| 11/01/2009 12h26min
Depois de um ano com tanta tristeza e melancolia invadindo o coração dos amantes da verdadeira rivalidade Gre-Nal, aquela das duas torcidas dividindo o estádio meio a meio, sem barbárie de espécie alguma, surge um clarão de esperança no horizonte. Em Bento Gonçalves, Inter e Grêmio convivem.
Clube, dirigentes, jogadores e, sobretudo, torcedores. Ainda é só o começo dos 11 dias de cohabitação de pré-temporada na cidade, mas os exemplos já sorriem nas ruas.
Primeiro, o contexto. As delegações de Inter e Grêmio não estão apenas na mesma cidade. Isso já acontece em Porto Alegre, e durante o ano todo. A cidade da uva e do vinho tem 100.643 habitantes, conforme dados do IBGE de 2007. Porto Alegre conta 1,42 milhão. É como se o Santos de Pelé e o Botafogo de Garrincha resolvessem treinar juntos na Capital gaúcha nos anos 60. Bento está excitadíssima e orgulhosa. A secretária de Turismo, Ivane Fávero, se orgulha até das placas dos carros por estes dias.
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Pode ver: há placas de Garibaldi, de
Caxias, de Portão, de Porto Alegre. De Goiânia! Até do Mato Grosso! – exclama a secretária.
Outro detalhe importante: os hotéis que abrigam os jogadores estão separados por menos de mil metros de distância. O que significa dizer que torcedores gremistas e colorados cruzam pelas vias de acessos na mais absoluta civilidade. Alguns até se cumprimentam e tiram fotos juntos. Em tempos de Polícia Federal caçando torcedores que disparam tiros uns nos outros, é algo para ser festejado.
É neste contexto que se dá a disputa Gre-Nal verdadeira e deliciosa: quem é capaz de mostrar mais paixão pelo seu clube? Colorados? Gremistas? Vá ao calçadão da Avenida Marechal Floriano, espécie de Rua da Praia de Bento. É só estaquear em frente à Prefeitura e ligar o cronômetro. Não dá 15 segundos sem aparecer um torcedor com o corpo embandeirado. Ah, mas no Centro não vale, alguém dirá. Se afaste até alguma rua vicinal. A contagem excederá os 15 segundos, tudo bem, mas jamais passará de um
minuto. Em última
instância, olhe para o alto.
Marcos Rafael Boldoni e Nélvio Detoni são vizinhos em um prédio de três andares na Rua Florianópolis. Detoni, colorado, resolveu desfraldar uma bandeira na sacada para recepcionar o Inter. Marcos, gremista, viu e disse para Sílvia Marcon, a namorada:
– Vou botar uma maior do que a dele na nossa sacada.
Colocou uma que Detoni considera apenas mais comprida, não maior, mas vá fazer os dois entrarem em consenso de medidas. Certo é que os dois não tiram as bandeiras nem quando desaba chuvarada com vento e frio. Foi assim na manhã de sexta-feira. Já pensou alguém ver o azul ou o vermelho reinando sozinho no prédio? E de frente para a rua, local de ampla visibilidade? Então, elas, as bandeiras, ficam ali, companheiras, faça chuva ou faça sol, uma do ladinho da outra.
– A nossa convivência é show de bola. Não tem problema nenhum – diz Detoni.
O prefeito de Bento Gonçalves, Roberto
Lunardelli, está tão orgulhoso que promete um lance de efeito para
a próxima quarta-feira. É quando os vereadores votarão projeto do Executivo tornando a pré-temporada Gre-Nal um evento oficial do calendário turístico da cidade.
– Vamos encher as galerias da Câmara de gremistas e colorados. Todos misturados! – anima-se Lunardelli.
O convívio de 11 dias de Inter e Grêmio em Bento ainda está só no começo, mas exemplos como o da cronometragem no calçadão e o dos vizinhos de sacada atestam que ainda há alguma esperança contra a barbárie no futebol. “Sim, é possível”, parece ser o recado de Bento Gonçalves.
Convivência
Esta é a primeira vez que Bento recebe simultaneamente os dois maiores clubes do Estado em todo o período de trabalho. Em 2006, quando o Grêmio encerrava a sua preparação o Inter a começava. Ficaram cinco dias juntos. Agora, serão 11.
Nélvio Detoni desfraldou uma bandeira na sacada de seu apartamento para recepcionar o Inter
Foto:
Valdir Friolin
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