Foi através da combinação de liberdade e responsabilidade que Renato Portaluppi reabilitou Douglas. Alvo da contestação dos torcedores, o meia foi avisado pelo técnico, antes do jogo contra o Goiás, de que estaria desobrigado de marcar, "desde que resolvesse lá na frente".

O próprio Renato relatou o episódio a Zero Hora, após o treinamento de ontem. Ele ocorreu domingo, durante a preleção, ainda no Hotel Deville. Diante de todo o grupo de jogadores, Renato comunicou a Douglas que marcar os volantes do time adversário deixaria de ser sua atribuição. Ferdinando e Willian Magrão assumiriam a tarefa. O mesmo recado foi ouvido por Souza.

— Vocês dois são jogadores diferenciados. Não podem marcar. Quem marca não tem perna para criar. Mas quero efetividade lá na frente, com a bola nos pés — cobrou Renato.

Com liberdade, Douglas e Souza foram decisivos na construção da vitória que interrompeu uma série de oito jogos oficiais sem vitória e retirou o Grêmio da zona de rebaixamento do Brasileirão. Douglas, que recebeu aplausos ao deixar o campo, substituído por Fernando, participou dos dois gols.

— Se eu quisesse mais gente marcando no meio, usaria mais volantes. Jogador de criação, que tem a responsabilidade de decidir o jogo, só precisa cercar — entende o treinador.

Renato repete com Douglas e Souza uma experiência vivida em 1987, quando formava com Bebeto o ataque do Flamengo campeão brasileiro, em disputa contra o Inter, no Maracanã. Eram frequentes, conta ele, suas divergências com o técnico Carlinhos, que exigia dele que marcasse o lateral-esquerdo adversário.

Renato recusava-se a cumprir as determinações do treinador. Alegava que não teria condições de marcar e atacar. Foi preciso a intervenção de Zico, hoje diretor de futebol do Flamengo, para que Renato se visse livre das cobranças.

— Deixa que eu marco o lateral deles. Renato e Bebeto precisam ter forças para resolver as coisas lá na frente — propôs Zico, uma cena que o técnico reproduziu com sorrisos passados quase 23 anos.

A chegada de Renato distensionou o ambiente. Um dia após a vitória contra o Goiás, a primeira em jogos oficiais desde 3 de junho, quando o Grêmio derrotou o Atlético-MG, os jogadores circulavam sorrindo pelo pátio. Ontem, com paciência, o técnico tirou fotos com um grupo de torcedores, em frente ao Memorial do Olímpico. Reuniu-se por com dois torcedores da Geral.

Para o meia Souza, o time agora está mais organizado:

— Ele não quer o time jogando como um bando — contou o novo capitão gremista, em substituição ao goleiro Victor que perdeu a braçadeira com Renato.


A agenda do Grêmio no Brasileirão: