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 | 08/11/2008 22h59min

Time sofre pressão da torcida antes de confronto com o Palmeiras

Alguns dos torcedores queriam "chutar o balde", mas prevaleceu a vontade de evitar confusão

Leandro Behs e Luís Henrique Benfica  |  leandro.behs@zerohora.com.br, luis.benfica@zerohora.com.br

A insatisfação estava represada desde a derrota para a Portuguesa, no dia 18 de outubro. Até que, na terça-feira, dia 4, após o empate com o Figueirense e a perda da liderança do Brasileirão, integrantes da torcida Geral, do Grêmio, decidiram fazer uma cobrança direta aos jogadores.

Aquele encontro, no pátio do Olímpico, provocou constrangimento. Se dependesse de Celso Roth, aliás, ninguém cobraria nada de seus jogadores. O problema é que a direção defendeu o direito dos sócios de se manifestar.

— Há tempos o pessoal já vinha me pedindo para marcar um encontro com os jogadores. Mas eu entendia que não era o momento. Terça-feira, decidimos agir — relata Rodrigo Rysdyk, 30 anos, o Alemão, um dos organizadores da torcida Geral.

Apesar do desejo de alguns dos torcedores de “chutar o balde”, prevaleceu a vontade da maioria de evitar confusão. Depois de tentar cruzar o portão do gramado suplementar, abortada por nove seguranças, o grupo concordou em esperar pelo fim do treino para conversar com os jogadores.

— Em nenhum momento pensamos em invadir — assegura Eduardo Adriano, 25 anos.

— Temos crédito para cobrar. Mesmo com os maus resultados, continuamos colocando uma média de 30 mil pessoas em jogos no Olímpico — completa Bernardo Kraemer.

O jogo decisivo deste domingo contra o Palmeiras, no Parque Antárctica, é o primeiro depois da afronta da torcida.



Outubro - Pela “sacudida”

As derrotas para a Portuguesa, dia 18, e Cruzeiro, dia 29, provocam inconformidade na torcida Geral. O empate com o Figueirense, domingo, dia 2 de novembro, em pleno Estádio Olímpico, arranca a liderança do Grêmio e angustia os torcedores.

As principais lideranças da Geral tomam uma decisão depois do empate: é preciso dar uma “sacudida” no grupo de jogadores para acordá-lo, enquanto a possibilidade de título ainda existe.

— Queríamos saber deles as razões para a mudança de atitude dentro de campo nas últimas partidas. O time não tinha a mesma vibração do primeiro turno. E pensamos no que poderíamos fazer para ajudar — relata Eduardo Adriano, 25 anos, que trabalha como gerente bancário.

4 de novembro - No Olímpico

Na terça-feira seguinte ao empate com o Figueirense, por volta de 15h, 20 integrantes da Geral encontram-se no Bar da Bete, na área interna do Estádio Olímpico.

De bermudões, camisetas, tatuagens do Grêmio nos braços e nas costas, além de tênis de marcas caras, o grupo está em reunião. O objetivo é fazer um balanço da festa de sete anos da torcida, realizada em 31 de outubro, em Cachoeirinha – com a presença de MCs cariocas e chefes de organizadas do Goiás, Botafogo e Atlético-MG.

Decidem que, após a reunião, conversarão com os jogadores. Deixam o bar, às 16h, dirigem-se até a sala da torcida, localizada ao lado do Portão 10 do Olímpico, e voltam para o estacionamento do estádio.

Lá, encontram o diretor-executivo, Rodrigo Caetano, e solicitam a audiência. Fica decidido que ela se dará após o treino, que se iniciaria em poucos minutos.

16h15min - A barreira

Mais exaltados, alguns torcedores ignoram o pedido de Caetano e tentam antecipar o encontro com os jogadores. Seguem em direção ao gramado suplementar, onde o time treinava. Vendo a movimentação, dois seguranças se postam na frente do portão que dá acesso ao campo, impedindo o grupo de entrar. Outros sete vigilantes chegam em seguida. Também aparece o coordenador de segurança do Grêmio, coronel Nelson Rodrigues, que acalma o grupo.

— Eles paralisariam o treino, seria constrangedor — conta um segurança do clube, pedindo anonimato.

— A gente só quer conversar. É a última chance de dar um “sacode” nos caras — disse um dos torcedores, enquanto ameaçava fotógrafos.

17h43min - A comunicação

O treinamento no campo acaba, Roth deixa o gramado e vai para o vestiário. Sua preocupação é com a entrevista coletiva na sala de conferências. Sentados no gramado, os jogadores recebem a comunicação de André Krieger, Luiz Onofre Meira e Rodrigo Caetano: devem atender os torcedores no pátio do estádio.

17h48min - As cobranças

O encontro se inicia. Diferentemente do que diriam os jogadores, a cobrança foi áspera. Durante os sete minutos do encontro, algumas das frases pronunciadas:

— Pô, vocês estavam com o título na mão. Não podiam ser ultrapassados pelo São Paulo, um time que fama de amarelão!

— Se vocês têm algum problema interno, deixem para resolver depois. Pensem um pouquinho em nós!

— Se o time terminar bem o campeonato, vocês terão o contrato renovado e ainda ganharão aumento!

Souza, um dos mais abordados, faz uma frase curta:

— Estamos com vocês — diz.

Na dispersão, torcedores para um lado, jogadores para o outro. Antes de chegar ao vestiário, porém, os atletas ainda escutam protestos de dois torcedores — sócios como os da Geral, mas estes barrados pela segurança antes de acessar o estacionamento do estádio —, que gritam “vamos ter vergonha na cara, seus m...”.

18h - Roth não aprova

Em meio à coletiva, o técnico Celso Roth é questionado sobre a conversa dos jogadores com a torcida, que se desenrola naquele momento. Diz não ter sido informado a respeito. E deixa claro: não aprova a decisão dos dirigentes de permitir o diálogo entre torcedores e jogadores. Disse entender que a ocasião indicada para manifestações desse tipo é o jogo.

Ainda assim, o técnico conta com a admiração de Rodrigo Rysdyk. Ele torce pela permanência de Roth em 2009.

— Só espero que ele faça força para ganhar do Palmeiras. Não quero que o chamem de cavalo paraguaio, que larga na frente e termina lá atrás — afirma.

18h20min - A explicação

Enquanto alguns jogadores concordam com as cobranças dos torcedores, outros demonstram constrangimento com a situação. O vice de futebol, André Krieger, lança mão de pelo menos três argumentos para justificar a permissão do encontro. Primeiro, seguiu-se uma prática já estabelecida no clube, de dar acesso aos protestos da Geral. Segundo, os descontentes são sócios, logo, pagam os salários dos atletas, e têm direito a reivindicar. Terceiro: naquele momento, eles são 20. Depois, poderão ser 50, se a manifestação fosse contida.

5 de novembro - Mulher barrada

Após a invasão dos 20 da Geral ao pátio do Olímpico, a quarta-feira, o dia seguinte à ação do grupo de torcedores, é de cuidados redobrados. Roth volta a fechar o treino.

No estacionamento, duas barreiras móveis são protegidas por quatro seguranças. Tudo para evitar um novo – e talvez mais veemente – protesto. Orientados a “não deixar nenhum estranho passar”, os guardas impedem até mesmo Suzana, a mulher do zagueiro Willian Thiego, de buscá-lo após o treino. Precisa telefonar para o marido e explicar a situação. O jogador não esconde a irritação, e o incidente é resolvido depois que Thiego deixa o vestiário de calção e chinelos de dedo para liberá-la da barreira.

A torcida que intimou atletas

A ação de terça-feira foi coordenada pelos principais líderes da torcida organizada, conhecidos como “Comando da Geral”, cuja idade varia de 23 anos a 33 anos. Entre eles há um gerente bancário, um barman, um contador e um pequeno empresário.

Além disso, há três torcedores profissionais, ou seja, que recebem salário proveniente dos próprios recursos da torcida organizada. Os profissionais ficam 24 horas à disposição da Geral, para diferentes tarefas.

A oitava liderança é um estudante universitário de 23 anos e conselheiro eleito do clube. Segundo o departamento jurídico do Inter, ele está sendo processado por depredação do patrimônio. Em 2006, o conselheiro teria quebrado o relógio do centenário do clube rival, na área externa do Beira-Rio, em 20 de agosto – quatro dias após a conquista da Libertadores da América.

Não é a primeira vez que a Geral pressiona os jogadores. Dia 17 de abril do ano passado, 30 torcedores ignoraram os seguranças e cobraram o grupo após o 3 a 0 sofridos diante do Caxias no estádio Centenário, pelas semifinais do Gauchão. O tom foi mais agressivo do que o de 2008.

Autorizados pela direção, os torcedores permaneceram encostados nos carros dos jogadores enquanto estes treinavam. A abordagem ocorreu ao anoitecer, quando o grupo deixava o vestiário.

Hoje, em torno de 6 mil sócios integram a Geral. Para o jogo deste domingo, a mobilização é grande.Cinco ônibus deixaram Porto Alegre para acompanhar o Grêmio no Parque Antárctica.

 
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