| 04/09/2008 07h46min
Fechada a janela de transferências para a Europa, cujas rajadas de vento produziram estragos consideráveis no Inter, desde a derrota de domingo, para o Sport está em curso uma operação silenciosa para tentar salvar o ano. O objetivo é imprimir mão-de-ferro no vestiário, acometido de alguns comportamentos individuais que desagradaram aos dirigentes.
É a missão que caberá ao técnico Tite e ao assessor da presidência Fernando Carvalho, produto de uma reunião sigilosa da comissão técnica (Tite, o auxiliar Cléber Xavier e o preparador Fábio Mahseredjian) e os homens do futebol, aí incluído o presidente Vitorio Piffero. A avaliação foi de que o Inter estava mais desfocado do campeonato do que um fotógrafo com grave miopia.
Mesmo os jogadores de menor expressão julgaram que poderiam ser alvos de propostas concretas do Exterior. Assim, se Guiñazu, Alex e Nilmar perderam a linha ao não terem sido vendidos, imagine Wellington Monteiro, Edinho ou Danny Morais, que receberam meras sondagens em vez de propostas concretas de milhões de euros. Nesse sentido, a saída do técnico Abel Braga para o Al-Jazira, dos Emirados Árabes, ajudou. O sonho era de que, por indicação do ex-técnico, os petrodólares jorrassem na vida de cada um deles.
Carvalho se recusa a entrar em detalhes sobre a crise. Mas coloca o peso dos títulos da Libertadores e do Mundial sobre uma promessa:
– Anota aí e me cobra depois: hoje é 3 de setembro. Em um mês, tudo estará diferente. Em termos de desempenho e resultados.
Alguns episódios específicos também contribuíram para o sentimento de vestiário desfocado. Daniel Carvalho foi visto em um famoso bar da Zona Sul após o último Gre-Nal da Copa Sul-Americana. Não fez nada de errado, é verdade, mas no dia seguinte, às 6h, deveria estar no Salgado Filho para a viagem até Recife. Dirigentes e comissão técnica esperavam que ele descansasse o máximo possível, já que trabalha para recuperar a parte física. Vinha entrando em todos os jogos, mas contra o Sport ficou no banco. Ontem, mesmo sem os titulares, treinou no time reserva.
O empresário de Nilmar, Orlando da Hora, chegou a viajar no mesmo vôo da delegação no trajeto São Paulo-Porto Alegre na volta de Recife, segunda-feira. Isso menos de 24 horas depois da derrota para o Sport e com o jogador seduzido por proposta milionária. Vinha tratar da venda para o Palermo, frustrada por Piffero, que resistiu aos euros e bancou Nilmar. Como os dois devem ter falado de tudo durante o vôo, menos sobre o que deu errado na Ilha do Retiro, dirigentes e alguns jogadores não gostaram de ver os dois juntos naquela circunstância.
Outros episódios mostram que é preciso mais controle no vestiário. A bronca pública de Índio em D'Alessandro, depois de o argentino assistir a passagem de um adversário em direção ao ataque, é um deles. Exemplo de respeito aos companheiros, Índio explodiu. Ontem, admitiu o exagero e negou que a cobrança tenha prosseguido no vestiário.
– Realmente cobrei dele. Cobrei meio forte até, fiz gestos e tudo o mais, mas depois nos acertamos ali mesmo – afirmou Índio.
No Beira-Rio, o comentário mais comum é de que o menos culpado é Tite, ainda que alguns jogadores descontentes comentem nos bastidores acerca de um suposto cansaço com a "falta de objetividade no discurso". A frenética compra e venda de jogadores, com alguns contratados sem jogar há algum tempo, estão na conta da direção. Mas a pressão sobre Tite deverá aumentar caso não vença a Portuguesa no sábado e imprima uma recuperação mínima ao time na tabela. Mesmo que, agora, Tite tenha Carvalho ao seu lado na tarefa de reordenar o vestiário.
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