| 16/06/2008 20h07min
Uma fraude envolvendo a emissão de carteiras de motoristas é investigada por autoridades gaúchas e uruguaias. O esquema foi descoberto pelo Departamento Estadual de Trânsito (Detran) do Rio Grande do Sul, que repassou o caso ao Ministério Público Estadual. Segundo apurações preliminares, a farsa consistia em validar no Brasil habilitações obtidas em Rio Branco, no Uruguai, sem a realização de exames práticos e teóricos.
Para isso, um despachante de Jaguarão conseguia comprovantes de residência uruguaios falsificados, uma das condições exigidas para transferir a carteira para o Rio Grande do Sul. Ao examinar os papéis, funcionários do Detran perceberam que a maior parte das contas de água e luz tinha o mesmo código de barras.
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O órgão gaúcho afirma que não validou nenhuma das habilitações. Mais de 60 casos suspeitos foram encaminhados ao promotor Flávio Duarte, da Promotoria Especializada Criminal, em Porto Alegre.
— A abrangência (do esquema) é em toda a fronteira sul do Estado, a fronteira com o Uruguai, Jaguarão, Santa Vitória do Palmar e Chuí — declarou o promotor.
Com base nas informações coletadas pelas autoridades até agora, a reportagem conseguiu localizar, em Jaguarão, um despachante que intermediava a fraude. Ele admitiu que pagava propina a um funcionário da prefeitura uruguaia, em troca das carteiras frias. O custo do "serviço" para os brasileiros chegava a até R$ 1,5 mil.
— Pago tudo pro cara, lá, 800, 900 "pila". Não é só eu, tem mais gente. Não é aqui, só lá, têm várias pessoas — disse o despachante conhecido por Nego, sem saber que estava sendo gravado.
Uma das "clientes" do despachante é a comerciante
Eva Regina da Silva. Ela contou à reportagem ter pago R$ 1 mil ao
escritório de Nego. Exibindo o comprovante de endereço uruguaio falso, admitiu que nunca residiu no país vizinho. A mulher explicou as razões de ter optado pelo caminho da fraude:
— Eu fiz três vezes o teste teórico e de direção aqui. E me rodaram por um simples sinal — contou.
Sonhando em portar uma habilitação válida no Brasil, outro morador de Jaguarão pagou R$ 800 pelos serviços do escritório, mas não recebeu nem a carteira uruguaia.
— Procurei pelo lado mais fácil. Acabei me ralando, né? — lamentou o desempregado.
Na prefeitura de Rio Branco, o caso também está sob investigação. As autoridades acreditam que as carteiras compradas por brasileiros não são registradas no órgão, responsável pela emissão das habilitações na cidade.
Para o vereador uruguaio Julio Wasen, os espelhos foram desviados por funcionários e depois preenchidos pela quadrilha. Dois servidores foram afastados das funções.
— Imagina, em nove anos, a quantidade de carteiras que foram
passadas para o Brasil falsificadas — diz Wasen, responsável por funções executivas na estrutura uruguaia.
No esquema, carteiras falsas de habilitação eram retiradas por brasileiros no Uruguai
Foto:
Ronaldo Bernardi
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