Ao melhor estilo de Hollywood, a Superterça, o principal dia das primárias presidenciais americanas, se tornou um enredo de ação e suspense, especialmente no Estado americano da Califórnia. Para os pré-candidatos à presidência dos Estados Unidos, a Califórnia é a "jóia da coroa" do próximo dia 5, quando serão realizadas primárias em 24 dos 50 Estados americanos.

O resultado das primárias definirá os delegados que votarão nas convenções dos Partidos Democrata e Republicano. Em ambas, o Estado da costa oeste dos EUA fornece o maior número de representantes. Por isso, não é de se estranhar o forte impulso dado pelos pré-candidatos neste fim de semana a suas campanhas: os quatro republicanos — John McCain, Mitt Romney, Mike Huckabee e Ron Paul — e os dois democratas — Barack Obama e Hillary Clinton.



Neste domingo, Obama faz campanha nos Estados de Missouri e Illinois, mas nem por isso vai deixar a Califórnia de lado. Ele enviou suas três armas mais poderosas àquele Estado: sua esposa Michelle, Caroline Kennedy, filha do ex-presidente americano John F. Kennedy, e a rainha da televisão dos EUA e magnata da mídia Oprah Winfrey. Já a ex-primeira-dama Hillary deixou na Califórnia o seu marido, o ex-presidente Bill Clinton, percorrendo 50 igrejas enquanto ela faz campanha no Missouri e em Minnesota.

As últimas pesquisas acusam um empate técnico na Califórnia entre os dois democratas. O estudo, divulgado hoje e feito em conjunto pela agência de notícias Reuters, pela emissora de televisão C-Span e pelo instituto Zogby, dá a Obama uma pequena vantagem sobre Hillary, 45% contra 41%, mas a margem de erro pode levar a números iguais. Em nível nacional, uma pesquisa realizada pelo jornal The Washington Post e pela emissora de televisão ABC revelam força na candidatura de Obama, senador por Illinois, que teria diminuído em quatro pontos sua desvantagem em relação a Hillary, senadora por Nova York: 43% frente a 47%.

As regras do Partido Democrata prevêem que cada aspirante tenha direito a uma parte proporcional dos delegados em função dos votos obtidos, de modo que se Obama ou Hillary alcançarem 40% da preferência eleitoral, também terão 40% dos representantes da legenda em sua convenção. Já no Partido Republicano, isso nem sempre ocorre, dado que em alguns Estados o pré-candidato ganhador fica com 100% dos delegados do local.

Por isso, é cada vez menos provável que o próximo dia 5 consiga apontar uma clara vantagem no lado democrata. No republicano, as coisas também não estão claras, embora o senador pelo Arizona, John McCain, apareça como favorito em nível nacional. Em todo o território americano, McCain tem uma diferença de 24% sobre seu principal oponente, o ex-governador de Massachusetts Mitt Rommey, segundo a pesquisa conjunta feita por The Washington Post e pela ABC.

Entretanto, no sábado, Romney ganhou com ampla vantagem as primárias no Estado do Maine, com 53%, contra 22% de McCain. Ron Paul ficou em terceiro, com 19%. Na terça-feira, é pouco provável que McCain ganhe em todos os 21 Estados em disputa para os republicanos, dado que em algumas partes do sul, como Alabama, Geórgia e Missouri, há o favoritismo do ex-pastor batista Mike Huckabee, terceiro colocado nas pesquisas nacionais.

Romney só aparece como favorito em seu Estado, Massachusetts, apesar de ter assegurado hoje à rede de televisão CNN que só há lugar para dois na corrida para a candidatura republicana, e que Huckabee e Ron Paul deveriam abandonar a disputa. Além disso, o ex-governador acusou McCain de manter posições amplamente liberais, algo negado taxativamente pelo senador.

— Tenho um amplo histórico de posições conservadoras — disse ele à CNN.

Já Huckabee afirmou concordar com Romney sobre o fato de que "só há lugar para dois candidatos", mas, confiante em sua vitória nos Estados sulinos, disse que os nomes são os de McCain e dele próprio.

— É curioso que Romney tenha gasto mais de US$ 100 milhões na campanha e tenha obtido menos de 6% dos delegados até agora. Quase como eu, com a diferença de que gastei apenas US$ 7 milhões — afirmou Huckabee.