| 16/01/2009 14h59min
Seis gazebos brancos são tudo o que não se espera ver no meio de um campo de futebol, ainda mais se sob eles estiverem esquifes, coroas de flores e gente chorando. A imagem causa comoção por si, mas toma uma intensidade desmedida se esse estádio for o Bento Freitas, os chorosos forem xavantes, um dos corpos presentes for o de um ídolo do presente e outros dois crias da casa, gente que neste campo cresceu, jogou, e agora se despede da vida.
É essa a cena que se vê na hora do almoço de hoje, quando milhares de pessoas vieram ao estádio para um espetáculo que em nada lembra a agitação das tardes de jogo. Há a mesma desordem em torno do estádio dos dias de jogos, na luta por vagas de estacionamento, mas sem a bravata da vitória, a corneta com os adversários, o clima ébrio e o cheiro de churrasquinho, sem precipitação para dentro do estádio, sem impaciência na bilheteria.
Vê-se olhares sem rumo, desolados. Braços cruzados e olhos marejados sob os óculos de sol. Lágrimas,
lamentos, palavras
desorientadas sobre o futuro do clube na competição que inicia em menos de uma semana e sobre o que será dos que sofreram na carne o mal que abala todos os espíritos agora aglomerados no gramado.
A maior parte do público pisa no tapete verde, de um verde alegre demais para a tarde da despedida de Milar, Régis e Giovani Guimarães. Outra parte senta às arquibancadas, na região reservada aos sócios. Uma parte se deixa permanecer, talvez por não ter o costume de ficar no Bento Freitas por menos de 90 minutos. Outra parte alimenta um fluxo lento e silencioso, que, orientado por um cordão de isolamento, adentra o estádio, vence o alambrado, dá a volta nos gazebos e retorna ao portão de saída.
É uma tarde rara na Baixada.
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