As condições no interior do quartel-general do líder palestino Yasser Arafat, em Ramallah, na Cisjordânia, fica pior a cada minuto. Faz frio, falta comida e já não há água sequer nos banheiros. Uma semana depois de entrar no complexo da Autoridade Nacional Palestina (ANP), a voz do gaúcho Mário Lill, líder do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), denuncia o cansaço.

– A gente praticamente não dorme. Dá apenas umas cochiladas. É uma tensão permanente. A qualquer momento você não sabe o que pode acontecer. Há muita movimentação dos tanques do lado de fora, disse Lill neste domingo, por telefone, à reportagem de Zero Hora.

Em visita à Cisjordânia como parte das comemorações do Dia da Terra (30 de março), Lill acabou envolvido no conflito do Oriente Médio no último dia 31, quando juntamente a outros 35 ativistas de organizações não-governamentais estrangeiras ingressaram no sitiado QG de Arafat a fim de prestar solidariedade ao líder palestino. Na ocasião, o gaúcho entregou uma bandeira do MST a Arafat. Desde então, o grupo permanece no quartel para servir de escudo humano em uma eventual invasão pelo exército israelense.

Lill se disse disposto a permanecer junto a Arafat até o fim do cerco israelense. Alegando questões de segurança, Lill afirma não poder detalhar o local onde está confinado. Os 35 ativistas, estariam em uma sala de cerca de 12 metros quadrados, a poucos passos do escritório de Arafat. Móveis foram amontoados nas janelas, a fim de impedir a visibilidade por parte dos israelenses. Tanto de dia quanto de noite, a luz é mantida apagada para evitar que a movimentação seja percebida por franco-atiradores.

O cardápio diário de Lill tem sido pão árabe e água, cada vez mais racionados. Diariamente o grupo de Lill se encontra com Arafat, na sala presidencial. Nestas reuniões, o líder palestino descreve a situação nas cidades palestinas ocupadas e relata as manifestações de apoio que recebe do Exterior, inclusive do Brasil. No sábado, o prédio foi alvo de disparos do exército israelense, mas ninguém ficou ferido:

– Foi um princípio de ataque. Faz parte da guerra de nervos, completa Lill.