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 | 14/08/2005 23h03min

Collor pensou em cometer suicídio após o impeachment

Ex-presidente diz que foi demovido do ato extremo por um conselho de Brizola

O ex-presidente Fernando Collor de Mello, eleito para a Presidência do Brasil em 1989, diz que pensou em se suicidar após ser cassado do cargo, em 1992.

Em entrevista exibida na noite deste domingo pelo programa Fantástico, da Rede Globo, Collor lembrou que aguardou a decisão do Congresso Nacional sobre o processo de seu impeachment sozinho, em sua sala no Palácio do Planalto. Em silêncio e na penumbra, Collor diz ter escutado um rumor forte, comparado ao da multidão comemorando um gol em um estádio de futebol,  ao final da sessão deliberativa do Congresso, quando jovens comemoravam em Brasília a aprovação da cassação do presidente.

Ele diz que não assistiu e nem ouviu a votação, mas que ao ouvir as comemorações, falou para si mesmo:

– Estou perdido.

Neste momento, diz Collor, ele teria pensado em acabar com a vida.

– Eu pensei em dar fim a minha vida. O sofrimento era atroz, cruel, muito forte. O que me demoveu do ato foi o instinto de sobrevivência e um conselho de Brizola – diz o ex-presidente.

O ex-governador do Rio Grande do Sul e do Rio de Janeiro Leonel Brizola teria lhe dado um conselho que o fez lutar contra o ímpeto do suicídio. O ex-presidente recorda que Brizola lhe disse ter acompanhado o sofrimento de Getúlio Vargas, que se suicidou em 24 de agosto de 1954, e pediu que Collor resistisse e não cometesse o mesmo ato.

– Brizola me disse para resistir e não cometer o desatino. No momento que pensei no ato extremo me veio à mente as palavras de Brizola e falei: “Vou resistir”  – diz Collor, abatido e com os olhos marejados com a lembrança.

Segundo o ex-presidente, ele teria gravado uma fita explicando os motivos que teriam lhe levado ao suicídio e dando recomendações à família. É algo pessoal, sem objetivos políticos e que está guardado ainda, diz ele. Segundo Collor, o seu difícil tráfego no Congresso teria propiciado a aprovação do processo de impeachment.

– Não teria sofrido a cassação se tivesse cortejado o Congresso e participado  de reuniões e jantares com parlamentares. Não sou dado a salamaleques e intimidades. Isso foi um erro no meu governo, o mau relacionamento com o Congresso – afirma.

Collor foi cassado em dezembro de 1992 por crime de responsabilidade fiscal e ficou oito anos impedido de ocupar qualquer cargo público. Foi julgado inocente no processo de corrupção pelo Supremo Tribunal Federal e concorreu, mais tarde, ao governo de Alagoas, sendo derrotado no primeiro turno.

Hoje, Collor diz que não irá mais se candidatar, pois está sem motivação e sem vontade de participar de um processo político eleitoral no Brasil. Questionado sobre se vê um toque trágico em seu governo ele confirma:

– Há sim características de uma tragédia grega na minha ascensão e queda. Cada um de nós é do tamanho da onde que nos carrega. Veio, de repente, uma onda enorme e me levou à presidência de um país fantástico como o Brasil. Esta mesma onda me tragou de volta e me jogou contra os rochedos – lamenta o ex-presidente.

TAHIANE STOCHERO
 
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