Ponta de lança de críticas à hegemonia do modelo de economia neoliberal e dos países mais ricos, o Fórum Social Mundial sentiu o gosto neste domingo do seu próprio veneno. Entidades ligadas a movimento negro patrocinaram um rápido protesto por mais espaço para expor suas propostas dentro da agenda do Fórum, que vai até terça-feira na Pontifícia Universidade Católica (PUCRS), em Porto Alegre. Os gritos inflamados dos manifestantes, que irromperam no saguão do Centro de Convenções da PUCRS, tumultuaram uma reunião da organização do Fórum num dos auditórios. Os negros alegam que suas oficinas temáticas ficaram confinadas à Universidade Federal do Rio Grande Sul (UFRGS), distante do palco principal do Fórum. Luiz Alberto Silva dos Santos, do Movimento Negro Unificado, ponderou que, pela condição sócio-econômica da raça no mundo, como a exclusão africana, os grupos mereciam mais espaço de discussão no evento mundial. Integrante da coordenação do Fórum, Carlos Tiburcio, informou que é definitiva a decisão de não divulgar uma carta final, mas que os movimentos podem lançar seus manifestos. Tiburcio esclareceu que a centralização das oficinas atendeu a uma reivindicação de última hora feita pelas entidades ligadas aos negros: – O que nos deu muito trabalho. Sem um documento com conclusões e propostas, o Fórum terá possivelmente um texto com as apreensões e aspirações dos grupos participantes dentro da meta proposta de busca de alternativas para um mundo melhor. Integrante da Organização Não-Governamental (ONG) Justiça Global, Maria Luiza Mendonça, diz que será um texto literário e de reflexão, mas que ainda não está fechado. Maria Luiza disse que o protesto dos negros é legítimo e garantiu que o esforço de acomodar todos os movimentos na PUC só não teve sucesso por limitação de espaço físico. Santos informou que um documento das entidades será divulgado nesta segunda-feira.

PATRÍCIA COMUNELLO