| 20/12/2009 05h10min
Torci por uma vitória do Estudiantes sobre o Barcelona, na final do Mundial de Clubes, nos Emirados Árabes. Na decisão da Libertadores tive mais sorte. A história de amor dos Verón, pai e filho, com o clube de La Plata, é comovente. Em tempos de intolerância e de vitória a qualquer custo, é um bálsamo de esperança no futuro.
Juan Ramón, o atacante, La Bruja, foi o ícone do tricampeonato da Libertadores em 1968, 1969 e 1970. Sagrou-se campeão do mundo em 1968. Juan Sebastián, volante, chamado La Brujita em homenagem ao pai, ontem tentou repetir o pai. Não conseguiu.
Aos 34 anos, astro da seleção argentina, com passagem por Manchester United e Inter, de Milão, La Brujita podia estar jogando em qualquer lugar do mundo, enchendo os bolsos de dinheiro. Escolheu realizar o sonho de quem o levava pela mão para os treinos
em La Plata: vê-lo campeão pelo Estudiantes. Voltou
para casa só por isso. Gestos assim superam tudo: pátria, rivalidade, o que for.
Mas a vitória do Barcelona de virada por 2 a 1 revela um outro aspecto interessante. Não me venham mais com aquele papo colonizado de que os europeus não dão importância para o Mundial de Clubes.
Se é assim, por que o técnico Guardiola chorou de emoção após o jogo? E antes, qual o motivo para roer unhas quando perdia por 1 a 0? O que era a alegria de Messi ao marcar de peito o gol do título? Se os europeus consideram o Mundial de Clubes menos importante do que a Liga dos Campeões, qual a razão para aquela loucura do Barcelona ao festejar o seu primeiro título do mundo? Se para eles tanto faz como tanto fez ganhar ou perder, por que os europeus jogam SEMPRE com os titulares?
Pode apostar: haverá festa junto ao mar em Barcelona. O aeroporto lotará para recepcionar os heróis. O rei Juan Carlos irá recebê-los no Palácio. Desde ontem, acabou último resquício do Complexo de
Vira-Latas, expressão eternizada por
Nelson Rodrigues para definir como o Brasil se comportava no futebol antes do nosso primeiro título na Suécia, em 1958.
Os clubes europeus têm dinheiro farto, mídia exagerada, formam grandes times, compram os melhores jogadores do mundo, mas na hora do enfrentamento com equipes brasileiras e argentinas, é sempre como ontem: difícil, guerreado, equilibrado. Perdem e ganham como qualquer mortal.
Antes de finalmente vencer o Estudiantes na final, o Barcelona havia perdido para São Paulo e Inter. O Hamburgo, ao ser derrotado pelo Grêmio em 1983, foi para casa triste, arrasado. E também o Liverpool, em 2005, ao ser vice do São Paulo. Há mais exemplos, mas fiquemos nestes, apenas.
Não é tão difícil assim ganhar deles. O Estudiantes, mesmo perdendo, é prova disso.
Viva o fim do Complexo de Vira Latas no Mundial de Clubes.
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