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 | 10/08/2002 19h03min

Incertezas colocam o acordo com FMI em xeque

O fôlego dado ao Brasil pelo acordo fechado com o Fundo Monetário Internacional (FMI) já está em xeque. Na sexta-feira, dia 9, a instabilidade voltou: o dólar fechou acima de R$ 3 e taxa de Risco Brasil passou dos 2 mil pontos básicos. O temor de que US$ 30 bilhões não sejam suficientes para domar o nervoso mercado brasileiro é parcialmente afastado pela maioria dos analistas. O empréstimo de emergência não elimina oscilações, mas deve ser suficiente para frear a queda livre do real.

– Mesmo com o acordo, vai continuar havendo uma certa volatilidade, porém a tendência de desvalorização descontrolada foi contida. Não há garantia de tranqüilidade – afirma Eduardo Gianetti da Fonseca, professor da Ibmec Business School.

Na avaliação do especialista, o socorro será efetivo porque a crise está mais ligada à retração do financiamento externo, principalmente no comércio exterior, do que à fuga de capitais. O acordo com o FMI, acredita Gianetti, permitirá uma reabertura das linhas de crédito para as empresas brasileiras, que deve normalizar a oferta de dólares. O doutor em Economia pela Universidade de Cambridge (Inglaterra) adverte que não se pode descartar uma sangria de divisas caso a incerteza política se agrave. Ele avalia que a declaração de Ciro Gomes (candidato do PPS) de que não é “domesticável”, pode ser vista como uma ameaça. Não bastasse a variável eleitoral, Gianetti lembra que o país tem problemas concretos para administrar.

– Na questão da vulnerabilidade externa, a fotografia do momento não é brilhante, porém o filme caminha para um desfecho positivo. Se olharmos as contas internas, é o contrário: a foto não é tão ruim, mas o filme é triste e pode terminar em lágrimas.

A instabilidade deve dominar o cenário econômico até meados do ano que vem, acredita Marcos Peano, sócio-diretor da consultoria Braxton. A volatilidade registrada sexta-feira teria se alimentado da percepção que o crédito internacional não deve se recompor de imediato. Terá a velocidade da definição da política econômica do próximo governo.

– Os investidores estão preocupados porque José Serra não decola nas pesquisas e Ciro Gomes está parecendo um problema maior do que o representado pelo Lula – diz Peano, ao analisar a reação pós-acordo do mercado.

Peano acredita que não é do interesse do Banco Central um dólar abaixo de R$ 2,70. Uma valorização do real pode reduzir as exportações brasileiras, já que os produtos nacionais ficam mais caros no Exterior e comprometem o saldo da balança comercial, explica.

– É importante que as exportações cresçam, porque o país terá menos investimentos diretos e menos crédito internacional no próximo ano – diz.

As variáveis políticas devem continuar influindo no comportamento da economia também na avaliação do vice-presidente da consultoria Quendian, Carlos Rosolen. O acordo com o Fundo resolveu o problema da especulação com o dólar este ano, mas não há garantias de que os US$ 24 bilhões previstos para 2003 realmente sejam liberados, sustenta.

– As condições da economia no próximo ano estão fortemente atreladas à definição das estratégias do novo presidente. Por enquanto, ninguém está disposto a investir em um país com um histórico de instabilidade – pondera.

A necessidade do novo acordo com o Fundo não é unanimidade. Para Reinaldo Gonçalves, professor de Economia Internacional da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), o acordo é prejudicial, porque deixa o país ainda mais frágil ao reduzir o piso das reservas do Banco Central para US$ 5 bilhões.

– O modelo é muito centrado na liberalização e na desregulação financeira. Enquanto não mexermos na ineficiência da economia, teremos crises cambiais recorrentes – critica.

Se têm avaliações muito distintas sobre a conveniência do acordo, Gianetti e Gonçalves coincidem em afirmar que o Banco Central não pode atingir o piso de reservas permitido pelo acordo com o FMI.

– O fundamental é que as forças políticas de oposição pressionem o governo para não mexer nas reservas, que devem chegar ao fim do ano acima de US$ 30 bilhões – diz Gonçalves. – O fato de ter reduzido o piso não significa que vá usar toda essa folga. Com um mínimo de prudência não vamos ficar só com US$ 5 bilhões – avalia Gianetti.

LÚCIA RITZEL E MARTA SFREDO

 
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