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 | 28/12/2008 14h10min

Da Baixada à Arena: Grêmio sai do Olímpico para seguir crescendo

Novo projeto encontra resistência de ex-presidente que viu estádio atual ser construído

Ana Acker e Isabela Vieira  |  ana.acker@rbsonline.com.br | isabela.vieira@rbsonline.com.br

Com os planos de construção da Arena, o Grêmio se prepara para trocar de casa pela terceira vez. A motivação para a mudança em curso não difere muito da que fez o Tricolor sair da antiga Baixada: é preciso mais espaço, conforto e modernidade. Mas o novo projeto dividiu os gremistas. De um lado, aqueles que querem ter um dos melhores estádios do mundo, construído do zero, como pretende o ex-presidente Paulo Odone. De outro, o também ex-presidente Hélio Dourado e os que não gostariam de ver o Olímpico ser demolido e nem ver a área do atual campo abrigar outro empreendimento.

A Baixada

O primeiro estádio gremista foi a Baixada, cujo terreno foi adquirido em 1904, exatos 50 anos antes da inauguração do Olímpico. O jogo inaugural ocorreu em 4 de agosto daquele ano, envolvendo os times principal e reserva do Tricolor. O terreno do campo localizava-se em uma área bucólica de Porto Alegre conhecida como Schützverein Platz, no Bairro Moinhos de Vento, ao lado do que hoje é o Parcão. Foi lá, em 18 de julho de 1909, que se realizou o primeiro Gre-Nal da história: goleada gremista de 10 a 0.

No ano seguinte, o vice-presidente do clube, Oswaldo Siebel, mandou cercar o terreno e abrir dois portões de acesso, o que permitiu a cobrança de ingressos. O primeiro pavilhão da Baixada foi inaugurado em outubro de 1912, entre as atuais ruas Dona Laura e Mostardeiro. Era uma espécie de arquibancada que abrigava cerca de 600 pessoas.

– Era uma construção de madeira, simples, mas de bom gosto. Serviu para abrigar sócios e convidados. Os demais (...) se acomodavam ao redor do campo em cadeiras, entre as árvores, nos barrancos, ou no interior dos primeiros carros com motor de explosão que podiam estacionar quase na beira do gramado – conta o jornalista Ruy Carlos Ostermann, no livro Até a Pé Nós Iremos.

O primeiro pavilhão durou até 1918, quando foi substituído por um segundo. O terceiro foi construído em 1944, quando o clube já planejava se mudar para um novo local. O tempo passou e a Baixada começou a ficar pequena para as pretensões do Grêmio e da torcida.

– A torcida do Grêmio começou a aumentar muito e nem cabia mais ali. Era um estádio que não tinha como se expandir para nenhum lado, estava espremido – explica Dourado.

Em 1950, o Grêmio deu um passo importante para a modernização do clube. Na gestão do presidente Saturnino Vanzelotti, adquiriu uma área no Bairro Azenha para a construção do estádio que substituiria o Fortim da Baixada, como era conhecida popularmente a primeira casa gremista. Terminava uma história de 50 anos, e começava uma nova era na vida do Grêmio.

O Olímpico

O projeto do Olímpico, do arquiteto Plinio Oliveira Almeida, foi escolhido em um concurso, e a construção terminou em 1954.

– A obra foi muito visitada pelos gremistas, que tinham um anseio grande de ter um templo que não fosse a Baixada, que já era muito antiga – lembra Dourado, que na época ainda era estudante do Colégio Anchieta.
 
As dificuldades para a conclusão, no entanto, foram muitas, como revelou Vanzelotti em entrevista à Revista Grandes Clubes Brasileiro, em 1971, citada no livro Até a Pé Nós Iremos:
 
– Precisaríamos de Cr$ 25 mil para terminar o Olímpico. Não havia de onde tirar o dinheiro. Fomos à Caixa Econômica Federal, que colocou as dificuldades para o empréstimo de Cr$ 8 mil. Apelamos ao Dr. João Goulart. Por meio do então presidente Getúlio Vargas, conseguimos o financiamento – disse o ex-presidente.

O jogo de inauguração ocorreu em 19 de setembro de 1954, diante do Nacional, de Montevidéu. O Tricolor venceu por 2 a 0, com gols do atacante Vitor. O time que atuou naquela data teve Sérgio, Roberto, Ênio e Orli; Sarará e Itamar; Tesourinha, Milton, Camacho (Vitor), Zunino e Torres (Jorginho). O público total foi de 15.273 pessoas.

A nova casa marcou o começo de um período de glórias, com 12 campeonatos conquistados em 13 disputados: o penta Gaúcho e Metropolitano de futebol profissional de 1956 a 1960, e o hepta gaúcho de 1962 a 1968.

Em 1976, já como presidente, Dourado percebeu que o estádio necessitava de melhorias e decidiu realizar a construção do anel superior, entre outras mudanças:

– O lado das gerais era descoberto. Então resolvemos partir para a cobertura. O Plinio Almeida trabalhava conosco no Departamento de Patrimônio e fez um estudo. Já que eu tinha ido para o Exterior e visto camarotes, como no Estádio Asteca (no México), achei que deveríamos partir para isso também – destacou Dourado.

Para viabilizar a construção, até campanha de cimento o clube fez:

– Tínhamos uma promoção que deu bastante dinheiro. Fizemos uma coisa fundamental, não só do ponto de vista de arrecadação, como de aproximação daqueles que são os donos do estádio, a torcida gremista. Corremos o Estado fazendo a campanha do cimento e fomos gratificados.

No dia 21 de junho de 1980, uma vitória de 1 a 0 sobre o Vasco da Gama em partida amistosa marcou a inauguração do estádio concluído, que a partir daquela ocasião passou a se chamar Olímpico Monumental.

A partir da década de 1980, o Grêmio foi bicampeão brasileiro, tetra da Copa do Brasil, bi da Libertadores e campeão do mundo, entre outros títulos. O Olímpico se tornou um verdadeiro templo gremista. Templo, com o futuro decidido. Antes de completar 60 anos, deverá ser demolido.

A Arena

A idéia da construção da Arena partiu do grupo do ex-presidente Paulo Odone. Na final da Libertadores de 2007, disputada contra o Boca Juniors, o dirigente defendeu a construção do novo estádio, afirmando que o Olímpico não tinha mais condições para sediar um evento como aquele.

– Isto que o Grêmio viveu hoje (a final da Libertadores) demonstrou para nós que eu estou certo em construir a Arena do Grêmio. O velho Olímpico não tem mais condições de sediar um espetáculo como este – disse Odone, em junho daquele ano.

As obras para a construção da Arena, aprovadas pelo Conselho Deliberativo do Grêmio, estão previstas para começarem em seis meses. Se ocorrer tudo bem, o clube se muda em 2012, quando entregará o Olímpico para a construtora do novo estádio. Para desgosto do ex-presidente Hélio Dourado, que um dia acompanhou a construção da atual casa tricolor e sonhava em ver ela adaptada às normas da Fifa:

– Pedi ao presidente que visse não só os projetos vindos de fora, mas que nos desse uma chance de um terceiro, de reforma do Olímpico, como foi feito no Maracanã. A minha voz não adiantou. Estrangeiro que vem para o Brasil nunca vem para perder. Nosso projeto é dos gaúchos, de Plinio Almeida, o arquiteto de todas as obras do Grêmio – declara Dourado.

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