Geral | 31/07/2009 05h21min
Para conter o avanço galopante da gripe A no Estado, que pelas projeções deve contaminar 2,8 mil gaúchos por dia e alcançar 40 mil casos até a próxima semana, mais de 1,5 milhão de alunos de diferentes redes de ensino terão o recesso escolar prolongado até o dia 17.
Os esforços tentam evitar um cenário assustador: segundo as projeções mais pessimistas, até 35% da população seria contaminada – cerca de 3,7 milhões de gaúchos.
– Não temos como prever o pico. Com escolas fechadas, esperamos retardar esse pico. Todo o tempo ganho é importante – diz o diretor do Centro Estadual de Vigilância em Saúde do Estado, Francisco Paz.
Segundo a historiadora Nikelen Witter, especialista em história da saúde e professora da Unifra, a quarentena é uma estratégia contra epidemias desde a época medieval, quando passageiros esperavam 40 dias para desembarcar dos navios, para evitar a disseminação da peste negra.
– A quarentena sempre funcionou como
uma forma de diminuir o contágio avassalador
durante a ascensão do vírus. Nós nos fortalecemos como espécie, porque da próxima vez já seremos mais fortes– analisa.
“A escola tem papel social”
Entrevista: Maurício Erthal, vice-diretor administrativo do Colégio Rosário, da Capital, que prorrogou o recesso
Zero Hora– Por que a escola optou por prorrogar o recesso?
Maurício Erthal – A questão maior é o aumento dos novos casos, e estamos acompanhando a determinação do Estado e a decisão do Sinepe para que se protelasse a volta do recesso. A intenção é garantir a saúde da família e do educador.
ZH – Como está sendo a reação da comunidade escolar?
Erthal – A primeira e central é o apoio. Está todo mundo apoiando e se solidarizando. Mas também existe uma preocupação com a recuperação dos conteúdos, especialmente no Ensino Médio, por causa dos prazos do Enem (Exame Nacional do Ensino Médio) e do vestibular.
ZH – Já está definida como será feita a recuperação das aulas?
Erthal –
Vamos fazer uma reunião na segunda para adequar o calendário. Acreditamos que os alunos não correm o risco de ser prejudicados. Até porque esse cenário geral exigirá uma análise mais ampla das universidades e do próprio governo. Outros órgãos também precisarão garantir que os alunos possam cumprir os prazos. Provavelmente os calendários dos vestibulares vão ser flexibilizados. A escola tem um papel social para minimizar no que for possível a epidemia.
ZH – Quando os alunos voltarem para a escola, o que será feito para prevenir a contaminação?
Erthal – Estamos atentos às recomendações do Ministério da Saúde e da Secretaria da Saúde. A primeira orientação que estamos dando é que, se alguém sentir qualquer sintoma, não volte à escola. E um ponto importante é que o recesso não precisa ser um tempo longe dos estudos. Os alunos também podem aproveitar para revisar os conteúdos em casa e fazer simulações do Enem pela internet.
Não vai
adiantar
Embora reconheça a boa
intenção de tentar reduzir a circulação do vírus pela suspensão das aulas, uma série de especialistas é descrente quanto à eficácia da medida, adotada de forma maciça nas redes estadual e particular de ensino – e por mais de 35 redes municipais.
Para eles, o fechamento das escolas por si só tem pouco efeito sobre a epidemia. Na avaliação do infectologista Gabriel Azambuja Narvaez, chefe do serviço de infectologia do Hospital São Lucas e gestor médico do Controle de Infecções do Hospital Mãe de Deus, outras medidas são fundamentais, como a conscientização dos jovens para mudar hábitos de risco.
– Não vai mudar muito. Para funcionar teria que se mudar a cultura de aglutinação, os jovens teriam de ficar restritos em casa. A chance de funcionar está muito relacionada ao que o aluno faz no tempo livre, e não me parece que houve uma preparação nesse sentido – alerta Narvaez.
Opinião semelhante tem o infectologista Paulo Olzon, da Unifesp, que defende
programas de prevenção entre as
escolas. Os transtornos provocados pela medida e a falta de evidências que comprovem uma diminuição significativa do número total de infectados são outros argumentos utilizados por críticos para questionar a aplicação da medida de emergência.
“Interromper dá problema”
Entrevista: Ruben Goldmeyer, diretor do Instituto de Educação de Ivoti, que manteve as aulas
Zero Hora– Por que a escola optou por manter as aulas?
Ruben Goldmeyer – Primeiro, porque já havíamos reiniciado as aulas na segunda. A decisão mais difícil foi o reinício, até porque temos alunos de outros municípios e Estados, e poderia haver algum problema. Se a notícia tivesse vindo antes, poderíamos ter segurado mais. Mas também decidimos continuar porque os municípios da região estão confirmando o reinício das aulas. Não tivemos nenhum caso na escola ainda.
ZH – E como está sendo feita a prevenção?
Goldmeyer – Estamos dialogando com os pais e com os alunos sobre as medidas de
prevenção, e usando bastante as notícias de jornais, de sites, de forma pedagógica. Dá para ver que os próprios especialistas têm opiniões diversas, não são unânimes sobre o fechamento das escolas.
ZH – Qual a reação dos pais e dos alunos?
Goldmeyer – Os pais estão divididos. Temos um grupo de pais que faz pressão para que se interrompa o ano letivo, outros dizem que não devemos suspender, porque senão os filhos vão ir para os shoppings e se contaminar igual. É difícil tomar uma decisão. Vamos tentar continuar as aulas e monitorar. Daqui a uma semana a posição pode ser diferente.
ZH – Como tem sido a frequência?
Goldmeyer – Tivemos dois alunos com febre que faltaram às aulas, e uma professora também está em observação. Mas por enquanto a frequência tem sido regular. A gente estava com o coração na mão na hora de decidir se voltaríamos do recesso. Dentro da atual situação, entendemos que interromper as aulas vai dar mais
dificuldades do que ajudar.
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