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 | 02/10/2010 15h10min

A profecia de Nostradamus colorada






No já distante começo do milênio, no ano 2000, João Paulo Medina era coordenador técnico no Beira-Rio. Tratava-se de uma iniciativa pioneira, na gestão do presidente Fernando Miranda. Medina era um profissional remunerado, cuja missão parecia mesmo milagrosa: integrar todas as áreas do clube e reorganizar os processos das categorias de base, como forma de preparar o futuro. Isso tudo sem dinheiro, que os anos 90 foram medonhos nesta área para o Inter.

Medina é um homem cordato, intelectualizado, incapaz de uma grosseria. Duvido que tenha matado uma mosca, mesmo no auge de um acesso de raiva. Então, a certa altura do campeonato, Medina arriscou-se numa frase que o marcaria a ferro e fogo para sempre na Província de São Pedro:

— O que estamos fazendo no Inter não é para dar resultado agora. É para cinco ou seis anos.

Faltou pouco para a insurreição. A torcida, marcada de cicatrizes após quase 20 anos de derrotas, não aceitou ter que esperar tanto tempo — ainda mais sem garantias. Colorados ilustres se opuseram em público. A imprensa registrou a gritaria toda, criando um clima de insatisfação.

Expressões como "planejamento" ou "trabalho multidisciplinar", hoje corriqueiras entre profissionais remunerados como Rodrigo Caetano, viraram chacota. Medina não teve outra saída senão deixar o Inter. Hoje, uma década depois, ele brinca:

— Não sou Nostradamus, mas acertei na mosca. Cinco, seis anos depois o Inter começou a vencer. Fui incompreendido, mas não guardo mágoa. Entendo a torcida e mesmo a imprensa. Reconheço méritos em quem veio depois da gente, mas fico feliz de ter acertado  diz Medina, 62 anos, que depois do Inter trabalhou na Arábia Saudita e, hoje, pilota uma consultoria esportiva com atuação nos Estados Unidos e Brasil.

Medina lembra dos tempos de penúria com alguma dor, mas suaviza o tom crítico, bem ao seu estilo lorde inglês:

— As vendas de Rochemback por US$ 12 milhões e Lúcio por US$ 9 milhões só pagaram dívidas. Ouvi que deixamos o vestiário vazio: deixo isso por conta da natural disputa política do clube. Lembro de quando Pato, Daniel Carvalho e Nilmar chegaram ainda meninos, como parte do nosso trabalho na base. Mas ninguém sabia quem eram estas jóias naquela época, é claro.

Pode haver controvérsias de entendimento no que diz Medina, é claro, mas é interessante ouvi-lo 10 anos depois. É um bom debate.



 


 

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