter, levou outro grande susto ao fraturar duas costelas e ter o pulmão perfurado, contra o Rosário Central. Foram seis meses de molho.
Veterano também sente frio na barriga
Depois de rodar o interior paulista, Índio jogou em Juventude (2002 e 2004) e Palmeiras (2003).
Foi no Beira-Rio, a partir de 2005, que veio a compensação do sofrimento anterior. Os cinco anos no Colorado resumem-se em duas Libertadores, Mundial, Sul-Americana, Recopa, copas Dubai e Suruga e três Gauchões. Além das faixas, superou o ídolo Figueroa em número de gols: 27 com a camisa vermelha.
Mesmo com tantos títulos, Índio afirma que a emoção de jogar em Abu Dhabi será diferente. Ele é o único remanescente do jogo histórico contra o Barcelona, em 2006:
– A expectativa é grande, e estou muito ansioso.
Exemplo de vida para os filhos
Marcos, 10 anos, e Gabriela, sete, têm uma infância muito diferente do pai.
A fome que Índio passou e a violência doméstica que sofreu estão longe da realidade dos filhos. Com a condição financeira que o futebol lhe deu, o pai dá à família tudo com o que jamais sonhou quando pequeno.
As tristes histórias da infância, contudo, viram experiência, e servem para os piás valorizarem o que têm.
Além de companheiro do pai, Marquinhos chama atenção dos colegas de Índio pelo chute potente. Alecsandro e D’Alessandro até brincam que querem empresariar o guri.
Um cara simples
Apesar de a realidade financeira ter mudado muito, Índio mantém-se simples. Agora, veste roupas de grife e vive mudando o penteado, mas é apontado pelos funcionários do clube – muitos dos quais chama de “pai”, talvez pela ausência da figura paterna – como um dos jogadores mais humildes.
O hábito de pescar ainda é o favorito:
– Ia sempre num pesqueiro aqui em Porto Alegre. Às vezes, vou na fazenda de amigos.
Mesmo não sendo fervoroso, o xerife frequenta a Igreja Evangélica:
– Sempre acreditei em dias melhores. Procuro, quando posso, ir à igreja.
Conheça mais do ídolo
- Nome: Marcos Antônio de Lima
- Data e local de nascimento: 14/2/1975, em Maracaí (SP)
- Comida preferida: arroz, feijão, ovo e bife
- Último filme que viu: Karate Kid, de Harald Zwart
- Jogo inesquecível: a final do Mundial de 2006, contra o Barcelona
- Onde passa as férias: “Em Maracaí, minha cidade natal.”
- Ídolo no futebol: Bolívar, zagueiro do Colorado
- Ídolo na vida e por que: “Minha mãe, Aparecida, que sempre amparou eu e meus irmãos nos momentos mais difíceis.”
- Se não fosse jogador de futebol? “Como trabalhava na roça, pensava em ser tratorista ou caminhoneiro.”
- Grau de escolaridade: Ensino fundamental incompleto
- Pior situação em campo: Quando quebrou a costela, contra o Rosario Central, pela Sul-Americana de 2005.
- Música preferida: No Dia em que Eu Saí de Casa, de Zezé di Camargo e Luciano
- Filme preferido: 2 Filhos de Francisco – A História de Zezé di Camargo & Luciano, de Breno Silveira
Índio brinca com trator em treino do Inter em Bento Gonçalves
Foto:
Marcelo Campos,MCDez, divulgação
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