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 | 03/06/2008 06h30min

Abel sofria com desgaste no vestiário do Inter

Há duas semanas, técnico comentava com amigos sobre proposta do Al-Jazira

Diogo Olivier  |  diogo.olivier@zerohora.com.br

Para efeito externo, o discurso segue um tanto monocórdico. Abel Braga saiu para os Emirados Árabes e restou um sentimento de perda pelo técnico amigo dos jogadores. Mas esta não é toda a história.

Abel sofria com o desgaste no vestiário. Sobretudo com os garotos das categorias de base, que não tinham chance mesmo que arrasassem nos treinos. Ontem, na despedida oficial do técnico, dois episódios deixaram isso bem claro. À certa altura, um funcionário brincou com Adriano, atacante escalado na lateral-direita contra o Sport, no último sábado.

– Fala, meu lateral!

– Tá louco. Pô, me põe cinco minutos, mas me põe na minha, meu! – devolveu Adriano.

Não só a molecada (Taison, Guto e o centroavante Walter estão neste grupo) sentiu o desconforto. O episódio da saída de Abel também proporcionou um certo mal-estar no andar de cima, embora o discurso oficial sugira o contrário. Há pelo menos duas semanas o ex-técnico já comentava com amigos sobre a proposta do Al-Jazira. Dava detalhes do prazo: 10 meses.

Aos poucos, o segredo foi se alargando. Inclusive entre os jogadores, no Beira-Rio. Dias antes de o Inter enfrentar o Sport na Ilha do Retiro, o empresário Jorge Machado foi a Abu Dhabi, capital dos Emirados Árabes, tratar da transferência de Abel. Enquanto o Inter decidia o seu futuro na Copa do Brasil, portanto, o mundo árabe já fazia parte do projeto do ex-treinador colorado. Ontem, questionado se tinha conhecimento das negociações adiantadas de Abel com o Al-Jazira, Giovani não moveu um músculo sequer da face.

– Não.

– O senhor só tomou conhecimento dele no próprio domingo mesmo? – insistiu ZH.

– Só no domingo à tarde – respondeu Luigi.

Ontem, na despedida oficial, Abel se despediu dos jogadores e fez questão de cumprimentar um a um pessoalmente. Em seguida, protagonizou uma cena surreal. Fez um "pronunciamento". Algo usual na vida de ministros, presidentes ou chefes de Estado em rede nacional de rádio e TV, mas um tanto esquisito para um treinador de futebol. Os jornalistas não puderam perguntar. Abel elogiou o Inter e repetiu o que dissera na véspera.

Os líderes – Fernandão, Clemer, Iarley, Magrão – não falaram na despedida. E deixaram claro: não querem repetir uma experiência como a de Alexandre Gallo, no ano passado, de jeito nenhum.

– Vamos dar todo o apoio ao Guto Ferreira. É melhor esperar uma ou duas semanas até a direção escolher um nome para ficar no Inter por muito tempo – avisou Fernandão.

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